sexta-feira, abril 30, 2010

Olívia patroa, Olívia costureira

Tenho muitas coisas para escrever, muitas, muitas, diferentes, variadas, de balanço da semana, de balanço do dia, sobre novidades boas e más, sobre expectativas, experiências novas e velhas, pensamentos antigos e recentes, sobre o ser humano no geral e como ele consegue ser tão... besta!, sobre mim e como eu também consigo ser tão besta, e sei lá mais o quê!

Mas não consigo. Está tudo desarrumado e eu não sei por onde começar a organizar a casa... dava-me jeito uma D. P. também aqui na minha mente... eu pensava, conjecturava, deixava correr livremente, espalhava ideias e conceitos e cenários e tudo o mais e depois ela vinha e tratava de varrer, limpar o pó e colocar tudo nos seus devidos lugares...

Mas não, parece que não é possível... parece que vou mesmo ter que aproveitar umas horinhas do fim de semana para a ménage...

quinta-feira, abril 29, 2010

A andar... voando!

Uma miscelânia de pensamentos, emoções, visões, dúvidas, certezas e o que mais haja para assombrar as células afinal não tão mortas do meu cérebro. Uma chapada, uma chapada bem dada, certeira, dolorosa, daquelas que estalam e que fazem sentir a cara a arder e, acima de tudo, nos ferem no âmago. E o calor a subir pelas faces, a cerrar os punhos, a carregar a expressão e a transformar-se em raiva e desespero, fúria e tristeza, vontade de gritar, esmurrar, chorar, e as voltas do corpo, de quem não consegue estar sentado, de quem não consegue falar porque se pára cai, sabe que cai. Mas recorre-se a quem felizmente está perto, fala-se, fala-se, pergunta-se, pede-se ajuda para não ceder aos impulsos, para não deixar que esse calor nefasto nos domine. Mas uma chapada bem dada dói mas também abana e desperta, faz com que outros sentidos abram os olhos, sentidos até agora meio adormecidos mas que continuam a cá morar. E havia de haver um dia em que viriam ao de cima, claro...

Passam os minutos, as meias horas, as horas e acalma-se a fúria, mas o que acordou parece bem desperto e sem vontade nenhuma de voltar a adormecer. Estão frescos, recuperados e vieram para ficar. Vão-se instalando, à medida que passam os minutos, vão-se acomodando calmamente, tomando o seu devido lugar e cimentando as certezas que vão surgindo. Chega. Chegou talvez o momento de dar um passo maior no sentido de recuperar grandes partes de mim. Chega. Chegou o momento de "subir nas tamanquinhas", de retomar o espaço, o meu espaço, de não passar mais ao lado do que é também meu.

E as palavras saiem, desenfreadas e sem medos, pintando as cenas, ligando as pessoas. Trocam-se palavras e, simultaneamente, abraços, energias. Trocam-se palavras, dão-se e recebem-se, descarrega-se o peso, ganha-se espaço e paz. E assim ficámos, de mãos dadas, sentindo o calor uns dos outros, sentindo que estávamos ali e que eramos nós como sempre.

O ar fresco da noite a soprar e a arrefecer o corpo e a mente, a condução conduzida pelos pensamentos, pelas certezas, pelas dúvidas. Mas, acima de tudo, pela leveza que fez com que eu e máquina fossemos afinal objectos voadores e pairássemos pela estrada fora.

Parece que chega, sim. Parece que finalmente me cansei de estar rente ao chão e estou pronta para dar uso às minhas asas.

Frase do dia

"There is a difference between an open mind and a hole in the head..."
Anónimo

(E eu conheço tanta gente com "buracos"...)

terça-feira, abril 27, 2010

Anotações

São díspares as minhas noções de tempo, olhando para trás. O tempo que ainda escorre pelos dedos, pesado, marcando passo com as suas botas da tropa, fortes e duras, marcando a pele, certificando-se de que o sinto realmente a passar por mim, e o outro tempo, também meu, das coisas que sinto presentes, dos momentos tão meus durante tanto tempo que parece que os consigo ainda cheirar, que parecem estar ao meu alcance, basta estender a mão, como se tivesse sido ontem, como nunca se tivessem ido embora, como se resistissem à passagem dos dias. Resta-me o tempo de quem vê do outro lado, talvez um tempo mais real, mais exacto, e tento ver pelos olhos deles, para me centrar, para assentar bem os pés no chão porque só assim consigo andar.

Recorro ao caderninho e anoto as pedras no caminho, anotando também quando consigo atirar uma para a berma. Talvez o deva usar para fazer a lista dos sonhos e desejos. Mas eu sei exactamente o que quero, eu sei. Sei hoje, talvez como nunca tenha sabido antes, o que pretendo que a vida me dê, o que eu pretendo dar a mim mesma.

E não pergunto "se", pergunto "quando".

Hoje temos "variados"...

Estou a tentar marcar duas consultas. Se fosse só uma já era difícil, duas então parece uma missão impossível principalmente quando temos um determinado subsistema de saúde... que deve ser o dos pobres e portanto o sô dótore só nos pode atender lá para Agosto, isto se tivermos sorte!! Uma beleza...

E o sonho de ver o meu cabelo a cair aos maços que não me sai da cabeça...

E o calor que, convenhamos, veio cedo demais, ainda não estou preparada psicologicamente.

E como as pessoas podem ser mesquinhas! É estupidamente fácil, pelos vistos, ligarem-se a m****s de nada e usá-las como uma espécie de brasão de família... enchem-se de orgulho, cobrem-se com a sua capa de princípios, com a sua petulância, arrogância, cheios de si e das suas certezas, e ali ficam, indiferentes, cegos ao que mais os rodeia porque como foge um pouco da sua formatação, já só se apanha na visão periférica e isso dá muito trabalho... E depois, quando vamos ver, quando olhamos bem, quando analisamos a fundo, vemos que os que ficaram de fora foram os sentimentos mais simples, mais basilares de um ser humano... enfim...

E o cansaço de ter sempre em que pensar... tenho saudades do tempo em que a minha vida corria leve, em que os dias passavam sem se dar conta, em que, apesar dos problemas que todos temos, dos dias piores, das chatices, conseguia sorrir simplesmente porque sim...

E os espaços que vou, lentamente, reocupando, primeiro a perna, depois o braço, a tactear, a tentar senti-los outra vez meus, a tomá-los de novo para mim. E, ao mesmo tempo, outros espaços meus invadidos por forças externas, a empurrarem-me para a margem e a raiva que isso me dá...

Enfim... acho que o meu cérebro está a derreter. Se a temperatura não baixa entretanto, perco o norte de vez...

segunda-feira, abril 26, 2010

Frase do dia

"Before you say those 3 words, make sure that you mean them. Ask yourself: Would I give my life for this person?"

Anónimo

Tejo, ponte, graffitis e muito, muito sol...



Parece que vou atacar alguém... mas não vou...

Se é para levar a sério, é para levar a sério!!

- Passa p'ra cá o telemóvel, ó bacano...! 'Tás a ouvir?!? Dá-me já essa m****, meu!

- Olha lá, minha, 'tás-te a meter com o meu marido??? Hã?? Hã?

- Portanto, faço assim e depois assim e mais isto... estou a ver. E agora, aqui nesta fase, podia dar um murro nos tintins, não era?? Fonfa, fonfa!!

Elogio?

- Olha lá, achas que este género de t-shirt me fica bem?
- Sim, acho. Tens "cabedal" para isso...

IIIIIÁÁÁ!! ÚÚHHHH! ÁÁÁÁHH!

Um dia inteirinho a levar e a dar "porrada"!

Eu e a C., com tudo em cima e cheias de vontade, lá nos dispusemos a aprender diversas técnicas de defesa para dar conta de meliantes, assaltantes, endrógados, taradões nojentos e demais párias desta nossa sociedade! Chegámos com tudo em cima, saímos com várias partes do corpo em baixo (béélhas!!)... Escusado será dizer que, nesse dia, dormimos que foi um regalo! Mas valeu a pena. Excelente oportunidade para conhecer gente diferente, histórias diferentes, fazer exercício físico, rir (e às vezes chorar, porque à quadragésima sétima torção de pulso a coisa começa mesmo a doer...), aprender coisas novas, dispender energia e soltar a agressividade (se bem que eu devia ter soltado mais a minha na direcção daquele otário de caracolinho e óculos que resolveu aproveitar-me para se armar em expert à frente dos outros! Mas pronto, nunca tinha sido empurrada à volta de uma sala a levar no "trombil", agora já fui, já posso dizer que sei o que é).

A repetir, sem dúvida a repetir, até porque a técnica de me safar de alguém que me aperte o pescoço por trás afinal não me ficou bem na memória... e não é por nada, mas acho que é capaz de dar um certo jeito...

sexta-feira, abril 23, 2010

Unplug

Dá vontade, dá. Porque temos que a segurar com as duas mãos para que ela se mantenha na tomada, para receber nem que seja um fiozinho só de energia, porque é ela que nos alimenta, é ela que nos permite estar funcionais, como deve ser, como é suposto. Mas segurar implica esforço, força, concentração, paciência e ela parece que se contorce, que tem vida própria... Dá vontade, sim, de desligar, de deixar cair, de deixar de lutar com a porcaria do fio e da ficha e mandar tudo e todos à m**** e estendermo-nos no chão a olhar para o tecto e esperar que tudo se resolva sem que tenhamos que mover uma palha. Ou então, que não se resolva nada e que isso não nos importe sequer. Dá muita vontade de baixar os braços e gritar "estou cansada, deixem-me em paz, desisto!" e desistir mesmo, mergulhar no espaço e no tempo e deixarmo-nos à mercê deles. "Que se lixe!", pensamos muitas vezes, "que se lixe"...

Frase do dia

"The measure of a person is not on how well she prepares for everything to go right, but how gracefully she stands up and moves on when everything goes wrong."
Anónimo

E porque hoje é sexta-feira...

Colega, rogando aos céus, em relação a outro:

- Ai, Deus, dai-me paciência... porque se me dás força eu parto-lhe a cara...!

quinta-feira, abril 22, 2010

Para mim, porque sim

"True colors"
Cindy Lauper, 1986

You with the sad eyes
Don't be discouraged
Oh I realize
It's hard to take courage
In a world full of people
You can lose sight of it all
And the darkness inside you
Can make you feel so small

But I see your true colors
Shining through
I see your true colors
And that's why I love you
So don't be afraid to let them show
Your true colors
True colors are beautiful,
Like a rainbow

Show me a smile then,
Don't be unhappy, can't remember
When I last saw you laughing
If this world makes you crazy
And you've taken all you can bear
You call me up
Because you know I'll be there

And I'll see your true colors
Shining through
I see your true colors
And that's why I love you
So don't be afraid to let them show
Your true colors
True colors are beautiful,
Like a rainbow

quarta-feira, abril 21, 2010

E para fechar a loja por hoje, recadinho aos amigos!

... when life hands you lemons, you better grab the salt and tequila and call my ass over... quick!

You have the right to remain in silence...

Acabadinha de vir de uma acção de formação sobre Qualidade... onde termos como "procedimentos", "não conformidade", "auditorias" e "acções correctivas" soaram por todo o lado... e eu dei por mim a salivar... (boa! isso! dá-lhe! não cumpre apanha nas orelhas! ordem na casa! comigo piava tudo fininho!)

É a agente da autoridade que há em mim...

terça-feira, abril 20, 2010

Carta IV

Escrevo-te hoje e é de propósito. Porque hoje é um dia dos nossos, porque hoje já teriamos falado muitas vezes para combinar onde, o quê, quem compra. Porque hoje seria dia de reunirmos na nossa tradição, ao jantar, como sempre fizemos, num restaurante "diferente para ficarmos a conhecer uma coisa nova". Não vai ser assim, hoje. Já não é assim. Porque não combinámos, porque não falámos as vezes todas que tinhamos que falar. Porque não falámos nenhuma vez. Mas será o que pudermos, sim, porque sei que também tu queres manter esta vela acesa. E por isso, nós iremos cumprir a tradição tão nossa e iremos comemorar. E tu vais connosco, certamente.

Muitas coisas me foram acontecendo ao longo deste tempo. Muitas coisas que vêm com o calendário, o tempo interno e todos os tempos que passam por nós. Mas é estranho pensar nesses tempos, sabes? Porque foram cheios de tanta coisa, tanta coisa diferente mas, em paralelo, vazios, vazios de ti. De qualquer forma, algumas coisas mudaram desde a última carta (ou sei lá desde quando). Dizem que o meu brilho voltou, consegues vê-lo tu também? Não o reconheço ainda mas os meus olhos nunca viram muito bem o que emano. Talvez o vejas também, era bom se o visses. Mas sim, reconheço algumas mudanças, sinto algumas mudanças. Ainda ténues, é certo, mas consigo sentir agora que a minha visão do que está à minha frente, daquilo com que tenho que lidar mudou um pouco. A par das crenças desfeitas, a par das perdas, a par da falta de rumo, dou por mim, de vez em quando, a olhar o futuro incerto não só com angústia. Consigo ver agora o outro lado da incerteza, consigo olhar para ela e vê-la também como uma tela em branco onde eu posso pintar o que eu quiser. Não é sempre, nem sequer é frequente mas, de vez em quando acontece. Quem sabe esta visão mais... positiva, talvez, comece a tornar-se cada vez mais minha.

Mas falámos no outro dia, não foi? Sim, falámos através de outras pessoas, desconhecidas. Falei contigo e tu enviaste-as até mim. Trouxeram-me a tua mensagem, acredita. Senti-te ali comigo, percebi o que estavas a fazer. Talvez soubesses o que aconteceria se pegasse no carro naquela altura, talvez simplesmente achasse que precisava que me desses a mão por um bocadinho. E deste.

E, finalmente, trouxe o teu piano para minha casa. A nossa pessoa em comum pediu-me, disse que era o que fazia sentido e eu lá o fiz. Já tinha pensado muitas vezes em trazê-lo mas ele é teu, para mim é teu, e não consegui ser eu a propor a sua vinda, a saída daquela casa. Assim, confio que também neste caso tenhas falado através dela. Estava na altura de ser eu a albergá-lo, ao teu piano, estava na altura de ser tocado pelas minhas mãos. Mas ainda não consegui, sabes? Ainda não consegui tocar-lhe de modo a produzir som, aquele som. Veio com as pautas escritas por ti, com a tua letra, veio inteiro, com os teus ensinamentos mas eu não estou inteira. E não sei, não sei como voltar a ele, não sei. Porque não estás lá para me guiar e eu não sei fazê-lo sem ti. Porque o pouco que consegui aprender foi pelas tuas mãos, pela tua voz e não aprendi o suficiente para voar sozinha. E aquelas notas tiradas daquelas teclas não me soam ao mesmo, sabes, parecem também elas estranhar a tua ausência, parecem perceber que estão num lugar estranho, pouco familiar. Saiem tímidas, cautelosas, indecisas. Ainda não lhes toquei mais, talvez ainda não seja o momento certo, talvez elas tenham que se habituar primeiro à minha presença emprestada, talvez eu tenha que as olhar com outros olhos.

De resto... vai-se andando (e lá estou eu...). Ou, como me disse uma amiga que não gosta muito desta expressão, "estou a andar". E sim, estou a andar. (É um tempo verbal mais assertivo, mais forte, parece, acho que vou adoptá-lo). Devagar, devagarinho mas a andar. E como sempre, conto contigo aqui, a andar comigo. Agora acredito.

segunda-feira, abril 19, 2010

Frase do dia

"E chegou a altura em que o risco de permanecer fechado em botão se revelou mais doloroso do que o risco de desabrochar e florir."
Anais Nin

A gota de água

Ok!! Parou tudo! Parou, silenciou, congelou, não pia, não mexe!!!

(Respira... respira... respira...)

Pronto, ok, vamos lá a isto...

Temo, tiozinho adorado, que a nossa relação cibernáutica tenha que ficar por aqui... não me leve a mal, agradeço o voto de confiança (ou... whatever!) mas pronto, estamos aqui a entrar numa fase... bom... como direi... pessoal demais, por assim dizer. E sendo que o tio até me viu nascer e ensinou a andar e tal, não me está a apetecer desmanchar essa imagem terna e inocente dos tempos de infância, gostava de a manter assim, como ela é, pelo menos durante, sei lá, mais uns 90 anos, se possível. É uma questão de equilíbrio mental, entende? Portanto, fazemos assim... eu vou bloqueá-lo por uns tempos, está bem? Depois, um dia mais para a frente, lá repensamos a nossa relação...

Não é por nada, tiozinho, mas "paisagens africanas maravilhosas com som" e "as técnicas tradicionais da feitura de queijos em França" eu ainda aguento, agora... o calendário da Playboy de 2009!, tenha paciência! A trilogia "eu, tiozinho adorado e mulheres descascadas" não tem como funcionar...! Por isso, lamento, mas vou cortar-lhe o pio durante um tempinho, até que a imagem mental que criei entretanto (aaargghh!) se dissipe para todo o sempre...

(Des) construções

Dia a começar cedo, cedo demais para um sábado, cedo demais para mim, bem entendido... Uma história, várias histórias, infelizmente, todas vividas pela mesma pessoa. Um amigo com uma tristeza infinita nos olhos mas, ao mesmo tempo, com uma espécie de resignação saudável, de quem já não se admira, de quem sabe que, apesar de tudo, para a frente é que é o caminho. Peso, vi eu, muito peso, a fazer-me sentir pequena, tão pequena, a fazer-me interrogar e admirar "Como? Como é que é possível?". E depois, uma figura surpreendente, alguém aparentemente comum, mas a contrastar com a outra alma, com a minha alma também, por irradiar felicidade. Não daquela felicidade eufórica mas daquela que provoca um brilho suave nos olhos, o brilho de quem olha a vida com crença e recebe dela ondas amenas de côr. De quem está bem com o caminho que percorre, seja ele qual for. Um encontro que parecia destinado, uma alma simples mas encorpada pela energia das coisas boas, dos pequenos nadas que afinal são grandes tudos. Um sorriso calmo, despretensioso mas com o poder de fazer viver o meu.

Um dia a receber os outros e dos outros, um dia a somar histórias, sentimentos, sorrisos, abraços de coração. Um dia a completar-me mais um bocadinho.

E depois eu, o meu momento de olhar para mim e descobrir também algum brilho, também alguma serenidade e certeza de que a minha estrutura interna se mantém. Sou eu, cada vez mais eu, diferente, mais crescida, mas eu. "Não me preocupo" disse ele, " a base está lá, sempre esteve. Tudo o resto é superficial e o que é de mais profundo não se alterou, o que é mais seu nunca mudou, nunca se perdeu por isso, não me preocupo". Mas... mas existe agora um projecto, uma batalha das mais difíceis porque tenho uma adversária à altura, porque é comigo que tenho que lutar. Desmontar a base que me sustentava e que era frágil, como folha seca que se desfaz ao mínimo toque, que existia alimentada fora de mim, e construir de novo, uma outra mais sólida, mais robusta, baseada nas minhas verdades. E eu tenho que descobrir as minhas verdades e fazê-las vir ao de cima e torná-las parte de mim, da minha massa óssea. Tenho que desmontar anos e anos de construção em areias movediças, tenho que recomeçar a construir-me de dentro para fora.

sexta-feira, abril 16, 2010

E não ter dito sócias, já vamos com muita sorte!

- Afinal há duas A. M. F. cá na casa, são duas colegas com o mesmo nome. São sósias.

A sério... é a minha sanidade mental que está em jogo...

...
"A apanha do morango"
"Escândalo na UE"
"Eleita a melhor foto pelo National Geographic"
"Le language des fleurs"
"Onde andará o Doutor? ACTUAL E VERDADEIRO ! POR ONDE ANDARÁ O DOUTOR ??? IMPERDÍVEL"
"VEJAM que MARAVILHA....."
"VISITE Roma. "MAS VÁ EM ALTA VELOCIDADE"
"PINTURA com Charles ASZNAVOUR!!!!"
"Aiwé o poder popular..."
"Um Judeu conversando com Deus... muito fixe"
"DE ESPAÑA"
"Dicionário após acordo ortográfico com Angola"
"HOMEM .... abram que é lindissimo....(que todos os homens leiam!)"
"Cruzeiro pelo rio Negro - COM SOM"
...

O girassol, Van Gogh e eu


quinta-feira, abril 15, 2010

E sem o saber, este meu amigo fala de mim...

"As batalhas travam-se à noite, em silêncio…"

Alguém tem um caso bicudo com a lei?

Alguém precisa de um advogado? Mas convinha ser algo complicado, que metesse horas e horas de pesquisa de legislação, papelada e mais papelada, idas a tribunal, adiamentos, recursos e afins... coisa para levar uns meses (quiçá anos!) valentes... anyone? Anyone?

Se sim, por favor, POR FAVOR, contratem o meu tiozinho adorado!! Não é por nada de especial, o senhor não tem problemas financeiros, até é muito competente, não precisa de ocupar o tempo... EU é que preciso que ele ocupe o seu tempo! EU! Porque quanto menos ele tem que fazer mais anda na net, e quanto mais anda na net mais descobre coisas "Lindas, lindas! Aqueles tipos são de facto uns artistas!" ou "Atenção! Informação muito importante" para enviar para o meu email!

Só assim de repente, e visto na diagonal, temos:
"Claude MONET-reflexões"
"Um passeio de gôndola por Veneza"
"Curiosa esta definição de PROFESSOR"
"Cuidado! Novas técnicas da gatunagem..."
"Who lives in a house like this? Soon the world will know"
"Ah, grande Socrates!"
"Um dos bons mails que já recebi-GIRISSIMOOOOOO"
"BRASIL-as suas etnias"
"As Guitarras!"
"Aluguer de contadores de Água, luz e gás acaba dia 26 Maio"
"Seres decentes-EANES!"
"Amigos..."
"Divórcio judeu"
"Mistério do quarto 311"
... e só enumerei o que recebi desde 2ª feira!! ESTA segunda feira...

A sério... tenham misericórdia!

And so we meet again...

... eu e o Zé (Pilates, para quem não é íntimo).

Soube-me tãããão bem... e não, não perdi o jeito. Continuo "crominha" da coisa! :)

quarta-feira, abril 14, 2010

Frase do dia

"Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade."

Carlos Drummond de Andrade

E a "animação" continua...

- Estou-vos a dizer, eu fartei-me de fazer xinca pé, fazer xinca pé mas nunca consegui nada...!

(porque será???)

Para animar!


É isto... devia ser isto...

Só o que interessa
Lenine

terça-feira, abril 13, 2010

Ser ou não ser... feliz

Não sei se é a conjuntura astral, as energias do universo, a p****! da idade em que nos encontramos, não sei, mas o certo é que o tema "felicidade" tem sido recorrente em conversas, em pensamentos, em considerações. O que é, o que não é, vale por si só, não vale, já se sentiu ou não, enfim, muitas questões nos ar, nenhuma de fácil resposta.

Imbuída deste espírito pseudo filosófico, pus-me a pensar e a tentar analisar um exercício que, de há uns anos a esta parte, faço de vez em quando. Num momento qualquer, quando me faz sentido, páro, olho para dentro de mim e pergunto: és feliz? Faço simplesmente isto e abro a mente para ouvir o que o meu coração tem para me dizer. Obtive sempre resposta, o meu coração deu-ma sempre, de forma mais ou menos clara mas, acima de tudo, sentida. Essa resposta às vezes foi "sim", às vezes foi um redondo "não".

Tenho ouvido muito que a felicidade são momentos, que não é permanente, que temos momentos felizes, que a felicidade experiencia-se nesses momentos e que esses são efémeros. E esta opinião parece ser generalizada... mas não consigo concordar. Sim, acredito que existem momentos de felicidade e outros momentos que não são felizes mas não concordo que a felicidade esteja encerrada nesses momentos bons e que só exista quando eles existem. Não. E não acredito porque, quando perguntei a mim mesma, houve alturas em que ouvi "sim" e esse "sim" não tinha por base, necessariamente, um momento de felicidade.

Lembro-me bem de alturas na vida em que tudo parecia correr sobre rodas, em que não tinha problemas de maior, aparentemente nada com que me preocupar. Mas ouvi de mim um "não", senti em mim um "não". E outras houve em que, apesar das chatices, das contrariedades, das angústias, dos medos e dúvidas, olhava para dentro e o "sim" despontava brilhante do meio da confusão e do escuro.

Pois... talvez não pareça fazer sentido mas para mim é simples, tão simples... a felicidade é um estado da alma. A felicidade está dentro de nós, reside na paz, na confiança que temos em nós, na vida que vivemos, nos outros. É a almofada de conforto onde podemos deitar a nossa cabeça e que, mesmo quando tudo parece correr mal, nos dá calor e nos faz sorrir. É o que nos espera quando, depois de um dia de "trampa", chegamos a casa, metemos a chave à porta de nós mesmos, à porta do resto da nossa vida e nos sentimos bem. É o que faz com que os nossos olhos brilhem simplesmente porque sim mesmo que nada em concreto pareça iluminá-los. É o que alivia os nossos traços, é o que nos envolve sem que saibamos explicar, mesmo que quem vê de fora não entenda, mesmo que a nossa vida seja (como é, na maioria das vezes) recheada de momentos imperfeitos, de momentos infelizes. É o que nos reveste por dentro e nos aconchega e que nos faz acreditar que vale a pena, apesar de tudo, e que vamos conseguir andar com a vida para a frente. E nessa altura, não "estamos" mas sim "somos". É essa a grande diferença. Nos momentos "estamos" felizes, na alma "somos".

Sim, para mim a felicidade é um estado da alma. Acredito nisto e não acredito por uma questão de fé. Acredito porque já a vivi, porque já vive esse "ser" e não só "estar". Acredito porque já houve épocas em que o meu coração respondeu "sim" e o brilho dos meus olhos era meu, simplesmente meu.

E lá fomos nós...

Sugestão a meio da tarde "para aproveitar o bilhete de graça". Na verdade, na verdade, era mais para ver se espantávamos a neura que atacava nas duas frentes. Ok, vamos lá, não tenho referência do filme mas confio em ti. Umas horas depois, dirigimos-nos à bilheteira (antes de qualquer outra coisa porque da outra vez resolvemos ir mais tarde e já não arranjámos bilhete o que nos "obrigou" a ir comprar roupa e afins, portanto hoje não arriscamos!), depois fomos encher a barriga com comidinha mais ou menos light e mais tarde lá demos por nós a gastar os últimos minutos (e uns quantos cobres!) antes da sessão porque malas e lenços nunca são demais. Como o jantarinho tinha sido leve, toca também de levar um pacotinho de pipocas "mas dos pequenos!" (Que afinal são enormes! Tenho para mim que aquele é o tamanho pequeno, sim, mas para os alarves dos americanos e nós, como não podemos ver nada, resolvemos imitar... para terem noção, se tivessemos sido magnânimas, timos conseguido distribuir pipocas pela nossa fila e pela de baixo! Mas não fomos...). Siga. Conversa da treta, risota porque nunca me tinhas visto de óculos, publicidade que já cansava e lá começou. Bom. Muito bom. Suave, sensível, carregado de um humor despretensioso, humano, muito humano. Away we go e nós fomos com eles durante duas horas. E ainda bem.

Am I beautiful... or am I beautiful?



Não estava com paciência para trabalhar, resolvi pocoyomizar-me (resolveste quê!?! a trampa que arranjamos para não fazer nenhum...)... E, pronto, saiu isto. Estou ou não estou linda???

segunda-feira, abril 12, 2010

Sim, esta é para ti...

Quando precisares gritar, grita; quando quiseres chorar, chora; quando quiseres dar murros na parede, avança que ela aguenta. Tudo o que é negro e não sai acaba por corroer por dentro. Por isso... "limpa-te", assume a tua dor e liberta-te dela. Vai doer, eu sei que vai doer, mas acredito que, no final, vai ser melhor. Até lá, e se me quiseres usar como "saco de boxe", não hesites, vem. A rede que nos liga está aqui e serve para isso mesmo.

Fotossíntese #4


Frase do dia

"E enquanto não sentires este: MORRE e CRESCE!, não serás mais que um tristonho visitante nesta terra escura."

Johann Wolfgang von Goethe

sábado, abril 10, 2010

O sinal

Pedi-o várias vezes, com todas as minhas forças. Observei o vento, as nuvens, a chuva, as folhas das árvores, acendi a vela branca, cuidei que a água e o sal te banhassem. Pedi incessantemente. Pedi por dentro e por fora, muitas vezes.

Um dia, um ritual que tinha que ser cumprido. Por outros, por memória de outros, por amor aos que cá ficam. Disse o teu nome, como me disseram para fazer, repeti várias vezes, entrelaçando-o na lista que ecoava, por não saber quando era melhor, quanto era suficiente e para não falhar repeti-o enquanto pude. As vozes em coro envolviam-me, senti-me tonta e eu a quebrar. Ouvi as palavras e eu a quebrar. Controlei as forças e eu a quebrar. Pedi protecção para ti e eu a quebrar. Pedi-te ajuda e eu a quebrar. Virei-me para dentro e eu sempre a quebrar. Quando terminou, fiz o que tinha de fazer, pelos outros, não por mim, e saí. E uns passos mais à frente, finalmente me permiti e quebrei mesmo, quebrei o que faltava, quebrei o que tinha contido até ali. Rodopiei pela rua, ouvi palavras do outro lado da linha, gritei, destilei o ódio e a dor e enquanto rodopiava ia deixando cair os pedaços quebrados na calçada.

E, de repente, toques no vidro, duas pessoas a olhar para mim, a pedir-me para falar com elas. Traziam os pedaços que tinham encontrado no passeio e traziam também palavras de conforto, de coragem, doçura vinda do nada, humanidade de quem é humano. Duas pessoas que sairam dos seus caminhos, da rota da sua vida, para entrar na minha, nem que fosse por um bocadinho, e tentar torná-la melhor. Do nada. Não se conheciam entre si. Não me conheciam. A mística, falando do universo e de que tudo passa "minha filha", a mais contida, mas conhecedora das matérias da alma, dizendo que morava mesmo ali "neste prédio, no 3º andar, vá lá bater quando quiser". Do nada.

Minutos antes pedi-te ajuda. Minutos depois ela veio, do nada, bater-me no vidro, no vidro que me envolve, com os meus pedaços na mão.

sexta-feira, abril 09, 2010

Na mouche

"Para lá das ideias de correcto e incorrecto existe um campo. Encontramo-nos lá."

Rumi (poeta, jurista e teólogo muçulmano persa do século XIII)

quinta-feira, abril 08, 2010

Mas sempre tu...

O amor é lindo...

Casal, na casa dos trinta, a passear de mão dada na rua. Ele para ela, casualmente:

- Epá, tu hoje ressonaste que nem uma porca!

quarta-feira, abril 07, 2010

Fotossíntese #3

Em branco

A carta foi escrita, mas não foi A carta, não foi. Devia ter sido mas não foi porque A carta tem que se escrever com as letras de dentro e uma grande parte delas ainda não quer sair e expôr-se no papel. Ficam aqui mais um bocadinho, até chegar a hora certa, ficam aqui, umas soltas, umas entrelaçadas, algumas escondidas atrás de outras, ficam aqui até que faça sentido. Mas quando saírem, quando seguirem a sua vida fora de mim, não vão todas. Porque há umas de pedra e cal, sossegadas no seu canto, que fazem parte da mobília, que impregnaram as células tornando-se parte delas. Essas ficam comigo para sempre. E a almofada às riscas escondida, tapada por muitas outras, todas brancas, porque assim decidi. "Para ser leve", disse eu, "para ser bonito, para que seja leve quando olho para lá". Porque tenho ainda vontade de poder olhar para lá e tenho vontade que seja bonito, calmo, pacífico, porque sei que tenho que fazer a almofada às riscas desaparecer mas não quero que ela sufoque sob o peso do preto, do cinzento, não. Quero que se sinta bem e quero sentir-me bem ao ver o que a cobre, ao imaginá-la lá, confortável, leve, sempre leve... e em paz. E a explicação racional para as acções, para as reacções, a tentativa de explicação porque, convenhamos, só nos compete adivinhar, e a sensação boa que fica quando vejo que pode ser que não seja só por não ser digna de razões. Porque não ser digna de razões amolga por dentro, porque ser objecto inanimado mata o espírito, torna-nos inanimados, de facto. E a culpabilidade que assume proporções catastróficas, porque é elevada ao seu expoente máximo e porque a essa bagagem juntam-se também culpas que não são minhas e não tenho as costas tão largas assim. E a cabeça a acenar que sim, que já chega, que não sou omnipotente e por isso só devo assumir o que é meu, o negro mas também o branco, os coloridos, as minhas cores, as cores que sei que tenho. E parar também, parar de pedir desculpas pela minha humanidade porque afinal é ela, a minha humanidade, que faz de mim ser que quer viver mais do que sobreviver.

terça-feira, abril 06, 2010

Constatação #14

Falta-me aprender a desatar nós no estômago.

Dissimulado

Pronto, descobri porque não gosto de dias assim, cinzentos mas com calor. Tudo se liga afinal a uma característica base da minha pessoa: não gosto de dissimulações. Ou é ou não é. Portanto, Sol, ou estás presente, ou me encaras de frente e dizes o que tens a dizer, sem disfarces, ou vais pregar para outra freguesia! Estás aí, escondido atrás da cinzentona, querendo que pareça que te foste embora mas afinal não foste, a dar a entender que estás fraquinho mas eu sinto os raios e os poros a dar de si, a fingir que és uma coisa quando afinal és outra... já te topei, meu caro, já te topei! Asshole...

(agora falo com astros... e insulto-os... certo... poder-se-ia dizer que foi sol a mais na mona mas hoje pois que não se aplica... boa...)

Uma 3ª que parece uma 2ª...

... e acho que a partir de agora os dias da semana vão ser todos assim: a primeira 2ª, a terceira 2ª, a quarta 2ª... que treta! Devia ser proibido trabalhar em dias lindos de sol e cheiro a prima (vera, bem entendido) depois de um Inverno destes, todo molhado e cinzento. Precisamos todos apanhar ar, muito ar!, e secar por dentro para não ficarmos a cheirar a mofo! Pelo menos assim acontece com os meus pijamas turcos (pronto... acabei de confessar que uso pijamas turcos, olha que sexy... mas são da Women Secret, ok??).

E depois recebo mensagens criminosas, de pessoas de minhas relações, que resolveram (porque podem, f****!) tirar o dia e passá-lo à beira-mar... olha que queridas!! E eu aqui, enfiada numa sala de autênticos cogumelos, onde parece que todos os dias surge mais uma pessoa para "encher o ambiente de alegria". Grunf!

E aquela linda ferramenta de gestão de conteúdos a olhar para mim, especada mesmo, a lembrar-me que tenho que pegar nela e dar-lhe um jeito quando só me apetece deitá-la pela janela fora! Hoje, agora!

E esta semana que não tem feriado nenhum nem ponte nem nada...!

E as outras coisas, que por mais que me sente em cima delas para as abafar, lá conseguem espreitar de vez em quando (e assim, como quem não quer a coisa, aproveito a oportunidade para dizer que o meu rabo não é grande o suficiente, ó que chatice!).

E no outro dia tentei pôr as pernas ao sol para ver se ganhavam côr... quem sabe é este Verão que uso vestidos e saias... mas reparei que tenho que ter cuidado quando faço isto, tenho que escolher um sítio com pouca gente... vi uns quantos tombar lá ao fundo por terem sido atingidos pela luz branca e cintilante que eu emanava... espero que não tenham cegado, coitados... ainda bem que não havia circulação automóvel por ali.

E... pronto... é isto... vou trabalhar ou assim...

Estamos bem hoje, estamos...

segunda-feira, abril 05, 2010

Varredeiras

Duas a limpar o seu caminho...

domingo, abril 04, 2010

Ementa pascal

Sopa de grelos de nabo (aarrgghh!), borrego assado no forno (aarrgghh!). Como boa menina, comi e calei e vinguei-me no tinto e nos doces: merengue de chocolate com chantilly e framboesas e mousse de leite de côco... estou perdoada, não estou, Senhor?

(Ai... agora reparo... só havia dois doces... que é feito das típicas 4379 mil sobremesas que entopem a mesa em qualquer comemoraçãozita da treta na minha família??? Ai, que a crise está a chegar à cozinha das minhas tias... ai, isso é que não!)

sábado, abril 03, 2010

I believe I can fly...

Vai haver um dia em que serei eu a estar lá em cima. E já vou a meio caminho das nuvens...

sexta-feira, abril 02, 2010

Os monstros

Tens que enfrentar o monstro, dizia-lhe eu, convicta de que era a melhor solução. E depois, chegou a minha vez e chegou a minha vez em forma de monstrinho pequeno mas chegou. E os meus próprios conselhos ressoaram na minha mente, como se fossem a coisa mais certa, porque proferi essas palavras uma vez e elas tornaram-se minhas e transformaram-se em lógica também para mim. Conclui que não havia mais nada a fazer e que tinha também chegado a minha altura. Não era um monstro grande mas ainda assim um mostro e por isso armei-me como pude para enfrentá-lo. Foi bom. Porque me levantei e vi que, as coisas que me pareciam grandes estando rente ao chão, eram afinal da minha altura ou pouco maiores mas que eu conseguia dar conta do recado. Pergunto-me se o poderia ter feito antes e respondo sem hesitar: não. Porque se houve coisa que aprendi nesta minha viagem pelas profundezas de mim é que existe uma altura certa para que as coisas aconteçam, pela nossa mão ou não. E não é um tempo dado pelo calendário, é um tempo marcado pelos compassos do coração, o relógio mais certo que temos.

E foi bom também porque, ao voltar a essa parte do meu mundo, percebi que ela se manteve quase igual, à minha espera. Mudar, tudo muda, eu também mudei e ainda bem, mas o sentimento de pertença está lá, aquelas paredes continuam a ser familiares, aquelas vozes são ouvidas por mim da mesma forma, não há estranheza ao toque, ainda existe o conforto que nos dão as coisas banais mas nossas, muito nossas. Percebi que pertencia também ali, que nunca deixei de pertencer. Já o sabia, ou esperava, no meu íntimo mas só se sabe realmente quando se sente que o sofá dos momentos entre amigos nos abraça da mesma forma.

Outros monstros virão, eu sei. Monstros maiores e mais pequenos, vejo-os já à minha frente, consigo identificá-los. Mas tudo a seu tempo. Quando se atravessarem no meu caminho logo verei se chegou também a hora de não temer os olhos gulosos e dentes afiados ou se ainda é cedo, se a estratégia mais inteligente será deixá-los passar e esperar pela próxima ronda.