segunda-feira, julho 19, 2021

Das velocidades...

Doze

Não me esqueci, nem por um segundo. 

Dispensa-se nota no calendário.

Ontem olhei-nos.

Porque era ontem.

De cada vez que o faço, nunca parece distante.

Estás aqui.

Comigo.

Doze.

Menos doze para nos vermos outra vez.

quarta-feira, julho 07, 2021

Let the games begin...!

E lá se deu início a mais uma volta ao sol... e é curioso como uma promessa de futuro, de ano novo, de início de ciclo invariavelmente traz à memória histórias do passado, de quando e como tudo começou. E eu ouvi-as, seguindo-lhes os compassos, repetindo com os lábios em silêncio as palavras que sei de cor, as expressões que sei de cor: o salto da cama de madrugada e o Fiat 600 vermelho a alta velocidade por Lisboa adormecida porque eu decidi que tinha chegado a hora; o médico, famoso guarda-redes da Académica que, perante a possibilidade de a minha vinda ao mundo interferir com o domingo de jogo do seu clube de coração na capital, fez acelerar o processo para que houvesse tempo para tudo; o grito que se ouviu antes do tempo, ainda dentro da minha mãe, e a raridade que o doutor afirmou que tal acontecimento era - "ui, este vai ser bonito..!"; o mesmo grito que o meu pai sempre afirmou ter ouvido mas nunca ter tido dúvida de não se tratar de interjeição típica de recém nascido que já levou ar aos pulmões, o ar do mundo cá fora, não... porque "parecia vindo do fundo de um poço"; a angústia da minha mãe que mal me viu porque "naquele tempo era assim, levavam-vos logo para o berçário" e que lhe deu pesadelos nessa noite onde se via perdida na maternidade em chamas, sem conseguir encontrar o caminho até mim; o dedo do meu pai que se apontou logo, sem hesitações, através do vidro, para o bebé que era o seu no meio de todos os outros porque "eu já tinha visto aquela cara", que era também a sua, a de irmãos e primos, traços de família muito nossos; a minha tia E. que tanto procurou que encontrou uma loja para prematuros no Lumiar onde comprou aquela que viria a ser a minha primeira vestimenta de sair à rua, não porque não tivesse completado as nove luas mas porque nasci pequena, o que me valeu a alcunha de "mosca" durante uns tempos; o nome que já estava decidido desde sempre, caso fosse rapariga, e o urso de peluche oferecido pelo meu pai à minha mãe nesse dia, que recebeu o nome do rapaz que eu não era, e que ainda hoje existe; o primeiro banho que a minha mãe teve medo de me dar e que ficou a cargo também da tia E.; o desejo realizado da progenitora de ter uma rapariga de olhos claros e a indiferença do meu pai em relação ao género que eu viesse a ter... Tudo se revisitou, se recontou, ontem a uma só voz porque a outra só já a ouço dentro de mim, com o mesmo prazer no olhar de todos os outros anos...

Um dia antes ouvi a pergunta: estás preparada? Não hesitei em dizer que sim porque senti no imediato que sim. Estou preparada, para esta e qualquer outra volta, ao sol, à lua, ao mundo. Estou preparada para viver, sim, andar para a frente, correr mundo e emoções, beber dos instantes e das coisas pequenas, deslumbrar-me com as grandes. 

Ontem lá se deu início a mais uma volta ao sol e hoje, no rescaldo, verifico que nunca deixo de me emocionar com o amor que me têm e que me dão...  beijos, muitos beijos, bolo de aniversário levado à cama, abraços, sorrisos, mensagens, sms, gifs, telefonemas, vídeochamadas, gargalhadas de longe e de perto, telegramas cantados e sinais de fumo... foi tudo recebido, assimilado e acrescentado cá dentro. De verdade.

Sou uma sortuda que não se pode...