sábado, julho 31, 2010

Frase do dia




Nem mais...!

sexta-feira, julho 30, 2010

Private hell

Choros, muito choros, gritos de dor, pedidos de ajuda atirados ao ar, para quem os poder apanhar, por favor!, olhos abertos de pânico e sofrimento, soluços que provocam convulsões, murros nas paredes, nas portas, no chão, corpo que não se aguenta de pé, boca que se contorce em formas estranhas, formas de desespero e medo e raiva e tristeza que parece não ter um fim, formas que dilaceram o rosto, que o torcem tornando-o inchado e dorido, veias a rebentar, tremores incontroláveis, a expulsão dos demónios.

Depois... depois, o silêncio. O frio do mosaico a fazer-se sentir e a relaxar as veias, a dureza do chão a aplacar os movimentos, a boca cansada dos seus esgares queda-se entreaberta, sem expressão, as mãos outrora em forma de garra, avermelhadas pelos embates, amolecem em concha e fecham-se. O silêncio. A calma que surge depois da violência e devastação. A imobilidade de quem pára, não porque tenha alcançado a sua meta mas porque não tem forças para mais. A paz podre de quem já não consegue gritar.

E depois... depois, ajudando-se, apoiando-se, de novo a verticalidade. A dormência começa a vencer-se apesar de a ressaca ainda estalar na cabeça, do completo desalento roubar as expressões e revestir de inércia todos os músculos. De forma automatica, segue-se, em silêncio, atravessando o escuro.

E... recomeça-se.

Cada vez gosto mais deste senhor...

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.

Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.

Desta forma, eu digo: não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, pois a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.

Mário Quintana

quinta-feira, julho 29, 2010

Esta é para nós, F. ;)

Hot, hot baby!!

Estou a escorrer. Literalmente. Quem olhar para mim, e tirando a vermelhidão da cara, acha que acabei de vir do banho e decidi vestir a roupa sem me secar!! Já não tenho idade para estas caloraças, está visto!

Perfil #3

Cansada de dar murros em ponta de faca.

quarta-feira, julho 28, 2010

"Ninguém disse que ia ser fácil..."

Desprezo este destino que não controlo! Desprezo porque, apesar de tudo, julguei que me pouparia. Mas não, não eram esses os seus planos, e havia de chegar o dia em que ele faria questão de me mostrar, de forma dura e inequívoca, que os sentimentos não têm espinha dorsal mas que, em compensação, os olhos não mentem.

E eu com a mania que hoje é sexta-feira...

Não consigo. Não consigo. Os nós na garganta não se desatam e há dias em que é difícil engolir, é difícil respirar sem esforço, é difícil prosseguir sem sentir que era melhor estar noutro lugar. Mas qual lugar, se o lugar é dentro de mim e eu, por muito que me desloque, mais para a esquerda ou mais para a direita, não consigo controlar o movimento interno? Outro lugar... um lugar onde as minhas células respirassem de alívio, onde o brilho da vida dominasse, onde fosse livre para sentir e viver.

"Corre esse risco" disse-me então, "corre o risco de se fechar". Eu sei e sinto-o tão bem... fechada a remoer, para dentro a remoer, a tentar dar sentido ao que não entendo mas sozinha, sem ajuda, a esforçar-me para dispensar as respostas que não tenho e viver bem com isso, a evitar fazer mais perguntas, a dedicar-me a dar largas ao esquecimento, almejando a liberdade que o esquecimento traz. Corro o risco, pois claro. Corro por cima dele, através dele, enlaçada nele. Basta olhar para mim, basta parar um bocadinho para perceber que o risco já não é um risco.

Estou cansada, muito cansada. Há dias em que estou muito cansada de me levantar e fazer e acontecer e tentar e esforçar-me e sei lá mais o quê...! Dói. E eu estou cansada que doa. E quero chorar e gritar e muitas vezes não consigo. Mas choro, mesmo assim, as lágrimas não se vêem mas choro só que não é o choro molhado que lava. Estou cansada e todos os dias quando deito a cabeça na almofada peço por um final e há dias em que peço por qualquer final, sem ser esquisita, qualquer um que feche o ciclo e pronto, mesmo mal amanhado, mesmo defeituoso, não quero saber! Mas também já aprendi que, mesmo querendo, a persistente e inconformada cabeça minha não me deixa aceitar restos ou sobras ou finais montados em cima do joelho. Perfeccionista? Talvez... Muitas vezes acho simplesmente que sou pouco inteligente.

terça-feira, julho 27, 2010

"Arcanum conselheiro" para 2010...

... o meu é "O Louco"... o que explica tudo, não é verdade? Como é que podia estar saudávelzinha dos nervos com um conselheiro destes à perna?? Vá mas é aconselhar a mãezinha dele, não?! Enfim, adiante.

Pois que afirma ele várias coisas que, na sua maioria, só dão vontade de rir para não chorar! Não sei se se pôs a escrever parvoeiras justamente porque é louco e isso é o que os loucos fazem, ou se a coisa é mesmo a sério e foi algum deus superior, que não estava para ser portador de más notícias, que lhe bichanou ao ouvido, assim como quem não quer a coisa, e disse: olha, vai lá tu e leva o recado à gaja que tenho mais que fazer e, assim como assim, como não bates bem, pode ser que ela até te ache piada, sendo parecido com ela e tal, e até não barafuste muito com o que o destino lhe reserva.

Posto isto, o (desa)conselheiro pôs-se então a dizer que:

Este ano necessitará de muita coragem para enfrentar grandes desafios.
"Badamerda" mas é para ti! Que se f**** os novos desafios que já queria era sossego! Irra!!

O louco desafia-o a deitar o último muro ao chão, e reaparecer como que por magia, no início do percurso evolutivo.
(o louco deve achar que não tenho mais nada que fazer...) Mas qual muro? Mas qual muro?!? Ó amigo, tem paciência, eu já saltei o bom do muro há muito tempo, benzadeus!, vou lá agora voltar atrás para o deitar abaixo! Não me pagam para isso. Além disso, essa coisa da magia, eu não sou coelho para andar p'raí a sair de cartolas que ainda assusto alguém..! E faço o quê enquanto apareço e não apareço? Fico onde? No limbo? Dentro do baú da moça que é serrada ao meio?? Que raio de conselheiro és tu que não sabe que eu sou claustrofóbica??

Será uma árdua tarefa que seguramente lhe dará muito prazer e lhe trará muitas alegrias.
Isso é para quem gosta de apanhar, amori...

Os amores serão renovados, e tudo o que ainda o prender a um passado gasto e decrépito será filtrado.
Os amores??? Querido... vamos lá ver se nos entendemos... eu agradeço a generosidade e tudo o mais mas eu não quero amores, no plural! Eu não tenho paciência nem jeito para um, quanto mais...! Oferece a outro que eu já tenho a minha dose, credo...!

A sua inteligência e espírito criativo serão a chave do seu sucesso profissional.
Lollololol!! O meu querido superior hierárquico não lhes chama propriamente "inteligência e espírito criativo". Dá-lhes outros nomes, não consigo imaginar porquê... e cheira-me que, a ser chave de alguma coisa, serão da janela mais próxima por onde ele me pretende atirar um dia destes, isso sim!

Na saúde poderão ocorrer alguns estados de ansiedade, sobretudo no primeiro trimestre do ano, nada de preocupante, são ainda alguns nós do passado a tentarem resistir à mudança.
Ai, ó filho, tu tens cada ideia, valha-me Deus!! Agora estados de ansiedade...! Isso é das velhas, pá, da menopausa ou lá o que é! Ai, este fulano tem com cada uma...


Posto isto, sendo que o que este ano que já vai a meio me reserva é esta bela trampa... acho que vou ali beber uns copos valentes e já venho...

Directa ao ponto!

Eu, numa loja de roupa, a tentar encontrar determinado artigo:
- Boa tarde, eu venho à procura de umas peças de lycra, para usar com blusas mais decotadas, não sei se sabe a que me refiro...
- O quê? Os "tapa-mamas"?! Sim, claro, estão ali.
- Errr... pois, deve ser isso... (sorriso amarelo) obrigado...

Recheada

Compras, prenda, conversa, café, medo, férias (férias! férias! férias!), planos, mascarpone de maracujá (hhhuuummm...!), amargoso, calor, saudades, aniversário, irmã, beijos e abraços, paz podre, blusas de alças a sair do armário, aperto, ferida aberta, antecipação, mimo do "mimas" e não só, passos, suor, nó no estômago, sonhos (aqueles sonhos e outros sonhos), suspiros, outra vez o medo, sorrisos, "ter que querer", muitas moedas de um cêntimo, desejos, falta de paciência, angústia... serenidade... angústia... serenidade...

segunda-feira, julho 26, 2010

Constatação #23

Nunca me canso de procurar respostas.

domingo, julho 25, 2010

sexta-feira, julho 23, 2010

Re... arquitectando

"A gente quer ter voz ativa,
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá (...)"
Chico Buarque


Como é que se começa de novo? Como é que, depois da "roda viva" ter passado por cima dos nossos planos, ter deitado por terra grande parte deles, seguimos em frente? De onde partimos?

Vendo a vida como uma construção, arquitectada em papel com régua e esquadro, com medidas e anotação da escolha de materiais, assim vamos nós decidindo onde ficam as janelas, quantas paredes terá e assentando os tijolos de acordo com o nosso desenho. Essa planta, que julgo que criamos sem sequer dar conta, acompanha-nos desde que nascemos e vai evoluindo connosco, crescendo, sendo melhorada para se adaptar melhor às ventanias que a vida nos vai trazendo e ao nosso consequente movimento interno de mudança. Quando nos sentimos perdidos, paramos, voltamos à base, consultamos o plano, relembramos aos nossos objectivos e continuamos a caminhar.

Mas... e quando deixamos de ter planta à qual recorrer? Quando a reviravolta é tão grande que arrasa estrutura, divisões, medidas, metas? E quando temos que desenhar tudo de novo partindo do zero? Não... na verdade será do "menos um"... porque a bagagem que carregamos às costas, que trazemos de trás, a bagagem de quem é arrasada, sem apelo nem agravo, é dolorosa, por vezes até cruel, e tem o condão de matar os sonhos e sentimentos de criança onde assentava a primeira construção. Portanto, sim, partimos do "menos um", partimos de um local interno sem luz, subterrâneo, que nos enegrece a esperança e a expectativa, que nos faz ter medo, que não nos ilumina o suficiente para que possamos pôr a vida em perspectiva.

Por onde começamos, sem planta e sem luz para a desenhar?

quinta-feira, julho 22, 2010

Lugares

Cada Lugar Teu
Mafalda Veiga


Sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu
tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar

Pensa em mim, protege o que eu te dou
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar

Fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei

Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve pra longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só

Eu vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega quem não tem medo de naufragar

quarta-feira, julho 21, 2010

My newest favorite thing

Panquecas com mel e canela... e só.

É a "belhice"!!

Ui... ainda não são horas de dormir a sesta, pois não...? Ai, a minha vida...

Distorções


segunda-feira, julho 19, 2010

Em contacto

Muitas vezes te assaltou o espírito como sendo a única solução. Muitas vezes, demasiadas vezes. E eram o corpo e a mente que a pediam, e eram o corpo e a mente que a desejavam. Assim que a vida fazia uma pausa e te deixava entregue a ti própria, sem distracções, os pedidos aumentavam de tom, apertavam o peito, faziam-te rogar, como se de uma dádiva se tratasse. Mas houve sempre alguns olhares que não podias esquecer e que te chamavam à terra, te prendiam ao chão. Mas mesmo assim, chegaste até a imaginar como seria, como conduzirias o processo e o que esperavas ouvir depois, chegaste a ter tudo bastante bem planeado porque fizeste muitos rascunhos que te permitiram aprimorar a versão final. Ou quase toda. Faltava um único parágrafo que nunca foi escrito porque os olhares, os tais olhares, não deixaram. De cada vez que te concentravas, eles apareciam como borrachas e apagavam essas últimas linhas. De modo que pedias um pedido incompleto, na esperança que os céus ou um milagre o pudesse finalizar.

Com o tempo, os momentos entregues a ti própria começaram a encher-se também de outras coisas. No início, muito a medo, pequeninas e entrando com pezinhos de lã, e com elas acabaram por vir o vento, os risos, o sol, e a angústia começou a perder terreno, a resignar-se a um canto, a não ocupar o espaço todo. E as tuas preces foram sendo substituídas por alguma esperança que trazem os dias seguintes. O equilíbrio ainda é difícil e nem todos os dias são bons dias para se estar em cima do muro mas começa-te a ser mais fácil controlar os músculos e impregná-los de força.

Só que, e há sempre um "só que", a consciência que tens de ti própria não te deixa levar ao engano e tu sabes o que és, quem és, e sabes-te apontar bem o dedo. A palavra "inconformada" vem-te à cabeça vezes demais e lembras-te bem do dia em que a utilizaram para te descrever e em que, pela primeira vez, soubeste que mais alguém conseguia ver o seu lado negro. E tu navegas por ele, pelos seus fluxos de energia, sabendo bem como ele te consegue mover, dominar. A luta, até por causa perdidas, é inerente a ti, os ventos e tempestades não te metem medo mas sabes que és como o tal pássaro que se atira às grades, o tal pássaro que não aceita a gaiola imposta, por mais que se fira. E feres-te, muito. Tiras de ti tudo o que podes, empregas todas as tuas forças mas acabas por cair, cansada, não conseguindo mais erguer-te. Até recuperar energias, tentar outra vez e iniciar novo ciclo. Autodestrutivo. Em paralelo, ergues a barreira de aço à tua volta, barreira essa feita de micro furos que levam a que as energias circulem mas só num sentido. A sua forma afunilada deixa sair o desespero, o pulso, a gana, mas não permite que entre a realidade. Os factos que tens que assimilar, fazer com que se fundam com o teu ser, circulam à tua volta em redemoínhos mas tu estás protegida por trás da barreira e não os deixas entrar. Desta forma, não deixas que eles se ajustem, se moldem a ti, não os integras na tua vida, não os deixas correr na tua corrente sanguínea, não os assumes como teus, não os aceitas. E assim, a realidade apresenta-se-te sempre como irreal. E assim, olhas para ela como se fosse um filme, um sonho do qual um dia vais acordar.

E olhas para o calendário e vês... os mesmos dias... Nestes dias, voltaste, habitas aquelas quatro paredes e os dias são os mesmos e por um pouco nem reparavas na coincidência. Ou não. Nestes dias, voltas, como voltaste nessa altura, nesses dias. E eles confirmam-te o que queres fingir que não existe.

Mas tudo passa, dizem-te, e tu esperas que passe. Tu esperas que haja realmente um outro lado dos pesadelos. Gritas para dentro, questionas, desiludes-te, choras, sentes raiva de ti, sentes tanto e tanta coisa que parece que vais morrer, mas esperas. Esperas pelo dia em que as palavras, os olhares, a realidade não te toquem mais desta forma desumana. Esperas pelo dia em que deites a cabeça na almofada e as palavras, os olhares, a realidade te façam sorrir.

"Small" brother is watching you

Ligeira mudança de planos, mudança temporária de avenida e de chaves de casa. E olhe para onde olhar, o mais certo é encontrar um par de olhos brilhantes conjugado com orelhas pontiagudas a observar os meus movimentos. Deve ser para depois cruzar dados e fazer o relatório.

domingo, julho 18, 2010

Um

Não tenho palavras. Não há palavras.

sábado, julho 17, 2010

sexta-feira, julho 16, 2010

Constatação #22

A maioria das pessoas não vale o ar que respira mas eu continuo a acreditar.

Pelando

É estranho como as pessoas são, como as pessoas mudam consoante as circunstâncias, com o passar do tempo, com os ventos a soprar de leste. Olho-me e embora encontre uma cara conhecida, há muito que desconheço. Pergunto-me se sempre fui assim e me recusava a ver, se muito de mim estava escondido, inerte porque nunca tinha tido oportunidade ou necessidade de entrar em acção. Pergunto-me se estarei melhor agora com esses eventuais novos traços. Não sei, ainda não descobri, não me encontro nesta pele há tanto tempo assim. Sei apenas que a pele anterior se foi.

quinta-feira, julho 15, 2010

Olá

Estás-me a ver? Estás-me a ver de onde tu estás? Tenho saudades de te dizer "olá", de ouvir-te dizer-me "olá". Tenho saudades de ver a tua cara e de adivinhar o que querem dizer as tuas expressões. Tenho saudades de dizer "olá" porque depois do "olá" pode sempre seguir-se o "e então, o que contas?" para depois me sentar e ouvir-te contar. Tenho saudades do que tens para me contar e do som do teu riso. E tenho saudades que me ouças quando conto as minhas coisas. Sabes, tenho-as aqui, as minhas coisas, encarreiradas, por ordem, para te contar. Como se elas só fizessem pleno sentido depois de tas entregar, como se elas só completassem o seu círculo de existência depois de as ouvires, contadas por mim. Aconteceu tanta coisa, tanta... será que sabes? Será que vês, que sentes? Será que, apesar de tudo, me ouves quando finjo, no escuro, que estás sentado à minha frente? Tenho saudades do "olá" e de não precisar dizer mais nada a seguir. Tenho saudades de olhar para a tua cara, para as tuas mãos, de sentir a energia da tua presença, de ouvir a música que emanas, as notas que conheço tão bem. Tenho saudades de saber-te aqui.

Perfil #2

Em modo pensativo...

Diagonal

Pela primeira vez, desde há muito, muito, muito tempo, eu, o calhau comatoso que passa a noite completamente inerte, dando a impressão de já se ter passado para o outro lado, só falta ficar roxa, que não desperta nem com tremores de terra e que já se encontra na lista negra dos vizinhos do lado que acordam com os meus dois despertadores a gritar ao mesmo tempo, e eu não, abri os olhos a meio da noite sem que nada se passasse e encontrei-me atravessada na cama. Estranho... muito estranho...

quarta-feira, julho 14, 2010

Constatação #21

Acho que só lá vou com terapia de choque...

Frase do dia

Considerandos

Depois de cortada, queimada, raspada, cosida, de volta a casa com sono... dormi duas horas sem sequer dar conta. Bom, muito bom... No outro dia ouvi "Ai é para a semana? E não dizias nada?? Queres que vá contigo?? Caramba, devias ser mais maricas nestas coisas e aproveitar o mimo extra!". Pois, talvez... Mas o mimo extra acabou por vir, em forma de chocolate com passas e avelãs. Bom, muito bom... Concluo assim que gosto de pequenas cirurgias e que elas podem ser incluídas com distinção na lista de "coisas que até não me importo de fazer". Fazem-me dormir e têm o dom de cutucar o sentimentalismo de quem me rodeia o que se pode sempre traduzir em prendas, mais ou menos doces. Gosto.

Acordei, não fresca, com vontade de dormir mais ainda. Controlei-me porque ainda tinha a noite pela frente e nada como o conforto dos lençóis fresquinhos e de mais mimo... Mas os sonhos, os sonhos... ontem andei com eles agarrados, como almas penadas, porque falhei o ritual de separação de mundos. E assim, quando voltei a deitar a cabeça na almofada, foi com rapidez que me levaram de volta. Os mesmos, sempre os mesmos. Enfim, nem a sonhar consigo ser original. Sonhos do antes e do depois, sonhos do que não existe, sonhos que talvez tenham a pretensão de representar o que a realidade não me entrega. Talvez tenham secretamente essa função... se não vivo, sonho para ver como seria, para viver o que me falta e sentir o que essa realidade sonhada tem para me dizer.

Mas, depois, de volta à vida real, áquela que nasce todos os dias, que todos os dias se apresenta ao serviço. E caio em mim e pergunto: "onde está aquela pessoa atenta, curiosa pelas coisas do mundo, interessada, com vivacidade e energia, com brilho nos olhos e gosto e vontade de fazer milhentas coisas, tantas coisas que uma vida só não deve chegar? Onde está?" Está aqui, sim, está aqui mas tem medo. Não medo do novo ou do desconhecido mas medo de que, o que venha, apague, substitua, ocupe o lugar do "eu" antigo, corte definitivamente os fios que me ligam a mim, a quem eu fui. Não quero, não quero perder mais nada. Agarro-me com todas as forças para não perder mais nada. "Perder-se-á o que tiver que ser, o que não tiver que ser, fica", dirão alguns. Mas uma controladora como eu não lida bem com "o que tiver que ser", não se deixa quieta a ver o destino agir como lhe dá na gana, a decidir e organizar, a cortar laços e a entrelaçar outros sem ter uma palavra a dizer. Não! E assim estou, agarrada às pedras, a lutar para não me deixar levar pela corrente porque não quero perder mais nada. Alguns, muitos, disseram e dirão mais milhentas vezes, "Vive! Vive!!! Tudo coexistirá dentro de ti, se assim tiver que ser." Mais uma vez, "se assim tiver que ser", mais uma vez, não gosto.

Observo-me ao espelho e, pela primeira vez em toda a minha vida, aprecio o que vejo. Observo os meus contornos, a minha pele, a minha forma e não vejo mais a adolescente complexada que evitava a todo o custo mostrar-se. Não vejo mais aquele corpo com o qual nunca me senti confortável por achar grotesco com todos os seus defeitos, para mim, inultrapassáveis. Estão lá à mesma, é certo, mas são mais humanos aos meus olhos. Agora consigo ver beleza para além deles. Consigo encontrar brilho na minha pele clara, para mim sempre demasiado clara, nos sinais e marcas do tempo e não só, para mim sempre demais, no volume onde ele está, que para mim não devia existir.

Cresci, eu acho, cresci mais nestes últimos meses no que na minha vida toda. Sei que sou hoje mais equilibrada, madura, sensata, tolerante, humana do que alguma vez fui. Sim, humana mas, acima de tudo, aceitando a minha humanidade, as minhas falhas e erros, as minhas culpas e perdões, a minha fealdade mas também a minha beleza, como pessoa, como amiga, como filha, como mulher. Só que, em paralelo, também houve um quinhão amargo, que nunca mereceu muito a minha confiança antes, e que hoje me vem dar razão. O quinhão negro de mim que parece ter-se refinado com requintes; o quinhão da frieza e dos muros e guardas e defesas; o quinhão da desconfiança, da ausência de fé no mundo, nos outros, em mim; o quinhão triste, triste e solitário, triste e eremita, triste e duro que não se deixa ultrapassar determinado limite, que não se deixa tocar e que não toca em ninguém; o quinhão que não vive. Olho-me ao espelho e vejo beleza e fealdade, brilho e escuridão.

Mais uma vez, o tremor. Todos os terminais nervosos a serem varridos por um onda quente que dói, que queima. "Todos temos um intervalo de tolerância. O seu foi largamente ultrapassado.", ouvi eu no outro dia. E por isso, sabendo o que é transbordar, o corpo reage impulsivamente, tenta prever e proteger-se, emana calor, activa todos os sentidos e prepara-se assim para o embate. Calma, tem calma, um dia vai passar.

terça-feira, julho 13, 2010

Limbo

Preciso de tempo. Preciso de uma pausa antes de pôr os pés no chão. Preciso confrontá-los com a luz do dia e desmascarar a sua essência. São sonhos, nada mais, são sonhos, e devem ficar ali, deitados na cama quando me levanto. Preciso de tempo para os desprender de mim, para que nos separemos, para que a minha vida comece, neste mundo real, desperta, atenta, com os sentidos aguçados, pronta para se agarrar ao mundo como ele é. Preciso de tempo para que as névoas e brumas deixadas pelos sonhos se dissipem. Preciso de tempo para acordar realmente. Preciso... porque quando a passagem é feita abruptamente, as matérias misturam-se resultando numa amálgama sem explicação, o corpo inicia a sua rota mas a mente tolda-lhe os movimentos por ainda estar submersa noutros mares, mares de um outro mundo. E assim se passa o dia, com um pé cá e outro lá, numa espécie de dormência indefinida. E assim se passa o dia navegando entre um mundo e o outro. E assim se passa o dia em lugar nenhum.

sexta-feira, julho 09, 2010

Comemorações henriquinas

Sempre disse a minha mãe e tinha razão. Foi à meia-noite, de segunda para terça, com gelado e vela ao pé do rio e prendas; foi na terça, com todas as refeições e mais algumas e com direito a mergulhos de mar; foi na quarta, com bolo e mais velas e mais "Parabéns a você" e vinho branco até às tantas; e vai ser hoje, com as "irmãs" e com copos (muitos, assim se espera!) e mais prendas e risotas e parvoíces como é costume.

É ou não é muito mais giro assim?

quinta-feira, julho 08, 2010

The day after

Quando ouvi o despertador pela primeira vez (note-se aqui esta ligeira nuance... não escrevi "quando o despertador tocou pela primeira vez"...) e me consegui capacitar que, mal ou bem, continuo a habitar este planeta, disse de mim para comigo (e na direcção do ouvido bom): "Mulher... tu já não tens idade para isto. Tens que assumir que já não tens 20 anos e que não te podes meter no vinho branco ("ai, está calor e tal, isto é só porque é fresquinho!") até às tantas da madrugada, a falar da vida (booooorrriiinnngg!! já ninguém te aguenta!) num dia de semana! Não podes, minha cara, não podes porque se o fizeres o que é que acontece?? Hein? Hein?? Olhas-te ao espelho logo depois de acordar e desejas com todas as tuas forças que alguém faça a caridade de te deitar ácido em cima!!" Para ajudar à festa, e no seguimento desta brilhante constatação matinal, começo a notar uma vozinha de três anos de idade a sussurrar-me ao ouvido interno (neste caso, o ouvido mau, para conseguir o efeito de eco): "Mas ó tia T(jinha), tu não és uma menina, és uma senhora!" Bom, apesar de, na altura, a minha resposta ter sido simplesmente "Mas tu queres apanhar?!?", tenho que aceitar que, provavelmente, esta criança é dotada de uma sensibilidade especial que a faz conseguir prever o futuro e já sabia, portanto, a tromba rija com que eu ia acordar hoje. Assim como assim, resolveu ir-me preparando...

Bom, mas enfim, isto tudo para dizer que assim comecei o dia, ainda para mais com a sensação que é sexta e não é, e também com a mente cheia, de sonhos agitados e calor e suor e gatos dos infernos a quererem brincar às 6 da manhã! Portanto... bem dispostinha que é uma maravilha... Felizmente, consegui despachar-me a horas mais ao menos decentes, consegui tomar o meu café sossegada, consegui não apanhar trânsito, consegui chegar aqui já senhora de uma certa leveza. E depois de uma noite de conversa intensa, em que muito foi dito e ouvido (e, espanto!, apesar de tudo, os meus amigos continuam a achar-me uma pessoa normal...!!), preciso mesmo desta paz para processar... Sim, F., lentinha.... muito lentinha ;).

quarta-feira, julho 07, 2010

Sob o mesmo signo

Descobri que o Dalai Lama fez anos no mesmo dia que eu. Já sabia que o Sylvester Stallone e o George Bush também faziam...

....

Nããã......! Nem vou sequer começar a tentar perceber a relação entre nós os quatro...!

Frase do dia

(partilhada por uma grande amiga)

"O tempo está para o amor como o vento para os incêndios: apaga os fracos e ateia os fortes."

Oi?

Estou a ouvir pela metade. Não sei bem o que se passou, mas ontem à noite algo tapou o meu ouvido esquerdo e ainda lá se mantém. Já esfreguei, massagei, despejei soro fisiológico... nada, tudo na mesma. O lado bom: sendo que hoje voltei ao trabalho, esta incapacidade temporária dá um certo jeito... é que, regra geral, nada do que se diz aqui na minha sala vale muito a pena ser ouvido... O lado mau: é esquisito, muito esquisito, é desconfortável e pode ser bastante prejudicional, socialmente falando.

Então vejamos:
Por um lado, não tenho noção do volume da minha voz. Ouço-a de forma diferente, não a reconheço, não sei a quantos decibéis ando. Ora, como eu sei que as pessoas que ouvem mal têm tendência para gritar, esforço-me para falar com um tom moderado para não incomodar. Mas é um moderado conseguido sem grande noção do que estou a fazer porque não sou, de momento, dona das referências habituais. É um tiro no escuro... Tanto sai alto demais como não me ouvem...

Depois, o altifalante interno aumentou, não sei bem porquê. Ouço-me de maneira diferente, mais próxima. Parece que estou a sussurar ao ouvido de mim própria, pareço aquela vozinha interna que todos temos de vez em quando mas sendo que esta permanece! É um barulhão! Um simples mascar de plastilha elástica soa a uma trituradora dentro do cérebro, tenho mais consciência da minha própria respiração porque a ouço fora, como sempre, e dentro como se tivesse um taradão a ofegar no meu pescoço; um soluço parece um sino de igreja no meio dos olhos a dar a uma da tarde! Incómodo, muito incómodo...

Mas mais preocupante ainda, não percebo metade do que me dizem. E, por acaso até é giro ser mesmo... metade. Desenvolvi, por isso, uma teoria que passo a partilhar: as palavras, quando saiem da boca de quem fala connosco, vêm ali pelo ar e tal. Quando chegam perto do nosso nariz, dividem-se, vão umas letras para a direita e as restantes para a esquerda. E só quando entram no nosso cérebro pelos ouvidos é que se voltam a juntar e, nessa altura então, conseguimos processar a palavra ou frase. Ora, no caso dos incapacitados auditivos (pelo menos, os temporários, acho que os outros conseguem, com treino, fazer fluir a coisa toda para o mesmo lado) o que é que acontece? As letras que vão direitinhas ao ouvido tapado ficam à porta. As outras seguem o seu caminho mas, o encontro não se dando, a palavra fica coxa... aliás, fica sem ser palavra...

Só que não quero dar parte de fraca e dizer que estou mouca! As probabilidades de vir a ser gozada como se não houvesse amanhã são gigantescas! Ainda mais aqui, onde há, efectivamente, uma surda de um ouvido... nããã... prefiro fingir que nada se passa mesmo já conseguindo antever certas e determinadas situações onde farei figura de perfeita atrasada mental ou então de alcoólica!

No restaurante:
- A mels oj etã qe é ma mravila! (1)
- Sim, sim, quero uma água fresquinha, obrigado.

No trânsito:
- le, dsule, sab-e izr ara ne ica a arç de Avalde? (2)
- Olha-me este gajo! Deves achar que és o rei do asfalto, tu! Lá para trás, caro amigo, a fila começa lá atrás!

No trabalho:
- Prfria ue, ats d ubmeer eta prpst, ivsses faao coigo. (3)
- Ainda bem que concorda, eu também achei que esta era a melhor forma de levar o processo adiante.

Pois... e isto que não passa... alguém me arranja uma picareta??


(1) As moelas hoje estão que é uma maravilha!
(2) Olhe, desculpe, sabe dizer-me para onde fica a Praça de Alvalade?
(3) Preferia que, antes de submeter esta proposta, tivesses falado comigo.

As vinte e quatro horas de "Le T."

Começou à meia-noite. E à meia-noite em ponto recebo a primeira mensagem, e à meia-noite em ponto estava "no centro do mundo". Fiz questão, fiz de propósito, já que era ali que me encontrava. Enquanto as badaladas ecoavam dentro de mim, olhava o mapa a toda a volta esperando assim conseguir absorver a energia de um planeta inteiro. Depois, gelado de limão com uma vela que se acendeu duas vezes porque dá sorte e porque o ano passado falhei. À sombra da luz da lua, apesar dos quase trinta graus, sinto o rio, admiro a ponte, observo as estrelas. E as lágrimas correm ajudando a arrefecer a cara... Surge então a melhor interpretação de todas. Tinha ido ali parar, sem planear, simplesmente porque me pus a andar, e a meia-noite tinha soado ali, justamente ali, no local onde os nossos antepassados resolveram desafiar-se e rumar a novas descobertas, a descobertas de novos mundos, por alguma razão. Ali, começou uma nova era. Começará também para mim? Terá sido coincidência? Não sei. Sei, simplesmente, que era ali que estava.

O dia propriamente dito era, simultaneamente, dia de D. P.. A minha primeira reacção foi pensar em trocar para poder dormir mais um bocado mas acolhi a sugestão de aproveitar o facto de ter que "madrugar" e gozar mais o dia. E assim, surge a ideia do pequeno almoço numa esplanada, saboreando a manhã de Verão. Depois, rumo à "minha minha" prenda. Uma hora inteira nas mãos de outros, a cuidar do corpo, da pele, da mente ("Ui!! Tinhas carradas de porcaria para tirar de cima, não???"). A avenida recebe-me, quente, muito quente!, enquanto a desço mais leve e me enfio em tudo quanto é loja e lojinha, sem compromissos, sem nada de especial em mente, apreciando simplesmente esse tempo meu. Segue-se o almoço "no meio de fábulas", no patamar que interrompe a escadaria calcetada, debaixo daquela árvore que se estende de um lado ao outro da rua formando um tecto verde e fresco. Aqui e ali, mensagens, telefonemas, vozes e palavras amigas do peito a debruar de cores vivas as horas que vão passando. Mais comprinhas, mais passeios e rumo à praia porque num dia destes até é pecado não ir dar um mergulho com o mar aqui tão perto. E ele recebe-me de braços abertos... O jantar à beira-rio (como tínhamos combinado, lembras-te?), mais uma vez a natureza a brindar-me com o seu calor, e o regresso a casa exactamente vinte e quatro horas depois.

segunda-feira, julho 05, 2010

Constatação #20

Tenho que olhar mais para as minhas mãos...

Viagens


Rumo ao sul, para recuperar energias. Recebem-me os pinheiros e a maresia, o sol escaldante e a calma própria da região. E ali fico, com o mar azul, azul!, à minha frente, naquele recanto protegido pelas rochas, protegendo-me do resto do mundo. Durante umas horas fujo. Depois, a noite de Verão, digna desse nome, e o regresso a casa de cabeça de fora da janela, o cabelo a dançar ao ritmo da velocidade, o vento quente a bater de frente e a massajar cada músculo do rosto e do espírito.

sexta-feira, julho 02, 2010

Constatação #19

Tu continuas aqui, através de mim.

M... também de mimo

- Ó mãe, porque é que a tia T(jinha) não vem cá jantar hoje também?
- Porque tem que ir jantar a casa dela.
- Sabes, mãe, eu gosto muito da tia T(jinha)...


(ó para mim de sorriso parvo e derretido....)

Em contagem decrescente...

A "minha minha" prenda já está marcada. Num sítio diferente da cidade para sair da rotina. Depois... depois logo se vê.

quinta-feira, julho 01, 2010

Porque gosto de histórias, porque gosto de vacas

"A história de Glória, a vaca
Já em criança a vaca Glória era mais gorda do que as outras vacas. E isto foi-se acentuando à medida que crescia. Os lábios eram carnudos, o nariz largo, a cabeça tão grande como uma abóbora (por acaso era até maior) e, ainda por cima, tinha umas pernas fortes, uma barriga gorda, pêlos grossos e duros e os pés pesados.

Como não havia roupas à venda para o seu tamanho, tinha de ser ela mesma a fazê-las à mão. Fazia-as sem gosto nem grande jeito, e por isso, dentro daqueles vestidos, parecia ainda mais possante do que realmente era.

Tinha um andar atabalhoado e, quando falava, a voz era semelhante à de alguém a gritar para dentro de uma cisterna.

Glória não era modesta nem pensava tornar-se uma boa vaca leiteira como todas as vacas da sua idade. Não! Era ambiciosa e ansiava por qualquer coisa de grandioso!

Um engraçadinho qualquer, creio que a raposa, dissera-lhe que com uma voz tão bonita, devia estudar canto. Como tinha um pai rico que pagava tudo, teve aulas de música e, em seguida, deu ainda um concerto. Todas as vacas vieram ouvir Glória cantar. Começou com A violeta na orla do caminho e esta foi também a última canção que cantou. É que, se quando falava a voz parecia que saía de uma cisterna, ao cantar, soava como dois elefantes a trombetear num regador em simultâneo com uma serra a cortar metal. A assistência tapava os ouvidos, assobiava, gritava e batia com os pés para não ter de ouvir aquela voz horrível, ou então corria em debandada pelo prado onde o concerto estava a decorrer. Glória parou e começou a chorar. As vacas pensaram: “É agora que ela se vai tornar uma boa vaca-leiteira!”

Mas não! Teve aulas de dança e ainda quis tentar a sorte como bailarina! Quando se apresentou pela primeira vez, vieram ainda mais vacas vê-la dançar do que quando cantou. Glória apareceu no palco com uma saia tão grande que dava à vontade para fazer sete toalhas de mesa. Logo ao primeiro passo, tropeçou e caiu. As vacas na assistência riram-se, mas Glória não se deixou intimidar e deu um salto. Com o peso, as tábuas do palco partiram e ela caiu, ficando presa até à altura dos braços. Os espectadores riram-se, mas cinco fortes bois subiram ao palco e ajudaram-na a sair do buraco, onde ainda continuava a dançar. Novamente em cima do palco, Glória começou a dançar perigosamente perto da boca de cena. Desequilibrou-se e caiu, aterrando exactamente em cima dos músicos que estavam a tocar no fosso da orquestra. Quando voltou a erguer-se, com dificuldade, o contra-baixo estava partido, a trompete completamente espalmada, o tambor rebentado, o acordeão rasgado em dois e o maestro, com o susto, tinha engolido a batuta. Bem se pode imaginar as gargalhadas da assistência quando a bailarina desapareceu por detrás das cortinas.

Em consequência disto, Glória, muito envergonhada, emigrou para o país dos hipopótamos. Aí dançou para os pesados e grosseiros animais, e cantou ainda algumas das suas canções.

No dia seguinte lia-se no jornal:
A artista Glória, uma figurinha delicada e frágil, deu ontem um concerto onde também dançou. Nunca tinha sido possível no nosso país admirar uma voz tão clara e cristalina; nunca se tinha ouvido um canto tão belo. Dançou, melhor dizendo, flutuou com tal graciosidade que todas as nossas meninas-hipopótamos ficaram encantadas pela sua leveza. Esperemos que a artista Glória dance e cante mais vezes aqui entre nós, no país dos hipopótamos."


Projecto "Clube de Contadores de Histórias"
ac@contadoresdehistorias.com

Apetites

Apetece-me fazer alguma coisa mas não sei bem o quê...

...

Ah!!! Já sei! Nada!

Sete

E assim entramos no "meu" mês...