segunda-feira, maio 31, 2010

No mundo dos sonhos

Calor. O edredon que já não se adapta à época mas a humidade é saborosa e envolve o corpo, como sauna caseira. Vai e vem de quem dorme e acorda, quase sem acordar, e volta a cair no sono. "És tu? És tu, não és? Eu sabia, eu sabia que sim" e de mãos dadas seguimos até que te desprendes e sorris "espera, onde vais? vais-te embora?" e o teu sorriso diz-me que sim e que vais sem mim porque assim tem que ser. Angústia, angústia e os olhos a abrir levemente para receber a fina luz lá de fora que trespassa os cortinados. Voltando a fechar ainda te procuro mas já não te encontro. Encolho-me, fico ali sem saber o que fazer, a sensação de perda cada vez mais avassaladora "não quero voltar, não quero, fico aqui à tua espera". O calendário e as suas folhas mostrando os quadrados dos números, a folhear-se à minha frente, as datas que não quero ver porque eu não sou pessoa de datas e quero ser cada vez menos. Não quero datas formais de coisas nenhuma, não quero. Os acontecimentos têm o seu lugar no dia em que aconteceram e na nossa alma. Se depois faz uma semana, um mês ou um ano, não interessa. Não interessa que o tempo tenha passado, não interessa, só interessa o que está para a frente e o que levamos connosco, cá dentro, e o que está cá dentro não obedece às regras do tempo comum. Pode para sempre existir como se fosse presente, pode esfumar-se sem deixar rasto como se nunca tivesse acontecido. Levanto-me, tento desviar-me mas o calendário, daqueles em bloquinho, com números a vermelho, consegue sempre pôr-se à minha frente. Fico zangada, sinto a raiva a apoderar-se e dou-lhe um pontapé com toda a minha força. "Sai! Já disse que não te quero!". Consigo o meu propósito para depois ser transportada para aquela casa, da minha infância e não só, tão minha como eu. Sinto o cheiro, vejo as cores, é Verão. De repente, estão todos lá, curiosos com a forma como me apresento. Todos a querer chegar-se, para saber e integrar na sua vida, ansiosos até. "Mas... espera... eu não sei se quero, eu ainda não sei o que significa... esperem lá, não me pressionem!". Grito para que recuem, para que me deixem em paz. Estão a sufocar-me com as suas mãos, com os seu olhos, com o seu interesse em demasia e eu não me sinto confortável. "Basta! Não vou deixar! Há-de ser à minha maneira." Mas depois ouço a famosa frase "tens que tratar bem a vida para que ela te trate bem a ti e não tens tratado...". Medo, muito medo dos erros e das suas consequências que na boca dela são sempre definitivas e desastrosas. "Há alturas em que enveredamos por um caminho e isso define toda a nossa vida, não havendo volta atrás" ouço também. "Cala-te! Chega, não quero ouvir mais isso!" e fujo, de mãos nos ouvidos, porque as palavras já entraram e já feriram e eu não quero que entrem mais porque há olhares que já não me saiem da cabeça e outras palavras e gestos e expressões e por isso chega, já tenho comigo o bastante. Fujo e dou por mim num espaço aberto, cabeça encostada à gata felpuda tricolor e o seu padrão a pintar o céu. Sozinha, sinto saudades, enormes, imensas saudades de gente, de momentos, de conversas, de músicas que embalavam os meus dias, de planos, de sorrisos. Saudade que cai como um manto e que eu absorvo. E ali fico, no fofo, a sentir a dor que a saudade me dá, a saboreá-la em cada célula, testa enrugada, punhos cerrados, a tristeza a emoldurar os olhos. Mas a campainha começa a cutucar-me no ombro com o seu dedo indicativo. Cutuca, cutuca, cutuca... É o dia que chegou e quer começar a correr. É o dia que diz "por agora chega, logo à noite, quem sabe, há mais".

Frase do dia

"Usually when people are sad, they don't do anything. They just cry over their condition. But when they get angry, they bring about a change."
Malcolm X

(e eu, quando me zango, sou do piorio..!)

domingo, maio 30, 2010

Pedido

Gira mundo, gira, e faz-me girar também...

Busy, busy bee

Em resposta à pergunta: o que fazias se ganhásses o euromilhões?, eu respondo, sem sombra de dúvida, arranjava uma empregada que viesse cá todos os dias e deixava de ter que carregar feito mula com os sacos do supermercado e depois arrumar as compras e limpar liteiras de gatos e varrer e aspirar e fazer a cama e estender roupa e o diabo!!

Não nasci para isto...

sexta-feira, maio 28, 2010

A perder a paciência e, não tarda, o "tino" também!

Não dá. Por mais que me tente abstrair, por mais que tape os ouvidos com as mãos, por mais que ponha phones... não dá! A minha sala de trabalho é uma autêntica feira do relógio em ponto pequeno!!!! Mas não pequeno o suficiente...

Só que em vez de pregões temos: conversas ao telefone com advogados que estão a tratar do processo de captura de um ex marido tresloucado que lhe quer chegar a roupa ao pêlo; sermões ao filho adolescente sobre os testes e as notas "e o que é que estás a fazer em casa a esta hora??"; discussões com fornecedores; cusquices várias; histórias da vida de toda a gente, das próprias inclusivamente, com pormenores que se dispensavam; toques de telemóvel; comentários às notícias porque, vá-se lá saber porquê, hoje a televisão está ligada desde de manhã; "tricas" e maledicências ao telefone com esta e aquela que também pertencem à associação de pais da escolinha do filho e, pelo meio, organização com os restantes progenitores da festa de final de ano incluindo definição de quantos queques vão ser encomendados, se é Ice Tea ou sumo de laranja ou "Bongo" e qual o valor a pagar pelo palhaço!

Irra!!!

E cada vez mais lindos... ! ;)

Promotores da maior sardinhada do mundo querem juntar 10 mil pessoas

quinta-feira, maio 27, 2010

Fundo do mar

Quero ver
o fundo do mar
esse lugar
de onde se desprendem as ondas
e se arrancam
os olhos aos corais
e onde a morte beija
o lívido rosto dos afogados

Quero ver
esse lugar
onde se não vê
para que
sem disfarce
a minha luz se revele
e nesse mundo
descubra a que mundo pertenço

Mia Couto

Detalhes

Details in The Fabric
Jason Mraz ft. James Morrison

Calm down
Deep breaths
And get yourself dressed instead
Of running around
And pulling all your threads and
Breaking yourself up

If it's a broken part, replace it
If it’s a broken arm then brace it
If it's a broken heart then face it

And hold your own
Know your name
And go your own way
Hold your own
Know your name
And go your own way

And everything will be fine

Hang on
Help is on the way
Stay strong
I'm doing everything

Hold your own
Know your name
And go your own way
Hold your own
Know your name
And go your own way

And everything
Everything will be fine
Everything

Are the details in the fabric
Are the things that make you panic
Are your thoughts results of static cling?

Are the things that make you blow
Hell, no reason, go on and scream
If you're shocked it's just the fault
Of faulty manufacturing.

Everything will be fine
Everything in no time at all
Everything

Hold your own
And know your name
Go your own way

Are the details in the fabric (Hold your own)
Are the things that make you panic (Know your name)
Are your thoughts results of static cling? (Go your own way)

Hold your own
Know your name
Go your own way.

Are the details in the fabric (Hold your own)
Are the things that make you panic (Know your name)
Is it Mother Nature's sewing machine? (Go your own way)
Are the things that make you blow (Hold your own)
Hell no reason go on and scream (Know your name)
If you’re shocked it's just the fault (Go your own way)
Of faulty manufacturing

Everything will be fine
Everything in no time at all
Hearts will hold

Frase do dia

"O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo..."
Mário Quintana

quarta-feira, maio 26, 2010

Portugal, a comida e o Guiness

Maior pastel de Tentúgal do mundo tem mais de 10 metros

Nós somos lindos...!! :))

Em concha

E quando a cabeça cai na almofada e o corpo se espalha como se derretesse no colchão, a armadura desfaz-se e o que está cá dentro, antes confinado, espartilhado, vem à superfície e passa a correr pelo corpo livremente. Nesse momento, encaro, em silêncio para não incomodar, só comigo, e olho, olhos nos olhos, deixo-me levar, manuseio os sentimentos, as emoções, deixo que se sintam. Tenho esperança de assim os conhecer melhor e assim os combater melhor. Tenho esperança que se desfaçam um dia, de tanto serem manuseados. Deixo-os vir, ocupar o seu lugar, por mais que doa e dói, deixo-me cair no meio deles, sinto, deixo que invadam o espaço, deixo que não me deixem criar ilusões. Eles existem, estão lá, não adianta fugir, não quero fugir. Encolho-me, joelhos junto ao queixo, e espero. Espero e sinto. A esperança, nessa altura, esconde-se, as pontinhas de felicidade são abafadas, a noite traz o escuro e escurece-me. Espero e sinto, sinto e espero, até que o sono venha e me desligue.

terça-feira, maio 25, 2010

segunda-feira, maio 24, 2010

E dizia a F....

"Viste? E sobreviveste! Não tens orgulho de ti própria?"

Tenho, sim, tenho. Orgulho de continuar de cabeça erguida, apesar de tudo. Orgulho de ter crescido e aprendido. Orgulho de me ter conseguido manter fiel a mim mesma. Orgulho porque o desespero não levou a melhor, e houve muitos dias, muitos dias mesmo, dias negros e pesados, em que achei que estaria à beira de que isso acontecesse. E orgulho de ser quem sou e por isso conseguir ter à minha volta pessoas tão especiais.


(E se este não fosse um post sério agora começaria a cantar uma música antiga da Rua Sésamo que eu adorava e que rezava assim: "eu tenho orgulho, orgulho em ser uma vaca...!" :)))). Sim, consigo ser muito parva e sim, a música era mesmo cantada por uma vaca. O animal, bem entendido..!)

Hoje é dia B.

Já chegou!! :)

Frase do dia

"Uma história vivida não tem tempo de calendário - tem-no só no que se viveu."
Vergílio Ferreira

domingo, maio 23, 2010

Naif

Quando M.L. te diz: vou só levar aqui esta plantinha que deitaram fora... prepara-te! O mais provável é que, afinal, não seja só uma plantinha sejam duas, e que venham com vaso e terra, e... a pesar 379 kilos cada uma! E não, ela não vai mudar de ideias quando vir que metade da terra entornou e caiu em cheio nos teus pés enchendo os espaços que as sandálias deixam em aberto (aaarrgghh!), quando perceber que as plantas te arranham os braços e o que mais apanharem pela frente e que és bem capaz de dar um jeito à coluna daqueles que te impedem de levantar durante três dias. Não... o que ela vai dizer é: vá, vamos lá! nós conseguimos! caramba, que fraquinha me saíste!!

sexta-feira, maio 21, 2010

Meio mais um

Pois é, dragão, pois é. Podes continuar a fixar-me que eu aqui estou, sem desviar o olhar. Mas, a partir de hoje, também estou a sorrir... :)

Baltazar

Mais um "rei mago" a entrar na minha vida. Há demasiado tempo atolada em "fins", recebo agora, finalmente e de braços abertos, um "começo".

quinta-feira, maio 20, 2010

Poesia

Porque gosto deste poema, porque gosto deste autor, porque apesar de ser triste me faz lembrar uma fase muito boa da minha vida em que o li vezes sem conta, porque foi ele que me "apresentou" a Eugénio de Andrade.

Adeus


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos, no tempo em que o teu corpo era um aquário, no tempo em que os meus olhos eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor..., já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar. Dentro de ti não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.
Eugénio de Andrade

Frase do dia

"Entra no teu peito: bate e pergunta ao teu coração o que sabe ele."
William Shakespeare


Já bati, já bati... continuo a bater... acho que o meu não sabe grande coisa...

quarta-feira, maio 19, 2010

"O difícil não é imitar a grandeza com a desmesura. O difícil é que a alma não seja anã."

Disse Vergílio Ferreira. E digo eu. Principalmente agora que vejo, como nunca!, como uma alma pode ser anã.

Todos vemos a maldade que há no mundo, todos assistimos a ela, mais de perto, mais de longe, todos os dias. Todos somos envolvidos por ela, todos a partilhamos quanto mais não seja porque é neste planeta que ela mora e nós também. Vejo-a como aqueles dragões de papel japoneses, serpenteando pelo ar entre as pessoas, tocando uns e outros, minando aqui e ali, vemos nas notícias, nos jornais, nas bocas do mundo. Mas, que me lembre, no seu serpenteio, nunca o dragão tinha parado, voltado o focinho e olhado directamente para mim. Nunca, nas suas voltas, me tinha fixado com os seus olhos amarelos como agora. E ali está ele, ainda ao longe, fazendo ruídos ainda meio surdos, velados mas encarando-me como quem diz: és tu agora a minha presa. E aqui estou eu, pela primeira vez a sentir o que é ter a maldade pura frente a frente. E é estranho, muito estranho. Mas, estranhamente também, não tenho medo. Não sei se alguma vez vou conseguir destronar o dragão de papel que serpenteia com os seus olhos amarelos, não sei, mas o que é certo é que não tenho medo. Aqui fico, a encará-lo também, calma, segura, a habituar-me a viver com a sensação de ser alvo de puro veneno, a não tentar arranjar explicações porque isto nada tem de lógico, simplesmente parada também, a fixá-lo. Vem, dragão, vem. Cá te espero.

terça-feira, maio 18, 2010

Prece

Há pessoas doentes. E há pessoas cuja mente é tão deformada, tão pequena, tão triste, tão desiquilibrada, tão demente que não existe palavra no dicionário para as classificar. E não é que trabalho com uma delas?!? Já estou como o outro: Deus me dê paciência porque se me der forças um dia destes eu estrangulo-a!!!

De costas voltadas

Sim, sei, lembro-me. E, propositadamente, esforço-me para olhar para outro lado. Porque não vale a pena olhar de frente, encarar mais uma vez porque sei bem o que lá está, sei de cor, sei de tantas vezes ter visto e revisto. Portanto, para quê? Olhar de novo para quê? Prefiro olhar noutro sentido, deixá-lo para trás da nuca. Sei que está lá, sei talvez melhor que ninguém, sinto a sua energia, o seu sopro mas prefiro ignorar. Já o olhei muitas vezes, já me cansei de olhar, já não há nada de bom que possa tirar dali por isso chega. Conscientemente, viro a cara.

Só isto...

"Pela centésima vez começo um diário. Diabo! Não me serei capaz de obrigar a reflectir cinco minutos por dia?/.../ o diário escrito com fins de publicação é idiota e pedante. Mas eu não vou escrever para publicar. Quero apenas tornar claras as duas ideias que por dia me couberem, ou forçá-las a nascer se me não couberem. Só isto!"

Vergílio Ferreira

segunda-feira, maio 17, 2010

Balanço

Em pouco mais de 24 horas já emborquei os quadradinhos de chocolate preto que restavam, mais de metade de uma lata de leite condensado cozido, uma queijada de leite e uma fatia de bolo de laranja. Aposto que se alguma melga tiver a ousadia de se aproximar de mim agora é bem capaz de se tornar diabética...

Um dia...

"...Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra é bobagem. Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela...
Um dia nós percebemos que as mulheres têm instinto "caçador" e fazem qualquer homem sofrer...
Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável...
Um dia percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples...
Um dia percebemos que o comum não nos atrai...
Um dia saberemos que ser classificado como "bonzinho" não é bom...
Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você...
Um dia saberemos a importância da frase: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"...
Um dia percebemos que somos muito importantes para alguém mas não damos valor a isso...
Um dia percebemos como aquele amigo faz falta, mas aí já é tarde demais...
Enfim...
Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para beijarmos todas as bocas que nos atraem, para dizer o que tem de ser dito...
O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para realizar todas as nossas loucuras...
Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação."

Atribuido por alguns a Mário Quintana mas sem confirmação

domingo, maio 16, 2010

Azul

Acordei tarde, dormi demais. Vale-me o amigo Ben-U-Ron. Larguei tudo como estava e fui apanhar sol, porque felizmente está sol, e o parque recebe-me sempre bem. Busquei o meu caderninho mas não o tinha comigo, tento escrever agora mas não me apetece ir atrás das palavras que passaram por mim nessa altura mas que já se recolheram. O chocolate com pimenta-rosa já acabou e concluo que adoro estes dias em que o organismo se manifesta de forma diferente porque são a desculpa perfeita para fazer disparates alimentares. Aguarda-me uma lata de leite condensado cozido ou, pelo menos, assim o espero... A fita do estore ficou-me outra vez na mão, m****! E eu que já estava habituada a acordar com o sol velado a iluminar-me suavemente por entre a transparências e as flores estilizadas. Agora não sei mesmo se tem conserto. Enfim, será o que tiver que ser. Apetece-me sair, sentir o calor na pele. Mas aqui ando meio às voltas sem saber o que fazer primeiro. Parece que os meus dias têm mesmo que começar com a abertura das portas e janelas para deixar entrar o ar da manhã. Parece que se esse ritual não se cumprir, se não receber essa lufada de luz e brisa no início de cada dia, ainda é ontem, não se faz a passagem. Estranho ser, eu, estranho ser. Mas chega! Chega de moleza que o dia passa num instante e há que ser aproveitado. Espera-me uma semana com trabalho chato que ando a adiar mas que tem que ser feito. Por isso, toca a recarregar a bateria. O céu está azul e quando é assim sinto sempre que os meus olhos se fundem com ele. É bom. Portanto, vou ali deixar-me fundir e já venho.

sexta-feira, maio 14, 2010

Isto é um maná...

- Querida, vê lá que aqui está frio! Não venhas toda descotada que ópois ainda te constipas!

Constatação #15

Gosto de me sentir "alimentada"... mais do que isso, necessito sentir-me "alimentada"...

quarta-feira, maio 12, 2010

O gosto ao dedo vezes... uns quantos!

De novo as barraquinhas, com direito a cachorro daqueles com tudo em cima e fartura acabadinha de fazer. Comida saudável como só ela...!

E livros, muitos, por todo o lado, a dar comichão nos dedos. E estes tiveram o prazer de agarrar e trazer uns infantis para dois seres muito especiais, um famoso do Cordon Bleu (sim, sim, finalmente na minha mão e podendo dizer que é minha e de mais ninguém aquela receita divinal, toma, toma!), um romance histórico e um de ficção sobre Goya, estes dois grandes, volumosos, com muitas páginas para ler, tal como eu gosto.

Foi bom. É sempre bom. Quero lá voltar mais uma vez. Não sei é se devo, tendo em conta as mais recentes notícias sobre a proposta de corte nos subsídios... o que me leva a outro tema: e que tal haver incentivos, ou pelo menos possibilidade de descontar no IRS, para compras ou actividades de fomento da cultura desta nossa sociedade tão pouco ilustrada?? Isso é que era...!

Frase do dia

"Não faças da tua vida um rascunho. Poderás não ter tempo de passá-la a limpo."

Mário Quintana

terça-feira, maio 11, 2010

"Fábulas"

Café mais restaurante mais porto de abrigo em dia de chuva, para um grupinho de leitores a querer ser escritores, bem no coração do Chiado. Pelo menos neste Sábado assim foi. E lá nos juntámos, umas quantas almas diferentes e desconhecidas, à roda da mesa de madeira escura, rodeadas de quadros e côr, a dar largas à imaginação e a aprender o que é isto de pôr no papel as palavras com vida e graça. Uma prenda comprada a pensar em mim, um dia que me deixou mais saciada de coisas boas.

Éramos sete, como alguém bem referiu, confesso que não nos tinha contado. Sete mulheres distintas com um gosto em comum. MG, mulher de 62 anos, professora reformada do 1º ciclo, que costumava incentivar os seus alunos para a escrita ajudando-os a encher as páginas de papel manteiga dos livrinhos que comprava de propósito para o efeito. Viúva há pouco tempo mas com muita vida ainda para viver, vida daquele tipo que se vê nos olhos e não no bilhete de identidade. A C., de 35 anos, trabalha num hospital dos mais dolorosos da capital, na área de cuidados paleativos. Diz que, entre colegas, usam o humor para conseguir descontrair da tristeza que vêem todos os dias e ela usa também a escrita. Já publicou alguns livros de poesia, já concorreu a diversos concursos literários e colabora com uma publicação on line. A M., de 34 anos, considera a escrita uma "necessidade física", um escape, algo que lhe faz bem. Apesar de já não ser novata nestas coisas dos workshops, há já algum tempo que a sua vida roda à volta de duas pequenas crianças e por isso sentiu que estava na altura de voltar a criar espaço para si mesma. Por último, a G., bancária e escritora em part time a quem já só falta "um bocadinho assim" para que o segundo livro apareça nas bancas. As outras três eram eu, a C. "irmãmiga" e a R. que tinha consigo a tarefa de nos orientar.

O dia passou rápido, de tão entretidas que estávamos a beber umas das outras e de nós mesmas, do espaço, do papel, e os exercícios pareceram poucos e deixaram água na boca. O meu preferido consistiu em começar a escrever, sobre qualquer coisa que nos viesse à cabeça sendo que, de minuto a minuto, nos era dada uma palavra ou expressão que deveríamos incluir no nosso texto. E tinhamos que o fazer antes de receber a palavra seguinte, portanto, no espaço de um minuto. As palavras/expressões foram: rendilhado, inestética, grunhidamente, amplamente ambígua, lógica ilógica, invólucro e desumidificador. O que me saiu foi isto:

"As coisas mudaram. Ainda não sei para que forma mas mudaram. Crescemos juntas, embora tu aches que só eu é que cresci, mas crescemos em paralelo, muitas vezes não nos tocando sequer. E esse era o meu mal para ti. Porque me querias mais perto, mais tua. Mas as nossas almas são diferentes, são diferentes os seus rendilhados e muitas vezes, talvez vezes demais, não formam juntos um padrão. Dói-te isso, eu sei, ainda mais porque julgaste sempre que quem estava mal era eu, que a minha forma era inestética, errada, e que a tua era aquela que devia ser.

Mas as coisas mudaram. E se antes tínhamos alguém a fazer de fiel da balança, agora temos que ser nós a equilibramo-nos, sem saber bem como. Os sons dessa tentativa parecem grunhidos de um animal a ser forçado a algo mas é assim, grunhidamente, que vamos avançando.

Não sei bem como te encarar, como gerir a nossa relação agora, nesta esfera tão amplamente ambígua, onde a lógica ilógica impera. Mas é agora este o nosso invólucro, o invólucro desta relação com o qual temos que lidar. Olhando-o ambas com estranheza, tentamos adaptá-lo a nós e fazê-lo funcionar. Tentamos mas nem sempre conseguimos. Neste dia chuvoso, o invólucro rendeu-se à humidade. Murchou, tornou-se mole. Talvez mais umas palavras minhas possam funcionar como desumidificador e possamos tentar mais uma vez."

segunda-feira, maio 10, 2010

Senhora gaja, faz favor!

Estacionei mesmo encostada a uma esplanada. Quando ia a tirar o carro, ouço a mulher sentada na mesa ali mais perto:

- Ó pomba, baza daí que a gaja ainda te passa a ferro!

Pêêêêto...!


sexta-feira, maio 07, 2010

"Coltura", "Cultividade" ou o que lhe quiserem chamar... para mim é "tanta estupidez que até faz doer os ouvidos!"

Filho de colega para a respectiva progenitora mesmo aqui à minha frente:
- Mãe, o que é um lince ibérico?
- Olha, filho, é assim um bicho tipo cão... ou lobo...

Dificuldades

É difícil ver o bem maior. É difícil vislumbrar o propósito acima de uma simples vida, de uma simples pessoa. É difícil perceber se tudo tem um objectivo, se realmente nada acontece por acaso, se as voltas que a vida dá têm um significado maior. É difícil porque conhecemos muitas vidas que o destino fez rodopiar e não vemos que tenham alcançado, depois disso e aparentemente, nada de especial. Quantas não conhecemos nós, quantas... É difícil acreditar num futuro risonho, feliz quando o presente não nos dá nenhuma pista, quando não conseguimos ver se o que vamos construindo terá, no final, a forma desejada. É difícil ouvir "aceita-te e aceita a tua vida" quando não gostamos do que vemos e a mim sempre me ensinaram a não aceitar sem questionar, sem pôr em causa, sem me bater por aquilo em que acredito e quero. É dífícil aceitar que tenho que aceitar. É difícil abraçar as contrariedades, desgostos, mágoas, tristezas e lágrimas e sentir que me irão levar a algum lado melhor. E se for pior? E se for pior? Porque elas doiem e seria tão mais fácil mandá-las embora... mas, pelos vistos, não é assim a minha orgânica, não mando embora, recebo. Não porque queira mas porque o Universo decidiu que seria essa a minha construção, feita de células que não fogem, que não se protegem, que levam os embates para casa. Resta-me, pois, acreditar que sou assim com um propósito, que a minha massa me vai levar mais alto, que terei capacidade para transformar o que recebo em algo mais e mais benéfico para mim e para os outros. É difícil...

quinta-feira, maio 06, 2010

Os degraus

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde os Deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

Mário Quintana

Tapa "cofrinho"

Butt Crack Shield

Vou já mandar vir uns quantos para oferecer aos mecânicos e homens das obras que se me deparem pela frente! E faço-o por mim, acreditem, é por mim...

quarta-feira, maio 05, 2010

"São uma espécie de dores do crescimento..."

F***** para elas, é o que eu tenho a dizer!

Em blocos

Constatações a assentar como cimento, a tapar as fendas. Como se já não devesse haver lugar para brechas mas, ainda havendo, a massa das constatações é entornada e preenche o espaço para que não restem dúvidas, para alisar e compactar a base, para a tornar una e livre de imperfeições, cobrindo completamente e de forma uniforme o que está por baixo para que quem olhe nem venha a saber que alguma vez existiu. E este estranho preenchimento, pesado e silencioso, é inevitável. Talvez tenha sido sempre e os olhos do coração olhassem para outro lado, talvez tenha começado há muito mais tempo e só agora se revele de forma concreta. Talvez, talvez, talvez. Ainda assim, a inevitabilidade é mais amiga, mais agradável, acaba por nos desculpar, acaba por ajudar a apaziguar o espírito de quem por natureza não se conforma e não aceita de ânimo leve que a vida lhe troque as voltas e tenha mão no seu destino. É, então, preferível escolher a inevitabilidade como companheira de caminhada e deixar-se cimentar de vez.

Frase do dia

"You don't necessarily decide who walks into your life but you can decide who you let stay and who you let go!"
Anónimo

terça-feira, maio 04, 2010

O cúmulo nem sei de quê...

A de sempre, ao telefone:
- Sim, já está marcada a véstoria à obra... sem véstoria não podemos avançar...

A de sempre, à conversa com outra pessoa:
- Epá, estou a ver que isso vai ser uma festa de arroba!

E a de sempre, a ler um documento e a comentar com os restantes:
- Ai, que horror, este texto tem tantos erros ortográficos, as pessoas não sabem mesmo escrever, que vergonha!


(agora digam-me, sinceramente... dá vontade de lhe bater com um pano encharcado e quente ou não dá?!?)

segunda-feira, maio 03, 2010

Conversas, táxis, baterias e cabos, a cabeça a estalar, o domingo que se foi num instante, a segunda que ainda vai a meio...

Depois de concluir, em plena madrugada, que o meu carrinho iria ter que ali passar o resto da noite, lá me enfiei num táxi. Sono, muito, muitas palavras às voltas na cabeça, e ainda bem porque isso significa que não caiem em saco roto, satisfação por termos estado as duas à conversa horas e horas como se ainda andássemos no tempo na faculdade... mas voltando ao táxi e respectivo condutor, homem de meia idade, certamente acabado de entrar ao serviço, fresco como uma alface... e eu a cabecear... "ouça, este é o caminho mais rápido, sabia? Se faz este trajecto muitas vezes, aprenda que isto é um espectáculo. E sabe porquê? Hã? Hã??? Porque só tem dois semáforos! Dois, mais nenhum! Quer ver, quer ver? Olhe, é este agora e depois só o outro lá mais adiante. É limpinho! Porque se for por ali, tem este, aquele e aquele e mais aquele, seis! seis, ao todo! E pelo outro lado também tem o da Avenida tal e mais o outro e são também uns cinco ou seis, 'tá a ver? Agora por aqui não, são dois, dois! Portanto, foi aquele que ali passámos e agora vai ser este aqui. E é limpinho, poupa imenso tempo! Porque pelo outro lado são seis.... blá, blá, blá, blá.... dois!.... blá, blá, blá... cinco.... blá blá, blá... dois, 'tá a ver?!". Estou, estou a ver tudo porque o senhor não me deixa alternativa...

A manhã chega, o metro torna-se no melhor amigo. A mãe tem o almoço do seu dia e depois toca a marchar para ver se consigo resolver o problema. Ok, quem tem cabos, quem não tem, ok, ao final da tarde resolve-se a questão. Pelo caminho mais conversa, conversa boa de quem entende e se identifica a confortar cá dentro porque, ao menos, tudo isto afinal serve para alguma coisa, quanto mais não seja ajudar alguém que está agora a passar por lá. E as palavras que ficam, soltas... Mas vamos lá meter mãos à obra... ok, não está a dar... troca cabos, mexe e remexe, chama mais ajuda e... outra vez... certo, o carro não mexe mesmo. O vento sopra cortante, já estamos todos a tremer, as minhas mãos ficam dormentes e a cabeça dói que se farta... até há faíscas e tudo, os cabos colocam-se e recolocam-se mais uma e outra vez mas a bateria está muda... ou surda, ou sei lá. Por isso, outro táxi, que já vão sendo horas. A cabeça estala cada vez mais, ao ponto de nem conseguir abrir bem os olhos, como se estivesse a levar consecutivamente com um martelo que, a cada embate, provoca ondas de dor por toda a cabeça. Depois de dizer que os portistas são "todos uns trafulhas e bandidos e merecem é levar no trombil", e chegados ao intervalo do jogo, o senhor taxista resolve mudar de estação para aliviar o stress. Bad timing, muito bad timing... o rádio grita Guns n' Roses e ele resolve pôr ainda mais alto "porque isto é que é rock do bom! Não é nada dessa treta electrónica que os putos ouvem hoje em dia! Isto é que é! Do meu tempo, rock do meu tempo que eu só tenho quarenta e poucos... e tenho isto tudo lá em casa! Esta é muita boa, não é? É aquela do filme do Extreminador "Iu cu bi main..." não é? Hein? "Iu cu bi main... hein, hein?? Hehehehe..". E posto isto é noite de domigo.

Salvam-me o jantar quentinho, os mimos e o Brufen...

Hoje, liga para ali, liga para acolá, e o reboque lá chega. Passeio pela cidade "nas alturas" e chegada ao mecânico mais querido do mundo que me pergunta: esta bateria foi trocada há muito tempo? Pois, não sei... e não sei porque não, porque não me lembro de ter ouvido, porque sou só eu a ter que tratar destas coisas, porque me sinto sozinha e desamparada, porque foi só há uns meses e eu ainda não sei fazer as coisas, porque... porque... porque... e as lágrimas a querer saltar. Mas o mecânico mais querido do mundo percebe, deita-me a mão e conforta-me dizendo que amanhã, dê por onde der, tem tudo arranjadinho para mim. Ainda tempo para te chatear, F., com as minhas lamúrias, ainda tempo para me sentar no banco de jardim a deixar que o vento me seque a cara.

Respiro fundo, levanto-me e sigo o meu dia.

Porque à 2ª feira eu preciso é de calma.... muita calma...

domingo, maio 02, 2010

Centro de Saúde

(plageando...)

"Moça" dos seus quarentas e muitos, com grandes curvas e contracurvas, de leggings e camisa comprida, tudo vermelho:

- Bom dia, olhe, vinha cá para levar mais uma vácina daquelas, que são três, está a ver? Já tomei duas, venho agora para a última... errr... ai, como é que se chama... ah!, é a vácina do tétamo!
- A vacina do tétano...?
- Sim, isso, do tétamo.

E às 5 da matina eis que o bicho não pega...

É impressionante como, de repente, olho em volta e vejo que quase toda a gente tem cabos para reavivar baterias de automóvel... sinto-me uma extra terrestre...

sábado, maio 01, 2010

O gosto ao dedo vezes quatro

Não, ainda não arrumei a casa. Deixo para amanhã para hoje me mover noutros meandros, nos meandros saborosos das barraquinhas de livros (e farturas!) que visito com entusiasmo desde criança. Foi a minha primeira vez este ano, espero que haja mais vezes ainda. E na mão, Dickens, Gabriel Garcia Marquez, Mário Vargas Llosa e, finalmente!, "O Deus das pequenas coisas". "A cabana do pai Tomás" ainda não veio desta e a "História da Vida Privada" continua a pesar mais que os seus volumes... um dia, quem sabe. Mas hoje, a minha estante ficou mais completa e eu também.