sábado, outubro 31, 2009

Adeus

Porque tudo tem um fim. E este é hoje. Outros blogs virão, quem sabe, outras vidas também. E outros fins se seguem.

sexta-feira, outubro 30, 2009

Sim

"Ultimamente, andas mais amarga...", ouviu ela. "Ando? Talvez...".

Não se tinha dado conta mas não se surpreendeu. Porque tinham-lhe dito que estas rodas vivas em que o universo nos mete têm várias fases e que elas ocorrem em sequência, com uma determinada ordem. Onde estaria ela agora? Às vezes não é fácil ver, parece tudo misturado, com picos, altos e baixos daqui e dali, mas parece que, mal ou bem, querendo ou não, lá seguimos o que está escrito nos livros. "Sim, querendo ou não..."

A fase do choque. A fase do primeiro confronto, da dor que ele provoca é o primeiro anel da espiral a começar a mexer. É a fase do choro, das lágrimas descontroladas, da tristeza e da incredulidade. "Sim, o começo de tudo...".

Depois, mais adiante, encadeando-se e continuando a girar, inicia-se a fase da raiva, aquela em que gritamos e esmurramos paredes e o que nos aparecer à frente, revoltados contra tudo e contra todos, querendo culpar tudo e todos, recusando-nos a aceitar. "Sim, a raiva que consome, que mina, que destrói...".

No meio de tudo isto, a esperança a olear o mecanismo. É por ela existir que existe a incredulidade e a rejeição. É ela que as alimenta, é ela que é a base. Espreita do mais fundo de nós, está lá e por existir não nos deixa acreditar, aceitar. "Sim, é a luz ao fundo do túnel...".

E depois... a esperança sai de cena. E aqui começa o derradeiro ciclo, o do desalento, o da depressão. Aceitamos cá dentro o que vemos, o que temos, aceitamos que nada mais há a fazer, que nada vai mudar. E cansados, baixamos finalmente os braços. A luz apaga-se, o brilho nos olhos também. É a fase mais amarga, é a da resignação. E é provavelmente a mais triste de todas.

"Sim... ando mais amarga."

quinta-feira, outubro 29, 2009

Motherhood

Mãe humana sofre... mesmo que o filho seja gato.

De mãos vazias

É avassalador perceber que o que liga os seres humanos uns aos outros pode ser tão facilmente perdido, desfeito como se nunca tivesse tido força, corpo, substância. Laços aparentemente fortes mas que basta puxar um bocadinho por uma das pontas para se perceber que afinal eram feitos de pequenos nadas, de matéria que se desintegra com um sopro, que se desfaz nas nossas mãos.

Every breath you take...

Há algo de reconfortante em aceitar que talvez não seja mau deixares-te ir aninhado em mim. Talvez seja mesmo a única coisa que faz algum sentido.

G.

Será agora? Será hoje? Será esta noite?

quarta-feira, outubro 28, 2009

Delírios de uma inconformada

No outro dia disseram: it's not over until it's over.

E se eu não quiser? E se eu quiser já? E se eu já estiver farta de esperar por esse fim anunciado que nunca mais chega e quiser antecipar, tomar conta do que é meu, decidir, agir agora, já, neste instante, o mais depressa possível e livrar-me de tudo, problemas, pessoas, posturas, o quanto antes? E se eu já estiver cansada de perder tempo com o que não vale a pena, não vale o esforço? Não posso? Não é suposto? Quem diz? Quem manda? Quantos são, quantos são??

Paris

Acho que era Outono. O frio já se sentia, a roupa quente sabia bem. A cidade parecia dourada. Passeei ao pé do rio e das suas pontes, vi na rua os artistas e as suas artes. Andei no Museu d'Orsay, acompanhada por Van Gogh e outros. Comi qualquer coisa nos bancos de jardim quase debaixo da Torre Eiffel e vi as montras de bolos coloridos em toda a parte. Senti o cheiro a pão acabado de cozer em algumas estações de metro e voltei a ficar estupefacta com a beleza da Porta do Inferno. Entrei na Fauchon para me deliciar com chocolates, chás e compotas; voltei ao Louvre para nos conhecermos mais um bocadinho. Falei com as gárgulas em Notre Dame, senti-me parte da história a olhar para o Arco do Triunfo e visitei o futuro na Défense.

Sonhei que estava lá e que tudo se passava tal e qual como quis para mim.

De manhã

Os dias começam sempre da mesma maneira, com peso, com desalento, trazendo consigo a noção de que está a acordar para um dia que não é seu, que não devia ser o seu. Angústia, chamam-lhe angústia.
- Onde estou? Porque é que estou aqui? Quero-me de volta...
Mas segue, os passos automatizados, as tarefas automatizadas porque tem que ser. E a sensação de inevitabilidade a preencher todos os cantos, como o tal copo com pedras no qual depois entra a areia. A areia a espalhar-se por todo o lado, inundando cada centímetro livre, acamando, grão por cima de grão,  ocupando lugares onde antes existia ar. E fecha. Nem um som mais se ouve. Empedernida.
- E agora? O que faço agora?
- Anda, anda para a frente, parece ouvir dizer, porque não há mais nada a fazer.
São as paredes que falam, contam histórias de outros tempos e os fantasmas vagueiam para se certificar que não são esquecidos, que são lembrança constante do que foi e já não é.
Dizem que não se deve voltar onde se foi feliz e talvez seja por isso que o universo parece contra. Talvez seja por isso que a areia acama e abafa. Para garantir que nada mais mexe, que nada mais entra ali. E a tristeza confirma, nada mais há a fazer.

terça-feira, outubro 27, 2009

Symbiosis

Tenho sono. Um sono esquisito de quem simplesmente está cansado de estar acordado. Muito cansado. Um sono que sei que não vai trazer nada de novo, que só vai servir para esquecer, para não pensar durante umas horas. E ele aqui, ao pé de mim, quieto, com um outro sono, um sono que promete ser eterno em breve. Juntamo-nos os dois, na mesma almofada, cada um a dormir na sua forma, na sua concha mas juntos, a depender um do outro, a respirar a presença mútua, e eu à espera de que possamos acordar amanhã os dois para um dia melhor.

Carta II

Olá. Cá estou eu outra vez. Desta vez sem nada de especial para contar, a vida continua a andar para a frente e eu vou a reboque dela. É assim, é o que tem que ser.

Mas ando-me a esforçar para fazer arrumações, sabes? Ando mesmo. Porque só com as coisas arrumadas é que se vê bem o que se tem, o que se quer ter, o que se quer encontrar, o que se perdeu, o que tem e o que não tem remédio. E só a partir daí, só a partir desse inventário, se pode decidir o que fazer e fazê-lo. Ando a arrumar mas muitas vezes não é fácil. O meu feitio não ajuda, sabes... debato-me entre a realidade à minha frente e a realidade que quero para mim. E muitas vezes elas não se colam e eu fico irritada com isso. Porque não sou conformada, nunca fui, e sou teimosa, sempre fui. E lá está o teu sorriso  meio orgulhoso a dizer "és, sempre disse que és, talvez saias um bocadinho a mim...".

Mas tenho que arrumar. E, acima de tudo, anular, livrar-me de algumas coisas, as coisas que me fazem mal, impregnadas de energia negativa (e agora um olhar condescendente, de quem não acredita em nada destas coisas, e um sorriso como quem diz "mas vá, pronto, conta lá as tuas teorias"). Por isso, ando-me também a esforçar para só guardar memórias boas. As tuas memórias boas. Quero só pensar em ti a sorrir, a dizer alguma piada, a comer doces com satisfação, a conversar comigo. Tenho a certeza que hoje tu só és memórias boas, mais nada. Não levaste nada de mau contigo. E quero apagar as imagens daquele hospital, quero deixar de me lembrar do cheiro, das senhas de visita, da cara dos porteiros e das enfermeiras, quero esquecer o aspecto do corredor e o que sentia ao percorrê-lo até chegar à tua cama. Quero deixar de saber como se lê o monitor e os níveis de oxigénio e de te ver ali. Quero apagar tudo... Não. Tudo não. Quero ficar com a última imagem, a daquele dia em que te fui ajudar com o almoço e que, ao vir-me embora, algo me fez olhar para trás. Fiquei à porta da enfermaria, a ver-te lá ao fundo enquanto respondias à enfermeira "Sim, estou bem, obrigado. Comi muito bem!". Fizeste-me sorrir e foi com esse sorriso que saí de lá. E este sorriso meu foi a última coisa que me ofereceste. Portanto, essa guardo-a comigo.

Quero também esquecer o resto, o que veio depois. Porque tu já não estavas lá, não eras tu quem eu via. Lembro-me que me despedi, naquela noite, quando só estava eu. Olhei-te e não me lembro do que disse mas lembro-me que, a dada altura, fugi. Para me encontrar contigo num outro lugar porque não eras tu que estavas ali.

O Natal está aí à porta, já viste? Deves estar a pensar "que exagero! ainda falta tanto tempo, as pessoas parece que ficam doidas...!". Nunca achaste muita piada a esta época, eu sei, tinhas as tuas razões. Mas eu gosto muito do Natal, tu sabes, e por isso começo a pensar nele logo que sinto um bocadinho de frio. Manias... Não sei como este Natal vai ser, não sei como vai ser quando realmente chegar mas, para já, sei que quero ver as luzes. Lembras-te que combinámos várias vezes ver as luzes? Nunca chegámos a ver todas mas quero ver se este ano não falho. Para tu as veres através dos meus olhos. Acho que não vou fazer árvore e essas coisas, acho que não me vai saber bem mas isso é outra história. O Natal há-de vir e eu vou vivê-lo como puder.

A nossa pessoa em comum lá anda. Tem andando melhor, eu acho, talvez mais habituada à ideia de estar sem ti. E o gatinho novo sempre ajuda com os disparates que faz e que a fazem rir. Falamos todos os dias como nunca falámos. Falamos como eu falava contigo, todos os dias, sobre o que tiver que ser. Mas falta algo, a mim e a ela. Falta algo que não depende de nós.

Deixei de rezar, sabes? Talvez te espantes por saberes agora que rezava, nunca fomos muito virados para esse tipo de coisas. Mas sim, rezava, com as palavras que me ensinaram, porque não sei outras. Rezava a Deus ou aos deuses ou a quem me ouvisse e pudesse ajudar. E pedia por ti. Sempre por ti, antes de adormecer. Tentava visualizar alguém a ouvir-me atentamente, começava por agradecer o que tinha de bom e depois pedia, sempre desculpando-me por estar a ocupar tempo a quem tem tantas pessoas para ouvir, pessoas muito mais necessitadas, muito mais infelizes. Pedia esclarecendo que não queria que pensasse em mim, que eu cá me arranjava e que só tinha um pedido, um único. Tu. E imaginava-te numa bolha, leve, límpida, confortável mas que te protegia de tudo o que viesse do exterior. E adormecia em paz, sentindo que talvez tivesse sido ouvida.

Deixei de rezar. Não há nada que queira pedir. Tudo hoje me parece tão menor... "podes pedir por ti", és capaz de pensar tu, "podias pedir felicidade". Podia, sim mas não o faço. Não acho que valha a pena. O que tiver que ser, será.

Espero que estejas bem. Acredito que estás. Porque estás acima destas coisas todas, das arrelias e confusões, dos dias menos bons, das desilusões, das tristezas. E não te preocupes comigo, está bem? Sempre me afligiu que te preocupasses comigo... Quero que estejas bem, em paz e quero que saibas que eu sei que me vês, que me sentes e lês as minhas cartas. As nossas cartas. Hei-de voltar a escrever. Até lá, vamos falando através das pequenas coisas. E eu prometo, vou tentar estar sempre atenta à espera de te ouvir.

"Azahar"

Primeira fêmea de lince-ibérico no País desde que esta espécie desapareceu nos anos 80.

Pois que seja bem vinda!

segunda-feira, outubro 26, 2009

Freud explica...

Adoro. Adoro quem fala de fora e acha que sabe. Adoro. Se há coisa que eu adoro é psicologia de algibeira e lições de vida da treta de quem nunca passou por nada de especial mas sabe, fala com certezas, ó senhores do conhecimento supremo. Porquê? Como? Porque sim, nasceu com esse dom. A-D-O-R-O!

Os "mas já passou X tempo, já está na altura de fazeres assim e/ou esforçares-te para assado..." deliciam-me. Qual é o tempo X? Existe uma tabela? Deixa cá ver: desgosto amoroso - 3 meses; perda de emprego - 2 meses e meio; morte de familiar - 5 meses. Sim, senhor... E se for mais do que uma tragédia? Se eu perder o emprego e, simultaneamente, vir o gato ser atropelado, quanto dá? Posso acumular? E tem tecto máximo?

Ah, e depois, na mesma tabela deve haver então indicação, consoante o caso, das coisas que já é suposto fazer-se e /ou esforçar-se para fazer, não é? Certo... e tem por onde escolher? Quer dizer, são dadas várias hipóteses para cada revés na vida ou é só uma? E posso trocar? Se gostar mais da indicação dada a quem esteve internado com um problema na bacia e veio de lá com uma bactéria alojada no coração em vez de ficar com aquela que é indicada para vítimas de terramotos e outras catástrofes naturais, posso fazê-lo? É que é tão mais gira...

Adoro. A certeza que se imprime nas palavras, tal qual profissional do ramo, de quem sabe muito sobre a mente humana e assim; a experiência de vida acumulada, vê-se logo!, a ajudar a carregar o sobrolho e a moldar o ar paternalista. Adoro.

E como adoro o que é que faço?! Sou adorável em consonância, pois está claro! O que às vezes não é bem recebido, não percebo bem porquê.... é curioso... mas, eles, os experts, devem saber...

E mais uma voltinha por este nosso lindo Portugal...

No menu de hoje, lindos slides da Serra do Pilar. Com som, avisa ele.

Estou que nem posso...

Mais uma coisa para a qual tenho jeito e não há como negar!

Arrumar a máquina da louça! Analiso as peças, o formato, o tamanho, mudo, mexo, remexo, tiro e ponho e consigo quase sempre aproveitar todos os espaços e enfiar lá tudo a que me proponho. Eu sabia! O meu vício de adolestente no Tetris afinal tinha um propósito superior...

domingo, outubro 25, 2009

On and on and on...

"Não, não, não.." repetia ela, abanando a cabeça, enquanto vagueava de divisão em divisão sem destino, sem propósito, sem pensar. "Não, não, não, não...", continuava às voltas, quase a correr, sem se lembrar por onde tinha passado antes, a abrir portas, a fechar portas, a pegar em coisas sem qualquer nexo, a olhar para fotografias como que a querer que os olhos vissem para além daquilo que o coração simplesmente não aceitava... De repente, deitou-se, sem saber como, sem saber porquê. Voltou para a cama, olhos pregados no tecto, mente em espiral, mil pensamentos em milésimos de segundos. Os olhos pregados no tecto branco. "Não, não, não, não..." dizia já sem som. Quando voltou a olhar para o relógio, tinham passado 45 minutos. Tinham voado 45 minutos. Não deu por eles... O que esteve a fazer durante esse tempo? Não se lembrava. Só lhe vinha à memória o tecto branco e o "não" repetido mil vezes.

Continua a não se lembrar. Continua a repeti-lo, ainda hoje, às vezes. Continua a repeti-lo. Continua a não querer aceitar o que o mundo lhe mostra. O seu novo mundo. Continua a viver esse momento e outros e, lá dentro, continua a dizer "não". Continua a não sentir os minutos passar.

Descobertas 2 em 1

Descobri que a saudade mata. Mas continuamos a respirar, o coração continua a bater e o cérebro mantém-se a cumprir as suas funções. Portanto... não mata o suficiente.

Finalmente, trabalhei os biceps...

Mãe e filha na Feira do Relógio. Barracas de tudo e mais alguma coisa e mãe a querer parar em quase todas. Várias vezes para filha "ai, leva tu que já não posso". Lucro da burra de carga: tonificação muscular, uma mala e um molho de coentros. Já não foi mau...

A música e a letra. Para ouvir e entender.

Cold Play. Fix You.

When you try your best, but you don't succeed
When you get what you want, but not what you need
When you feel so tired, but you can't sleep
Stuck in reverse

And the tears come streaming down your face
When you lose something you can't replace
When you love someone, but it goes to waste
Could it be worse?

Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you

And high up above or down below
When you're too in love to let it go
But if you never try you'll never know
Just what you're worth

Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you

Tears stream down your face
When you lose something you cannot replace
Tears stream down your face
And I...

Tears stream down on your face
I promise you I will learn from my mistakes
Tears stream down your face
And I...

Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you

sábado, outubro 24, 2009

Adenda à "Descoberta"

Sim, ia-me habilitando a levar dois pares de estalos por causa do post anterior. E sim, consegui fugir. É mais uma coisa para a qual tenho jeito... sou rápida no gatilho!

Descoberta

No seguimento da pergunta "para que é que eu tenho realmente jeito...?". Fácil. Para desiludir os outros. Nisso, sou imbatível.

sexta-feira, outubro 23, 2009

E o prémio "Isto é que é fazer pendant" vai para...

... Dulce Pássaro, a nova "dona" da pasta do Ambiente!

Frase do dia

Misfortune shows those who are not really friends.

Aristotle

My twilight zone

Às vezes sinto que o tempo não passou. Como se os minutos, as horas, os dias tivessem congelado num determinado momento e como se fosse possível voltar a ele bastando para isso assim o decidir. Como se tivesse sido apenas ontem, como se nada tivesse mudado. Como se tudo permanecesse igual, intacto, simplesmente à minha espera, à espera que me resolva passar a fazer parte desse cenário outra vez. Ou como se o tempo se processasse numa rotação mais lenta fazendo com que 5 horas sejam apenas 30 minutos, 7 dias pareçam só 1 e meio. Olho para trás, noto que o calendário virou as páginas, sei que o maço de folhas dos meses que se acumula no chão vai engrossando mas não o sinto. Não o sinto. Há dias até que podia jurar, quase juro, que vou acordar, que nada disto é real, que afinal houve um engano, que aquilo que tenho vivido entretanto não passa de um delírio de febre de alguém que perdeu o rumo temporariamente e se viu a vaguear numa outra dimensão mas que pode e vai voltar à terra.

O maço das folhas dos meses está lá. Acumula-se no chão mas está lá. O maço de folhas, de todas aquelas folhas, é o meu presente. Continuo a vivê-las, uma a uma, hoje como ontem. São parte dos meus dias,  juntas mas misturadas, não interessando a sua ordem, qual delas vem primeiro, qual delas é a mais antiga. Para mim são todas hoje.

quinta-feira, outubro 22, 2009

Frase do dia

Love is not blind - it sees more, not less. But because it sees more, it is willing to see less.

Rabbi Julius Gordon

E hoje é dia...

... de frescos renascentistas. Bem haja, tiozinho, bem haja.

A tal porta que se fechou, a tal janela que se abriu

Virar as costas às costas viradas, deixar deslizar pelos dedos e para o chão, sem qualquer esforço, o que se perdeu. Está vazio, oco, é só invólucro do que foi. Não tem peso, não tem valor, está à vista que já não tem substância. Esquecer a escuridão da vida apagada, fria e estéril, esquecer que houve uma vida lá atrás. E avançar. Avançar em direcção ao calor, aos braços abertos, ao que a vida dá a ganhar, à luz que vem lá de fora.  No fundo, viver. Viver.

quarta-feira, outubro 21, 2009

21

Porque às vezes queremo-nos lembrar e esquecemos, porque às vezes queremos esquecer e lembramo-nos.

Mais uma constatação

O tempo é uma faca de dois gumes.

Apanhada!

Ok... o meu tio descobriu outra vez o meu email pessoal (juro que vou estrangular uma das minhas primas, ai vou, vou!).

O que é que isto significa?? Significa que agora vou começar a receber diariamente cerca de 50 a 52 emails com paisagens de Angola nos anos 70 "em lindos slides, realmente as pessoas que fazem aquilo são artistas, não há dúvida"! Como alternativa temos também as mil e uma maravilhas que há por este mundo fora que vão desde as ilhas paradisíacas do Pacífico aos monumentos em Roma às... paisagens de Angola nos anos 70!

Sim senhor, vai ser um gosto...

Estou a simular...

... em casa.

Fui escolhida para pertencer a um grupo de elite, composto por aqueles que, em caso de pandemia,  aguentarão o forte! Somos, seguramente, os mais robustos, vê-se logo olhando para nós, homens e mulheres saudáveis e bem constituídos, certamente com capacidade para aguentar com pandemias e viroses e o que mais vier! E somos, sem dúvida, aqueles com quem o povo pode contar quando tudo o resto falha! Porque nós sobreviveremos à catástrofe para contar a história! É uma honra...!! (e agora... o hino como pano de fundo e nós, o grupo heróico, em cima de um calhau, com os cabelos ao vento, a olhar para o horizonte...!)

Certo... e por isso, aqui estou eu chez moi, a testar as ferramentas de acesso remoto.

Os gatos estão hesitantes entre ir fazer mais uma das suas 1375 sestas do dia, como sempre fazem a esta hora, ou ficar a fazer-me companhia... olham para mim de lado, olham um para o outro... acho que estão a combinar fazer a coisa à vez.

E eu já testei tudo, tudo funciona, tudo decorre normalmente. Agora é ver se o dia se mantém calmo e se dá para ir tomar café, deitar o lixo no ecoponto e, quem sabe, dormitar um bocado que isto de ser heroína da pátria pode ser bastante cansativo.

terça-feira, outubro 20, 2009

Holding hands

Dou-te a mão. Dou-te a mão quando penso sozinha no banco do jardim, dou-te a mão quando o vento bate na minha cara, dou-te a mão quando ando na rua como fazia quando era pequena e só conseguia agarrar o teu dedo mindinho. Dou-te a mão quando choro, dou-te a mão quando rio, dou-te a mão para adormecer. Sinto os meus dedos a apertar o vazio mas aperto com força e finjo que a pele que sinto é a tua, imagino que o calor que me inunda é-me passado por ti. Dou-te a mão porque todas as minhas células me dizem que tu ainda cá estás. Dou-te a mão porque me sinto simplesmente à espera que voltes de uma viagem e por isso dou-te a mão enquanto não chegas. Mas sei, no fundo sei, que te dou a mão porque ainda não sei andar sozinha. E vou-te dar a mão até me sentir crescida o suficiente para a largar.

Ao viajante incauto...

... que navega por essa web fora e vem parar aqui por engano.

Deve estar a estranhar o que lê, eu sei. Não deve perceber "pêvas" do que se passa por estas bandas e interroga-se, certamente, se a pessoa que aqui escreve é boa da cabeça. Adianto-lhe já que não é.

Pensei em mudar o nome do estaminé para "Blog de criatura que sofre dos nervos". Assim, quem cá entrasse via logo as "gordas" e já só avançava se quisesse. Mas mudar dá muito trabalho, desculpem lá, por isso só tenho a dizer o seguinte:

Foi um gosto recebê-los, podem voltar se quiserem. Se não quiserem pois acho muito bem, certamente têm coisas mais interessantes para fazer, eu entendo. É como diz uma amiga minha: "para que raio quero eu ir ao cinema ver filmes que me fazem chorar?! Eu quero é rir! Para chorar já basta o dia a dia!". Ora nem mais.

Chuva

Começou a chover. Começou o Outono a sério. Um Outono diferente de todos os outros, um Outono que vejo chegar e não sei como vai ser. Pela primeira vez, desconheço-o. Lembro-me de mim a observar as primeiras chuvas, lembro-me da sensação que me acompanhava ao recebê-las. Mas lembro-me de mim como se me lembrasse de outra pessoa, distante, numa outra vida que não a minha porque o que sinto ao ver as poças formar-se, ao sentir o cheiro da terra molhada é diferente. A rua é a mesma, a janela por onde olho também, o fumo do cigarro dirige-se para fora como sempre faz. Mas o que vejo, o que sinto é totalmente desconhecido.

segunda-feira, outubro 19, 2009

Suspiro

Tenho saudades de quando olhava em volta e o meu mundo me fazia sentir leve.

Gostinho ao dedo

Esta aplicaçãozinha é tão a minha cara que até dói...!

A Câmara Municipal de Lisboa colocou online a aplicação “Na Minha Rua” que permite o envio de ocorrências na via pública que serão automaticamente encaminhadas para os serviços municipais competentes, tendo em vista a sua resolução.

Já não...

Já não acordo a horas há meses, já não ouço rádio no carro, já não danço, já não sei o que é ler um livro de uma ponta à outra, já não compro jornais, já quase não canto, já quase não vejo televisão. Já não tenho prazer em estar com muita gente, já não sinto que tenha conversas interessantes, já não me interesso pela maioria das conversas. Já não me importo muito em cumprir horários ou ter horários meus, já não faço questão de ter regras, já não sinto que tenha "ninho", já não faço as minhas caminhadas. Já não vou ao mercado fazer compras, já não faço planos para o fim de semana, já não me lembro de me entusiasmar verdadeiramente com alguma coisa.

Mas, em compensação, já não me assusto quando o telefone toca.

domingo, outubro 18, 2009

Lá atrás... #3

Neste dias lembro-me com muita frequência da música "Um dia de domingo" da Gal Costa. Não sei bem porquê, nunca gostei especialmente da senhora mas é daquelas coisas que não se explicam, o meu cérebro gravou-a, pronto, tenho que viver com isso. Invariavelmente, esta memória musical puxa por uma outra, desta vez da Joanna (será por serem as duas brasileiras?) e por uma história minha associada...

Um dia qualquer, para aí no princípio dos anos 90, não me lembro bem, apareceu nos meios de comunicação social uma vidente ou bruxa ou coisa que o valha, a quem deram (demasiado) tempo de antena, e que jurava a pés juntos que, num determinado dia de um determinado fim de semana, ia haver uma grande desgraça na cidade de Lisboa (terramoto?) e que isto ia tudo "para o galheiro". Nem sei bem como é que a fobia começou mas o que é certo é que se foi alastrando e levou a que imensos lisboetas acorressem aos bancos para levantar o dinheiro todo, que os supermercados se tenham enchido de gente que queria encher a despensa antes do mundo acabar (o mundo lisboeta, bem entendido sendo que a despensa também era capaz de ser lisboeta mas, ok, não vale a pena tentar entender...) e que muitos outros tenham pegado nas tralhas e resolvido, pelo sim pelo não já que desta vez o apocalipse vinha com aviso prévio, ir passar o fim de semana ao Algarve.

Nós escolhemos Óbidos. Não que acreditássemos nessas tretas, nããã!, que disparate!, "és tu que és miúda e ficas impressionada" mas como até já se sabia que ia estar um lindo dia e sendo Óbidos, como toda a gente sabe, um óptimo sítio para juntar a família toda, com os seus vários carros, porque é espaçoso e tal,  lá fomos nós, com tios, primos, avó e cão, que assim eramos muitos a sobreviver para depois poder contar a história. Não, quer dizer, que disparate, eramos muitos porque... porque... é mais giro assim, pronto.

Bom, o dia foi bem passado, sim senhor. A cidade de Lisboa ficou intacta, como ainda hoje se pode ver (sim, é tudo muito relativo, eu sei...). A tal música tinha dado na rádio logo de manhã mesmo antes de sairmos de casa e rezava assim:

Pode o mundo se acabar
Que vontade de te dar
O meu amor que eu guardei pra gente...

sábado, outubro 17, 2009

De volta

Almoço e jantar em casa, tarte de requeijão para o lanche e para a dar uso ao forno. Aos poucos, eu a voltar aqui.

sexta-feira, outubro 16, 2009

Lessons to be learned

Para acabar bem a semana. Porque é importante saber receber lições de vida, porque é bom perceber que foram enviadas a pensar em nós, porque é um privilégio poder partilhá-las, porque também eu as passo adiante a pensar em quem me lê:

How people treat you is their karma; how you react is yours.
Wayne Dyer

Perspectiva

- Achas normal que me sinta a dar mais passos para trás do que para a frente? Parece que quando avanço um, depois recuo dois ou três... é horrível.
- Não acho horrível...
- Não? Porquê?
- Porque, seja de que forma for, há dias em que andas para a frente.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Hoje

De repente, uma certa paz. Calma no meio do caos. Porque hoje tenho a certeza que sei o que NÃO quero.

quarta-feira, outubro 14, 2009

Ressaca

Há dias piores, há dias melhores. E há dias atordoados. Parece que levámos com qualquer coisa bem pesada e dura na cabeça... pensamentos, poucas horas de sono, emoções e duras realidades, tudo à mistura, produzem cocktails absolutamente explosivos. Não experimentem, o resultado não é bonito de se ver...

Ecotuga

"Uma companhia aérea japonesa está este mês a pedir aos seus passageiros que urinem antes de embarcar para reduzir o peso do avião na descolagem e, em consequência, as emissões de CO2 para a atmosfera."

Caramba...! A responsabilidade pessoal no que diz respeito ao ambiente está cada vez a ir mais além... um dia destes temos que começar a preocupar-nos em não comer cozido ou feijoada antes de viajar porque aquilo pesa na tripa que se farta e até que esteja pronto para ser expelido, ui, ui... É que os japoneses aí não fazem mossa, lá com os sushis e assim, mas se for um avião cheio de portugueses, daqueles de raça, que não se fazem rogados em aviar duas ou três travessas, bem regadas de tintol, as emissões de CO2 podem aumentar para níveis assustadores! Além disso, se formos a ver, esse tipo de alimentação é duplamente nocivo. Afinal de contas também contribui para a soltura de gases em pleno vôo o que não é nada amigo da atmosfera que rodeia a pessoa do lado!

E pondo-me aqui a raciocinar um bocadinho, e se quisermos ser rigorosos, diria que o próximo passo deverá ser pensar-se num dress code para estas ocasiões, não...? Sei lá, deixa cá ver... talvez abolir as capotas alentejanas do nosso guarda-roupa...

Hhuumm... Isto de ser ecoconsciente e português ao mesmo tempo pode tornar-se muito complicado...

Conclusão

O meu novo superior hierárquico é o rodapé de notícias do jornal da TVI. Eu até posso não estar a ler, até pode não me interessar nada do que lá está a passar, até posso tentar ignorar mas aquela gaita está sempre no meu campo de visão, a saltitar e a cansar-me a vista!

terça-feira, outubro 13, 2009

Traição

Esta noite o gato G. trocou-nos, a mim e à minha almofada, por uma caixa de cartão.

Perda

É o espaço que se esvaziou e se fechou sobre si mesmo.

segunda-feira, outubro 12, 2009

Boa nova!

Macacos, elefantes, leões e tigres proibidos nos circos

We are slowly getting there...

O que eu devia ter dito mas que sei que tu sentes e sabes sem ter sido preciso dizer

Adoro-te.
Adoro falar contigo todos os dias a propósito de tudo e de nada. Adoro sentir que adoras falar comigo também. Adoro que provoquemos ciúmes por andarmos "sempre um atrás do outro". Adoro que me ouças e me dês ouvidos, adoro que me procures para tirar dúvidas e adoro que estejas sempre disponível para tirar as minhas sejam elas quais forem, sobre que assunto for porque para mim tu sabes sempre tudo. Adoro poder perguntar-te onde fica a rua tal, como se vai para lá porque tu conheces sempre todas as ruas e caminhos melhores e até autocarros. Adoro que venhas ao meu lado, quando estou a conduzir, e que faças questão de me indicar o caminho mesmo sabendo que o sei de cor. Adoro que refiles por este país estar todo mal sinalizado.

Adoro que troques os nomes de pessoas e coisas e que, uma vez embirrando, nunca mais consigas acertar e que, por isso, o meu urso Jorge tenha sido sempre Júlio e que a minha amiga Sara tinha ficado para sempre Sissa e que afirmes que o nome da Zé é certamente Joseca e que a noz moscada seja, para ti, noz moscarda porque achas mais piada dizer assim. Adoro que confundas os alhos com os cogumelos no supermercado e que tires a rama ao nabo ainda na banca porque as indicações que tens são de levar nabo para casa e nada mais. Adoro as histórias deste género que existem sempre sobre ti e o que elas me fazem rir. Adoro que sintas a música de uma forma tão especial, que ouças as notas e aprecies os arranjos como não conheço ninguém e que tenhas feito sempre questão de me passar isso. Adoro a paciência com que te proposeste a ensinar-me piano apesar de, entredentes, me dizeres que se calhar era "velha" demais e adoro que tenhas passado toda a minha vida a tocar sabendo que eram as tuas mãos que criavam o último som que eu ouvia antes de adormecer. Adoro ver o brilho nos teus olhos e o teu sorriso quando falas de algo que te entusiasma ou ouves alguém interessante falar. Adoro que tenhas um sentido de humor muito british e que nem sempre te entendam.

Adoro que mostres um orgulho não babado quando conquisto algo ou me saio com uma ideia brilhante. Adoro que te preocupes comigo como ninguém faz. Adoro que tenhas sempre imensa curiosidade em saber o que comi se fui a algum sítio diferente e que fiques danado se alguém fala comigo e não pergunta. Adoro que mostre personalidade até nas pequenas coisas e que às vezes não seja fácil lidar contigo e que tu não te importes porque és assim com convicção. Adoro andar por aí a pensar que doces te posso levar e adoro que digas "vou comer os doces que a T. ME trouxe". Adoro que me ligues a dizer que gostaste e que não comeste tudo para "durar mais". Adoro que saibas de cor expressões e passagens inteiras de qualquer romance de Eça de Queiroz e que me ajudes a interpretá-los quando fico "presa" em algum lado. Adoro que me tenhas ensinado a prever o tempo observando o sentido em que o vento empurra as nuvens. Adoro que fales de futebol comigo, que aprecies o jogo pelo jogo e que saibas sempre a quantos pontos vamos. Adoro que adores comboios e saibas as linhas todas. Adoro que mostres entusiasmo por ter uma razão para pegar numa enciclopédia ou num dicionário e que me tenhas "pegado" esse gosto.

Adoro que aches que as criancinhas são todas parvas por não gostarem de sopa de legumes "uma coisa tão boa". Adoro que contes os doces na mesa de Natal e que digas "irra, são 18, isto assim é impossível...". Adoro que mistures no prato secos e molhados e que aches perfeitamente lógico que a rabanada, sendo seca, tenha que ter molho e que o molho possa perfeitamente ser leite creme. Adoro quando os teus olhos brilham como uma criança quando sabes que vais comer batatas fritas ou gelado.

Adoro que aproveites qualquer ocasião para podermos almoçar ou tomar café por saberes que seremos só nós os dois e adoro contar contigo para me ajudares a fazer a mala atirando ideias ao ar sobre os items dos quais não me posso esquecer. Adoro que me esperes na rua quando sabes que vou lá e que te mostres tão contente por me ver e por ter dinheiro trocado para o parquímetro. Adoro que adores sair e passear comigo e conhecer sítios novos. Adoro que mostres sempre que gostas das minhas prendas e que, de cada vez que as usas, refiras que fui eu que dei. Adoro que me chames "tchinha" porque raramente o fazes e porque só tu o fazes, mais ninguém. Adoro que sejas sincero quando falas comigo a sério e que sintas sempre facilidade em fazê-lo. Adoro que queiras sempre resolver os assuntos pendentes entre nós para teres a certeza que não fica ali nenhum grão de areia a incomodar.

Adoro que sejas meu cúmplice e que troquemos olhares e sorrisos, sem ser preciso falar, quando pensamos ao mesmo tempo na mesma coisa. Adoro olhar ao espelho e ver-te e adoro que digam que sou, sem dúvida, a mais parecida, de cara e de feitio. Adoro que estejas na minha vida de forma tão presente e adoro não conhecer ninguém nas nossas circunstâncias que tenha esta ligação e ouvir dizer isso mesmo. Adoro que sejas o meu melhor amigo, a "minha pessoa" e não quero que termine, nunca.

A propósito...


Para começar a semana. Para me fazer voar, para sair de mim porque a música quando me toca consegue sempre levar-me para um outro mundo...

domingo, outubro 11, 2009

O Pablo e eu (e não só) a pensar da mesma forma

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem destrói o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajecto, quem não muda as marcas no supermercado, não arrisca vestir uma cor nova, não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.

Estejamos vivos, então!

Pablo Neruda

Love is...

"Amor é...". Era o mote para um conjunto de pequenas frases, acompanhadas por um menino e uma menina de mão dada ou abraçados, e que ilustravam uns quantos autocolantes da minha colecção. Alguém se lembra disto? Vim a descobrir que foram criação de Kim Grove Casali (1942-1997) e têm origem nos bilhetes que escrevia ao namorado que, mais tarde, se veio a tornar marido. Ele guardou-os religiosamente e um dia decidiu enviar os cartoons a um jornal que passou publicá-los. A partir daí tornaram-se um sucesso mundial tendo sido traduzidos em várias linguas. Apesar de hoje já não fazerem o mesmo furor continuam a fazer chegar a sua mensagem a quem a quer receber pela mão de um dos filhos do casal.

Amor é... saltar juntos em cima de poças de água; amor é... sentirem-se bem quando estão um ao pé do outro; amor é... só eu e tu; amor é... fazê-lo(a) virar a cabeça quando passas; amor é... o beijo que te diz que é ELE(A); amor é... quando o tempo separados desaparece como que por encanto; amor é... o brilho que ele(a) traz à tua vida; amor é... indestrutível. São algumas das frases que ainda circulam por aí.

Continuo a acreditar nisto. Continuo a acreditar que o amor é feito de grandes e pequenas coisas, que pode ter muitas formas, variantes e ser condicionado por muitas variáveis. Mas no fundo... é isto. É sentir emoção só de olhar, é sentirmo-nos completos, estando ou não ao pé um do outro, é gostar de fazer coisas juntos mesmo que seja só estar sentado no banco do jardim sem dizer nada, é admirar apesar dos defeitos, é não conseguir imaginar a vida sem...

Acredito que também se possa alcançar a felicidade sem sentir desta forma. Acredito que haja outros sentimentos que unem as pessoas. Mas nunca se podem chamar amor. E sendo que a vida é mesmo só uma, recuso-me a contentar-me com algo parecido ou mais ou menos isto. Nope... I want the real thing.

O lado bom

Está concentrada na dor, diz ela, está concentrada na dor. Existem vantagens e desvantagens. A desvantagem é que não consegue sentir mais nada. E há mais coisas para sentir, a vida tem sempre mais coisas. A vantagem é que ao lidar com ela, ao encará-la de frente, ao passar por ela tem muito mais probabilidades de efectivamente a resolver. Quem guarda a dor num canto, numa espécie de arrecadação ilude-se. Não a vê, não tem que viver com ela no dia-a-dia e por isso acha que consegue seguir normalmente e até ser feliz apesar da sua existência. Porque ela está lá mas não se sente, está arrumada num local onde não temos que ir e pode ser que desapareça sem termos que fazer nada. Mas já viu alguma vez as tralhas da arrecadação desaparecerem sem termos que lidar com elas? Não, isso não existe. Mais tarde ou mais cedo temos que as arrumar. Mais tarde ou mais cedo temos que sair de casa, enfrentar a tralha e dar-lhe destino. Dói, pois claro que dói, abana a aparente estabilidade em que nos encontramos, traz-nos memórias e às vezes até levanta dúvidas quando achávamos que só tínhamos certezas. Mas só assim estamos realmente a resolver alguma coisa. Podemos passar anos sem lá ir, podemos viver iludidos muito tempo porque o ser humano agarra-se com muita facilidade à ilusão mas um dia vemos que construímos o nosso caminho em cima de uma base frágil, um dia acordamos e damos conta que afinal criámos na nossa cabeça um cenário de felicidade que não é real. Um dia iremos, inevitavelmente, sofrer as consequências. Por isso, agarre-se a este lado bom. Agarre-se ao facto de ter coragem para enfrentar, de pôr as mãos na massa e arrumar o que há para ser arrumado. Vai ver que assim é que vai encontrar a verdadeira paz de espírito.

Às 3

O silêncio e a porta trancada. O escuro e o vento que não sopra lá fora. Os grilos, só se ouvem os grilos, e a menina, pequenina, cada vez mais pequenina, num cantinho da cama, enroscada sobre si mesma para sentir o seu corpo, com o seu calor e sentir que ele ainda faz sentido, que ele ainda é querido, que está vivo e que vai sobreviver. E chora baixinho. A vontade é gritar, dar murros na parede mas já não são horas, já não são horas. Mas as lembranças não param, o aperto no peito não pára, não dá descanso. As lágrimas caiem sem controlo e a raiva, muita raiva!, domina por completo. E a menina diz, muitas vezes, a si mesma, repete incessantemente mas baixinho "não vale a pena, não vale a pena, descansa, deixa assentar, amanhã vai ser melhor, amanhã vais ser crescida outra vez".

sexta-feira, outubro 09, 2009

E hoje os astros dizem...

Mais vale prevenir do que lamentar, mas não deixe que a prevenção se converta numa obsessão. Seja mais constante.



Nada a ver... Maya, amiga, nada a ver. Não tenho nenhuma tendência para desenvolver obsessões. O facto de sentir que o mundo está todo contra mim, que as pessoas são todas uma trampa e ter decidido que, para não me apanharem na curva da próxima vez, o melhor é mudar-me para o Tibete onde só tenho contacto com yaks que, acredito, não têm por hábito esconder debaixo do pêlo lanzudo armas brancas com as quais me poderão surpreender, durante a noite, para a boa da facada nas costas, é pura coincidência...

Ha... mas andam a pé que é uma beleza!

(alegando questões de segurança e de preservação das "tradições")

Pois com certeza! Então mas agora que jeito tem andar com gajas todas enroladas em tecido à pendura?! Têm que se preservar as tradições, e sem as aspas!! Ou bem que têm uma bruta mini-saia de imitação de cabedal comprada na feira a 3 euros, com a boa da "tranca" de fora para se poder pavoneá-la e fazer inveja aos outros machos ou então de que serve levá-la toda envolva em tecido a não deixar ver nem um bocadito de pele?? É como levar uma carpete enrolada presa ao porta-couves!

Além disso, existem de facto questões de segurança a ser tidas em conta... e se aquela gaita se desenrola toda e se prende no eixo da roda? Ou se enfia tubo de escape adentro? Ainda a gaja pega fogo, o veículo vai parar à sucata e depois é um vê se te avias! É só despesas, portanto...

Não... fazem muito bem... de facto, estes gajos do Hamas são muito à frente, sim senhor...


Que a força esteja comigo!

Email recebido no seguimento dos posts de ontem:

"Eiiiiiiiii, não fique assim, não seja negativa!!!!

Dicas para o dia de hoje:
Ocupe a sua mente com coisas positivas;
Veja as coisas pelo lado positivo;
e fundamentalmente
SFF, EVITE COMPORTAMENTOS REACTIVOS! (causam grandes perturbações na força)
Have a nice day :)"


É muito bom saber que, por pior que esteja a ser o dia, há pessoas atentas e que se dão ao trabalho de sair de si... por mim...

quinta-feira, outubro 08, 2009

Carta

Olá. Como vão as coisas? Por aqui tudo andando (lendo uns posts mais abaixo, vais perceber...). A vida mudou muito desde que te foste embora. Principalmente porque te foste embora. Imaginei muitas vezes como seria quando isso acontecesse. Imaginei-me a não sobreviver. E de facto, não sobrevivi. Porque o que eu era antes desapareceu contigo e não só. Não sou a mesma pessoa, nunca mais vou ser.

Esta que agora te fala é alguém que ainda não conheço bem. Mas é, sem dúvida, diferente e, também sem dúvida, bem menos interessante. Mais fria, mais amarga, mais desiludida, mais, muito mais, desconfiada e descrente na vida, no ser humano. Pergunto-me se já adivinhavas que isto fosse acontecer... Talvez. Sempre viste muito mais longe do que eu.

Dou por mim a imaginar que me vês. Dou por mim a ver-te abanar a cabeça e a pensar "esta miúda não tem emenda...". Dou por mim à espera que me guies. Porque és tu e porque não tenho mais ninguém a quem recorrer. Quero dizer, tenho pessoas há minha volta, sim. Pessoas boas e pessoas más. E as pessoas boas são muitas, felizmente, embora as más façam mossa. Mas nem é por aí. A verdade é que... ninguém me lê como tu. Ninguém. Ninguém me conhece como tu. Ninguém me entende como tu.

Eras a minha base de sustentação. O pilar principal desta estrutura que parece tão robusta mas que, no fundo, é tão frágil, muito mais frágil do que sempre quis admitir. Tirando-te, cai tudo. E caiu.

Tenho aprendido muito nos últimos tempos, sabes? Muito mesmo. Mas não tem sido uma aprendizagem nada fácil porque as lições que tenho tirado são lições muito duras, na maioria dos casos. E tristes também. Negativas. Tenho conhecido e sentido na pele o desprezo, a raiva, a solidão, a desilusão, a desconfiança. Tenho aprendido que nada é certo, que a maioria das pessoas não vale o que lhes damos, que o ser humano tem falhas incríveis sendo algumas delas o egoísmo, a insensibilidade, a frieza, o desamor, a falta de amizade e consideração pelo próximo. Tenho aprendido que não consigo lidar com isso e, acima de tudo, que também eu consigo ser esse tipo de ser humano. Tenho aprendido que fui (sou?) ingénua demais. Acreditei demasiado em mim, na vida, nos outros. Acreditei mesmo porque achava que via. E afinal não via nada ( e lá está, o abanar de cabeça e a expressão de quem não se surpreende...).

Disseste-me uma vez que, com o passar dos anos, o que acontece pontualmente dilui-se no mar imenso que é a vida. Que, por vezes, exacerbamos o que nos acontece em determinado momento, que na altura nos parece fulcral, decisivo, e só mais tarde vemos que afinal não tinha assim tanta importância tendo em conta tudo o resto, tendo em conta a vida toda, que é muito maior. Ou até tinha mas que podia ser resolvido, ultrapassado e que, por isso, não nos deviamos agarrar a ele para ditar tudo o resto. Pois eu espero que estejas errado. Porque quero que este momento me sirva de lição. Quero tirar tudo o que posso daqui e aprender a não repetir, nunca mais. Quero que este momento molde a minha vida. Porque, como se diz quando nos referimos a determinados períodos da História, o que se esquece, o que se minimiza tende a repetir-se. Este é o meu holocausto. Não o quero esquecer, não quero que se dilua.

Em relação à nossa pessoa em comum, o percurso não tem sido fácil. É complicado gerir o que se pode dar e o que seria necessário. Sinto que falho, também aí, por incapacidade. Não consigo dar mais do que isto porque corro o risco de esgotar ( e tu sabes como é fácil que se esgote..!) e depois não ter para mim, entendes? E como não tenho onde ir recarregar... Mas tenho noção, todos os dias, que o que dou não é suficiente. Sinto-me egoísta mas aprendi que tem que ser, é necessário. Estando aqui talvez me recriminasses. Tenho esperança que, estando aí, consigas ver mais além.

Às vezes tento ouvir-te. Olho para cima, observo e sinto o vento e esforço-me muito para sentir o que me dizes. Porque sei que me estás a dizer alguma coisa. Sei. Acredito. Porque a sensação de abandono não pode ser total. Tenho que acreditar. Mas não ando a conseguir ultimamente. Ouço o vento, vejo as folhas a pairar, os ramos a abanar mas não consigo ler a mensagem. Mais uma vez, incapacidade minha certamente...

Sabes, uma coisa que me diziam é que os meus olhos falavam. Quando estava feliz, havia brilho, quando não estava havia uma espécie de névoa. Eu até podia estar a sorrir, a disfarçar, a não querer que se percebesse mas os olhos denunciavam tudo o que ia cá dentro. Tenho olhado ao espelho, sabes, tenho olhado muito ao espelho. Queres saber o que vejo? Não vejo brilho, não vejo névoa. Não vejo absolutamente nada.

Desculpa o tom melancólico desta carta. Mas tu conheces a razão, tu sentes, não é? Prometo que vou tentar fazer melhor para a próxima. Porque quero continuar a escrever-te. A falar contigo através da escrita. Quero sentir que me lês. E quero escrever-te sobre coisas boas. Porque elas existem e vão sempre existir, eu sei, embora agora não as consiga ver bem. Ou melhor, sentir. Mas quero que esta carta seja a primeira de muitas e quero que as recebas e guardes como sempre fizeste com as prendinhas que te dava, tão mal amanhadas, feitas na escola primária. Cinzeiros, pisa-papéis e afins, de barro torto e mal pintado, mas que iam enchendo a primeira gaveta da tua mesinha de cabeceira. Tens uma mesinha de cabeceira aí? Pois então pronto, enche-a agora de mim também.

Os 3 Ps

Chega. Acabou. Tem que acabar. Tenho que deixar de ocupar a minha mente com aquilo que me faz mal. O que me faz mal não me merece. Não merece o meu tempo, a minha energia, o meu desgaste. Eu tenho muito mais para dar, sou muito mais que isto e devo usar-me ao serviço do que me faz bem. Devo dar-me ao que de bom me rodeia e que pode, merece, verdadeiramente, usufruir de quem eu sou e do que há de bom em mim. O que me faz mal é mau, é ruim, corrosivo, reles, mesquinho, baixo, menor e deve ser, pura e simplesmente, anulado da minha vida. Não presta, não vale o esforço. Não vale nada. Tem a importância que lhe dou. Logo, é urgente não lhe dar importância nenhuma. E isto inclui pensamentos, posturas, pessoas.

Setback

Hoje acordei a sentir uma enorme desilusão em relação à vida, em relação às pessoas. Acredito que se tenha vindo a acumular ao longo destes últimos tempos. Hoje concentrou-se toda num mesmo pensamento, num mesmo pesar de ombros. De facto, nunca se conhece verdadeiramente ninguém e, o mais provável é que, quem julgamos conhecer melhor seja justamente quem nos vai desiludir mais. E com essa desilusão tão presente pergunto-me: afinal, o que é que havia antes?

quarta-feira, outubro 07, 2009

Cerejas

Uma puxa a outra... era jantar com uma para conversa séria, passou a jantar com duas para conversas, em dose dupla, sérias e nem por isso. Pois que venham elas!

A "nossa" M. E.



E assim chegou, de repente, mais uma fonte de amor à minha vida. E é por estes momentos que vale a pena andar por cá.

Welcome, baby Mary. Welcome.

Que este mundo saiba merecer-te.

O processo (mas não o de Kafka...)

O que nos faz mudar cá dentro? O que faz com que estejamos bem num dia, mal no outro e depois mudemos outra vez, se assim tiver que ser, sem que, muitas vezes, haja uma razão concreta, óbvia, que se possa apontar? O que despoleta a mudança? Porquê? Em que momento ela ocorre exactamente?

Muitas vezes, olhamos para trás e vemos que bastou uma determinada palavra, em determinado momento, ou um determinado gesto. Um olhar ou um sorriso, um abraço ou um voltar de costas. Algo muda naquele instante.

Comigo, regra geral, não é nesse momento que percebo mas sim mais tarde. Não é algo que me faça "ver a luz" automaticamente. Penso que a minha desconfiança natural contribui para que assim seja. À partida, desconfio. Portanto, e sendo perfeitamente inconsciente, necessito de tempo para assimilar e para que o momento produza efeitos em mim, se tiver que produzir. E um dia acordo... e deu-se.

Invariavelmente dou por mim a tentar analisar. O que foi? O que não foi? Quando foi? Será para durar?

Invariavelmente ouço: o que é que isso interessa?

Invariavelmente, e fazendo jus à minha curiosidade inata à qual se junta a necessidade de controlo, penso sempre que interessa imenso e passo tempos a avaliar, a medir, a ponderar, a tentar entender o processo para que ele, eventualmente, se possa repetir sob o meu comando.

Invariavelmente, acabo por desistir. Porque nunca é só uma coisa. Nunca é. Sim, foi o abraço naquele momento, sim, foi a palavra naquele dia, sim, foi o choque no outro e sim, foi a conversa com aquela ou aquelas pessoas. E foi a postura da outra e foi aquele sorriso quando não estava a contar e foi o olhar naquelas circunstâncias a falar mais do que palavras.

E fui eu. Eu. Acima de tudo, eu. Porquê? Quando? Como? Onde? O que é? O que significa? Quanto durará? Acho que não depende de mim. Ou, se calhar, só depende mesmo de mim...

terça-feira, outubro 06, 2009

Guia

Dá-me uma luz. Tu, que já estás num plano superior, acima de tudo, que já não tens a visão turvada pelo entrelaçado das coisas mundanas. Tu, que já conheces o que realmente importa conhecer, que já consegues ouvir o que os corações dizem muito para além do ruído que a nós nos ensurdece. Dá-me uma luz. Encaminha-me.

segunda-feira, outubro 05, 2009

Pesadelo

Sonhei que já não me conseguia lembrar de como soava a tua voz...

É uma casa portuguesa, com certeza...

(neste caso, restaurante português...)




sexta-feira, outubro 02, 2009

Discurso directo

"Uma das coisas mais importantes que já aprendi é que é a vida que nos traz respostas. Por isso, temos que a deixar correr e aprender a esperar. Custa muita controlar a ânsia de resolver, chegar a conclusões, tomar decisões, escolher caminhos. Eu sei que custa! Mas é preciso. E não vale a pena tentar fazer de outra forma. O mais certo é que a ânsia te faça fazer asneiras. Achas que estás a resolver, a escolher um caminho mas o que vai fazer é com que corras, te canses e te iludas porque, efectivamente, não vais conseguir chegar ao lugar que devias. Vais encontrar um lugar, sim, mas não o teu. Acalma-te e espera. Vais ver que vais encontrar as respostas de que precisas. Elas vêm ter contigo, mais cedo ou mais tarde.

E confia no tempo. Ele é amigo, não inimigo. O que tiver que ser, será, por mais que ele passe. Quando algo é verdadeiro, é verdadeiro sempre, hoje e daqui a 2 anos. Se o tempo o fizer desaparecer é porque não tinha valor logo à partida. O tempo encarrega-se de fazer a triagem por ti."

Águas paradas

Morno é igual a sereno, pacato, seguro, quieto. Morno é igual a controlável. Morno é diferente de arrebatado. Morno é diferente de emotivo. O que é morno não tem vida, não tem emoção, não tem energia e facilmente fica estagnado. Morno não é carne nem é peixe. É assim assim.

Há quem goste do morno, há quem se sinta feliz com ele porque permite ter controlo sobre as emoções, boas e más, e não chateia muito, não dá muito trabalho. Está lá e pronto. Não dá luta. Não torna os dias sempre diferentes, aliciantes, com altos e baixos o que para muitos é o melhor. É um sossego...

Para mim, é para quem se contenta com pouco. Para quem se contenta em sentir apenas pela metade. Para quem confunde insipidez com calma e paz interior. Para quem não tem interesse em viver verdadeiramente ou para quem já desistiu de ser mais feliz do que isso.

Eu não desisto. Não quero nada morno para mim.

Power off

Há alguma coisa pior do que perder a esperança? Há. Querer matá-la, ter que a matar e verificar que ela é, tão somente, uma das minhas artérias principais, das que mais me alimenta, que mais me faz viver, das que mais bombeia sangue e energia directamente para o coração. É vital, está entranhada no meu código genético, é parte da base que me sustenta e de onde partiu a minha construção como ser humano.

Extinguindo-a, apago um sem número de luzes que normalmente me iluminam. Extinguindo-a, grande parte de mim fica completamente às escuras. E sou eu que vou desligar o interruptor.

quinta-feira, outubro 01, 2009

Frase do dia de ontem publicada com atraso

Mas mais vale tarde do que nunca...

Pain is inevitable. Suffering is optional.
M. Kathleen Casey

Liguem! Não custa quase nada e pode fazer toda a diferença


Amor é...

... eu e o gato G. partilharmos a almofada todas as noites...

quarta-feira, setembro 30, 2009

D mais O mais I mais D mais A igual a ..?

Chegámos ao fim de Setembro. Reparo agora que foi o mês com mais posts de todo o sempre! Motivo para comemoração? Hardly... E as razões, quais são as razões? Ando mais "faladora"? Não tenho o que fazer? Entrei em alguma competição imaginária de blogs para ver quem diz mais coisas que não interessam a ninguém em menor espaço de tempo? Tenho a cabeça cheia de treta, preciso deitar cá para fora e como já ninguém me atura despejo aqui porque este, ao menos, não se queixa? Estarei a ficar esquizofrénica e, embora na realidade esteja a falar sozinha, acho que o computador é, no fundo, a minha educadora de infância a fazer jogos de palavras comigo?? Anyone..? Anyone..?

Tenho para mim que é bem capaz de ser tudo junto...

Robot

Quero mudar. Quero conseguir que a racionalidade se sobreponha a tudo. Quero que o meu cérebro comande e não o meu coração. Quero dizer a mim própria "não", "sim" e todas as outras palavras definitivas e passar a senti-las. Eu sei que é possível, já vi acontecer. Eu quero isso para mim. Estou cansada de não ter mão no que sinto. Quero controlar o coração para ele sentir apenas o que quero. Quero controlar os meus dias, o meu estado de espírito, quero conseguir rir quando me apetece, quero conseguir não chorar, mesmo quando é só por dentro. Quero conseguir viver o que deve ser vivido e desprezar o que me faz mal bastando para isso dar uma ordem. Quero poder dizer a mim própria o que devo sentir e senti-lo. Quero que dizê-lo seja o bastante.

Isto faz de mim qualquer coisa parecida com uma máquina? So, be it.

Make a wish

Amanhã vai ser melhor, amanhã vai ser melhor, amanhã vai ser melhor...

segunda-feira, setembro 28, 2009

Lá atrás... #2

É esta..!

O gato lambareiro

Era uma velha que vivia numa ilha.
Era uma velha que vivia numa ilha.

E tinha um gato com olhos cor de ervilha.
E tinha um gato com olhos cor de ervilha.

Mas esse gato gato era muito lambareiro.
Mas esse gato gato era muito lambareiro.

Andava sempre, andava sempre ao cheiro.
Andava sempre, andava sempre ao cheiro.

Mas certo dia sem a velha dar por isso.
Mas certo dia sem a velha dar por isso.

Foi à cozinha e comeu o chouriço.
Foi à cozinha e comeu o chouriço.

O velho chega, chega p'ra jantar.
O velho chega, chega p'ra jantar.

E vê a velha na cama a soluçar.
E vê a velha na cama a soluçar.

Mas ó mulher o que tens o que foi isso.
Mas ó mulher o que tens o que foi isso.

Foi o nosso gato que nos comeu o chouriço.
Foi o nosso gato que nos comeu o chouriço.

O velho pega, pega num cacete.
O velho pega, pega num cacete.

E põem o gato a andar de rabanete.
E põem o gato a andar de rabanete.

Nada a declarar

Mais do mesmo, mais de tudo, mais de nada.

Mais vale estar calada.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Palavras

Não.

Areia

Vou deixar de fazer contas. Vou deixar de contar o tempo. Concluir, factualmente, que ele está a passar desespera-me. Quero agarrá-lo e não consigo, ele escorre entre os dedos. Tenho que deixar de fazer contas. Contas dos dias que passaram, dos dias em que a saudade entrou na minha porta e nunca mais saiu, dos dias de distância, afastamento, dos dias que me separam de uma outra vida. Tenho que deixar de contar os dias, as semanas e, agora, principalmente os meses. Os meses doiem mais que qualquer outra medida porque são o ponto de não retorno, são eles que fazem a ponte entre o pouco e o muito tempo. Os meses já não só dias, já não são só semanas e estão a um passo de se tornar anos. E quando se começam a contar anos é porque já estamos longe demais.

quinta-feira, setembro 24, 2009

FarmVille ou o desejo secreto que há em cada um de nós, trabalhadores citadinos, de querer mesmo é plantar batatas

Colega a despedir-se de mim:

"Até amanhã. Vou limpar uma quinta! ;)"

Correnteza

Quebrar o ciclo. É urgente quebrar o ciclo. É imperioso sair da enxurraga, deixar de permitir que nos levem contra vontade. Tomar o destino nas mãos. Só resta saber se se consegue nadar contra a corrente e chegar, finalmente, a terra seca. Mas o ciclo tem que ser quebrado, interrompido porque se continuar corre-se o risco de submergir definitivamente.

Constatação #2

A solidão é, acima de tudo, um estado de espírito.

quarta-feira, setembro 23, 2009

És tu, sopeira... és tu que vens aí?

Sempre me irritaram as pessoas que, ao perguntar-se-lhes "Então, tudo bem?", respondem, com um ar mais ou menos enfadado e encolher de ombros, "tudo andando" ou "vai-se indo". Porque não dizem sim ou não, tudo bem ou tudo mal? O que quer dizer "andando"? Andando andamos todos nós, certo? Tem que ser, anda-se e pronto. Mas a vida não é só isso, é sempre mais qualquer coisa. Dizer "vai-se indo" é redutor, é mole, é assim assim, sem sabor. Vai-se indo como, senhores?!? É uma expressão tão desinteressante... de gente poucochinha, com uma visão redutora das coisas da vida, de quem não vive as coisas em pleno e se contenta com pouco ou não se contenta com nada, sei lá. De quem não sente nada a 100%, de quem anda a meio gás. É morno... e, ainda por cima, não quer dizer nada de especial. Quem ouve fica a saber exactamente o quê? Nada, absolutamente nada!

Mas... como se costuma dizer (embora não seja fã da expressão acho que para aqui não há outra melhor): quem cospe para o ar, arrisca-se a que lhe caia em cima (a imagem, por si, é do pior... mas ok...). E é isso mesmo que me está a acontecer. Nos dias que correm, quando me perguntam sobre o meu estado de espírito, o que me ocorre é isso mesmo: vou andando. Portanto, ando a levar com cuspidela atrás de cuspidela (aargghh..).

Enfim...

E porquê? Porque digo "vou andando"? Parece complicado mas é mais ou menos simples:

Ando porque tem que ser, essa é a primeira razão. Eu e toda a gente. Na vida anda-se para a frente mesmo que não se queira. O mundo gira, os dias vão passando e nós vamos passando por eles também, sempre em frente. É assim que a coisa funciona.

Por outro lado, não posso dizer que está tudo bem. Não está, seria mentir. Como é óbvio, se for preciso, minto. Se o interlocutor for a vizinha do lado ou a senhora de mercearia, a resposta é, acompanhada de sorriso mais ou menos estonteante, "tudo óptimo!", por razões óbvias. Mas para quem me conhece... Além disso, apesar de todos os cursos e workshops na área, não sou assim tão boa actriz quando se trata da realidade. Essa, infelizmente, e para quem vê para além do óbvio, está espelhada na minha cara, na minha voz, nos meus olhos (as p**** das rugas, portanto...).

Podia dizer: tudo mal. Podia... mas não está tudo mal. Penso sempre que há quem esteja muito pior. Há pessoas a dormir na rua, a sofrer com guerras mesmo na soleira da sua porta, há pessoas com fome. Isso sim, é estar mal. E, comparando, não posso dizer que estou. Além de que... já chateia, francamente! Eu já estou farta de me sentir mal e calculo que os outros, que me ouvem, também devem estar! Deve ser extremamente aborrecido, passado um certo tempo, continuar a ouvir lamúrias e lamentos e a ver olhos de carneiro mal morto! Eu sei que, a mim, já começa a fartar! (E com isto acabei de chegar à conclusão que estou cansada de mim mesma... olha que bonito...).

Bom, posto isto... resta o quê? O "vou andando", nem mais. Que não é coisa nenhuma, que é assim assim, que é uma seca de uma resposta e que critico veementemente! Mas é o que é.

Mais uma vez, e visto que parece que estou em maré de assumpções, há que assumir também isto com frontalidade: nos dias que correm, sou uma pessoa do "vou andando". Sou a D. Amélia, dona de casa reformada, que ocupa os dias a falar com as vizinhas sobre as suas artroses e sobre as discussões que ouve vindas do 3º esquerdo; sou a porteira do prédio cuja ambição maior é comprar um candeeiro de tecto, tamanho XL, todo feito de vidrinhos brilhantes para cair sobre a mesa da casa de jantar que, por sua vez, nunca é usada a não ser quando recebe os primos da Suíça, e aí poder dizer-lhes que aquilo "foi para lá de um dinheirão!"; sou o TóMané cujo maior sonho é instalar um avançado na sua roulotte do parque de campismo da Costa da Caparica para que, no próximo Verão, possa assar sardinhas à sombra enquanto bebe umas valentes "jolas" e mete inveja à restante malta do complexo...

É verdade... sou, actualmente, uma pessoa do "vou andando" e temo que esteja a um passo de começar a ir "andando" de bata e rolos na cabeça ao minimercado da esquina... Meeeeedo! Muito!!

terça-feira, setembro 22, 2009

Uma outra visão da coisa ou uma história para boi dormir

Sou um pequeno comboio de mercadorias (Um comboio, vês? Um comboio...).

Ali vou eu, no meu caminho, na minha linha, a fazer o meu percurso, calmamente, dentro do horário. De repente, um choque frontal com uma composição bem maior. Sem aviso, sem fuga possível. Saio dos carris com violência, a mercadoria no vagão é projectada para todos os lados. E eu vou, empurrado pelo impacto, parar algures, uns quilómetros, muitos quilómetros!, afastado da minha linha.

Durante um tempo ali fico. Sem andar, danificado, sem qualquer capacidade de voltar aos carris sozinho.

Mas os dias vão passando, os estragos são analisados e os arranjos vão-se fazendo. Peças velhas são recuperadas, outras só servem para deitar fora. A pintura tem que ser refeita e há muitos ferros amolgados, a precisar ser endireitados. Aos poucos, a pequena composição vai tomando forma de novo. Não a forma inicial mas alguma forma, a forma possível.

O chefe de estação agita-se, o comboiozinho tem que se fazer à vida! Há que voltar à linha, recomeçar a andar, fazer o seu percurso. Há outras estações, mais adiante, à sua espera. Há horários a cumprir e há mercadoria nova à espera no cais.

Mas ainda não é possível. O novo mecanismo ainda não está oleado a 100%, a máquina antiga ainda não o reconhece. E a velha mercadoria, antes arrumada e organizada dentro do vagão, jaz agora sem qualquer nexo. Caixas por cima de caixas. Objectos espalhados por todo o lado. É necessário tempo para pôr tudo em ordem de novo. Há que recolher o que caiu, ver o que se aproveita e o que se dispensa, encaixotar, catalogar, organizar nos seus devidos lugares. Só assim a mercadoria nova pode entrar. Só assim há espaço para ela.

Enquanto isso, enquanto arrumo e não arrumo, aguardo na estação, a ver os outros comboios passar. E espero. Até que a bandeirola dê outra vez o meu sinal de partida.

Boreal



E assim, finalmente, acaba o Verão mais comprido da minha vida. Recebo o Outono de braços abertos e espero, à semelhança do que acontece com as árvores, que vêem as suas folhas cair e forrar o chão, poder assistir, também eu, à minha própria renovação.

segunda-feira, setembro 21, 2009

Ora nem mais!

Danos colaterais

Aqueles que não são parte da guerra mas que, por estarem perto, apanham também com os estilhaços. Aqueles que não têm culpa ou acção ou mão em qualquer acontecimento mas que estão no nosso mundo e, como tal, acabam por sofrer também as consequências quando este se vira do avesso. Aqueles que são afectados sem nada ter feito e sem nada poder fazer.

domingo, setembro 20, 2009

Domingo domingueiro

Dia calmo, sem nada planeado, sem nada de especial para fazer. Dia de cafezinho no sítio do costume, ainda de manhã, para apanhar sol e arejar. Dia de almoço tipicamente português, no forno, bacalhau com azeite e alho. Dia de colagem de gato partido e sintonização da tv emprestada. Dia de biscoitos, os tais, que acabaram por ficar iguais aos primeiros, e de deitar conversa fora, sobre tudo e sobre nada, e de não dizer nada também. Dia de fazer sopa para a semana e companhia aos gatos embora tivesse sido trocada pelo sol a bater na parte de trás da casa. Dia caseiro, calmo, sem nada planeado, para fazer frente à semana que aí vem.

sexta-feira, setembro 18, 2009

Bons modos

Reparei agora que o corrector ortográfico do Outlook não reconhece a palavra "merda". Mas existe vocábulo mais português do que este?!

(Para aqueles que, neste momento, se interrogam sobre o facto de eu ter estado a escrever "merda" num email... don't ask...)

"Uma meia meia feita, outra meia por fazer. Diga lá, minha senhora, quantas meias vêm a ser?"

Era o ponto de partida para a minha mãe começar a despejar uma série de adivinhas do mesmo género que me deliciavam quando era pequena. E eu alegremente respondia, perante a cara estupefacta da minha progenitora: 5!! (pronto, a matemática nunca foi o meu forte... mas o que interessa é participar, certo?? e eu tinha outras qualidades...)

Nunca fui muito pessoa de "meias". Não me refiro às de calçar, dessas gosto até porque os meus pés têm tendência a gelar mais do que qualquer outra parte do meu corpo. Mas coisas a "meias" ou meias estações ou fazer as coisas pela metade... Meus caros, ou é ou não é, ou se come tudo ou não se come nada, ou é uma coisa ou é outra! Por exemplo: comer um doce a meias. Complicado. Geralmente acedo e até proponho com o intuito de me ajudar a controlar a lambarice. Assim só ingiro metade das calorias. Mas desgraçado de quem partilhar comigo... é que vou comendo, comendo, comendo, e se a pessoa não está atenta, vou à parte dela sem dar conta e pronto. É mais forte que eu! Porque se está lá... está a olhar para mim... está a pedir para ser comida... Complicado.

As meias estações, essas então, dão cabo de mim. Ou bem que está calor, ou bem que está frio, caramba! Eu sou pessoa ou de sandálias ou de botas! Tudo o resto me parece um desperdício de tempo, de recursos, de energia. Mas as ditas meias estações existem e eu tenho que lidar com elas... e quando começam... "bolas! não tenho roupa de meia estação, não tenho sapatos de meia estação... bolas, de manhã está frio, ao almoço está calor, à noite está frio outra vez, levo casaco?... e agora chove, e agora está sol... argghh! Decidam-se!". Complicado...

E fazer as coisas pela metade... dá-me nervoso miudinho! É coisa de gente pouco decidida. Se é para fazer, então que se faça de uma vez! "Ah... faço agora meio xixi e daqui a bocado mais meio.." ou "ah.. penduro agora meio quadro e depois o resto". Faz algum sentido?? Então porque não se aplica a norma a tudo? Que necessidade há de arrumar parte do armário hoje e a outra amanhã? Parece que se cansam pelo meio, não sei. É muito mais fácil, já que estamos com a mão na massa, arrumar tudo de uma vez e ficarmos despachados, não é?

E neste seguimento, tudo o que se relaciona com estar no "meio". Há quem lhe chame equilíbrio. Pois, depende dos casos. Eu também lhe chamo "síndrome da Suíça". Muitas vezes estar no meio significa não se comprometer com uma posição. Nem para um lado, nem para o outro. Não assumir uma escolha. Andar ali a ver para onde pende a balança, a analisar, a ponderar... E eu detesto ver-me assim. E mais detesto quando sei e sinto que não estou a conseguir agir de outra forma. Dou voltas à cabeça, penso, penso, e... não chego a lugar nenhum. Se formos a ver... há ainda um terceiro nome para isto: limbo.

Ironia das ironias: para uma pessoa como eu, que gosta de tudo bem definido e arrumado e decidido, olho à minha volta, dentro do "meu" mundo tresloucado, e só vejo "meios xixis"! Está tudo a meio, pela metade, assim assim, nem para um lado nem para o outro!

E, para piorar, o Outono está aí à porta...

Não hei-de eu andar a precisar de drogas... irra!

quinta-feira, setembro 17, 2009

Pescadinha

Parece que não tenho sono, deito-me tarde. Deito-me tarde, não me consigo levantar de manhã a horas decentes porque nessa altura estou cheia de sono. Não me consigo levantar de manhã a horas decentes porque nessa altura estou cheia de sono, ando a correr e chego tarde. Ando a correr e chego tarde, fico danada porque assim também não consigo sair cedo e o dia parece que se arrasta porque estou podre. O dia parece que se arrasta porque estou podre mas à hora de, finalmente!, sair parece que recupero energias. Recupero energias e parece que não tenho sono, deito-me tarde.

A sério... eu juro que já fui uma pessoa normal... não me lembro bem, mas já fui, de certeza...

quarta-feira, setembro 16, 2009

Desabafos de quem quer encontrar algum sentido na confusão mas não consegue até porque, às vezes, nem faz por isso

Há alturas na vida assim, parece que o mundo está contra nós. Coisas grandes, coisas pequenas, coisas assim assim. Tudo se junta. E nós a termos que as gerir conforme podemos.

Há coisas que não podem ser resolvidas. São o que são e não há nada a fazer. Temos que as aceitar e viver com elas. Há outras, regra geral mais pequenas, que até são de fácil resolução. Mas, e se calhar justamente por isso, vão sendo deixadas para trás. Só que... pequenas, pequenas mas não invisíveis. Continuam lá, quietinhas, mas devolvem o olhar quando olhamos para elas e dizem: "estou aqui, estou aqui, ainda não me resolveste...". E se há coisa que me tira do sério são, justamente, coisas por resolver...

Mas o ser humano é um bicho estranho. Ou melhor, pelo menos este ser que vos fala é. Irritam-me as pendências mas não trato delas como e quando gostaria. Depois irrito-me porque não tratei o que, por sua vez, origina ainda mais falta de disposição que se vai juntar ao rol de desculpas para continuar a não tratar! É a p*** da bola de neve! E lá vou eu rolando, rolando, montanha abaixo, cada vez a ficar mais presa enquanto a bola aumenta de volume. E diz que a coisa só se resolve quando chegar ao sopé da dita e a bola se desfizer. Ou então se, no caminho, me espetar contra uma árvore ou entrar, inadvertidamente, numa casa em chamas e a neve derreter, sei lá. Enquanto isso, lá vou rolando, rolando e engolindo pirolitos... ou flocos, não sei bem o que se aplica neste caso.

O meu carro é uma dessas pendências. Temos pena, coitadinho, velho e valente amigo, mas há que encarar com frontalidade: o meu "EU" (o carro, não o outro... ou se calhar também o outro...) já deu o que tinha a dar. Anda nas horas se assim lhe for solicitado mas tremelica por todos os lados, tipo cadeira de massagem para dar conta da celulite, e faz um barulho ensurdecedor! Por um lado, tenho sorte, como vivo perto do aeroporto os vizinhos não levam a mal porque acham que é um avião a descolar. O pior é que o barulho está lá mas o gajo não voa, o que até dava um certo jeito em determinadas circunstâncias. E também não elimina a celulite. Mas adiante.

Para além disso, bebe demais. Não sei se é assim desde o início da nossa relação e o amor impedia-me de ver, se com a idade está pior... o que é certo é que já começa a não haver dinheiro para lhe sustentar o vício! Volta e meia, e quando achava que ainda ia levar o seu tempo até voltar à bomba, lá dou por ele só a andar a vapores. Não há carteira que aguente. Tenho sorte que não me bate mas mesmo assim... não sou mulher de sustentar bêbedos!

Para rematar, e aqui a culpa não é dele, 'tadinho, há que assumir, ele anda... vá... quero ver se sou meiguinha... nojento!! Não é lavado há... err... muitos dias! E porquê? Porque quero lavar por dentro e por fora e, à excepção dos Mister não o quê que existem nos centros comerciais, não encontro uma alma caridosa que faça o serviço completo, salvo seja. Ora... sendo assim, não vou gastar uma pipa de massa para ficar brilhante por fora sendo que lá dentro continuam a formar-se comunidades de fauna diversa. Não faz sentido. E para aumentar um bocadinho mais a camada de porcaria, há a trampa dos folhetos de tudo e mais alguma coisa que me espetam nos vidros! (Sim, sim, esta é a minha mais nova guerra de estimação. Tenho algumas considerações a fazer sobre o tema, incluindo propostas de lei e devidas coimas/castigos corporais a quem não cumprir as regras mas isso fica para um outro post). Não há direito, passo a vida a guardá-los no porta luvas para não os deitar para o chão e, claro, nem sempre me lembro deles lá e o tempo vai passando e já se vê onde quero chegar.

Para piorar, houve um dia que decidi borrifar-me num determinado folheto que estava mesmo à frente do lugar do condutor (tudo planeado, claro está, pelas mentes brilhantes que distribuem aquela treta, para obrigar o desgraçado a pegar naquilo se quiser conduzir sem atropelar nenhuma velhinha) e deixei-o estar. E ele ali ficou. Choveu, fez sol, choveu outra vez e o danado, a dada altura, lá desapareceu. Mas, curiosamente, deixou marcas. O folheto era sobre uma clínica de próteses ali da zona e tinha uma senhora loura, muito sorridente, a anunciar as promoções. Ora, as intempéries fizeram das suas, a tinta manhosa do folheto também ajudou, o folheto saiu mas a senhora não! Fiquei portanto com a loura colada no vidro, meia de lado, a sorrir para mim!

Bom, mas isto tudo para dizer que há coisas da treta que atrapalham a vida por si só já complicada. São simples de resolver, não são nada demais, não são problemas graves. Mas chateiam. E eu ando numa fase que quero tudo menos que me chateiem.

De qualquer forma, e dado que de momento a minha cabeça não dá mesmo para mais, que se lixe! Assumo a bola de neve e cá continuo a rolar, a rolar sendo que tenho agora uma protésica (é assim que se diz?) para me acompanhar nas minhas viagens por essa montanha fora, sempre a olhar para mim... se formos a ver, podia ser muito pior!

Conselhos para saber viver #3

"Quando não se sabe o que se há-de fazer, o melhor é não fazer nada."

terça-feira, setembro 15, 2009

Lá atrás... #1

Este ano, o dia do meu aniversário foi um dos dias mais tristes da minha vida. Felizmente, para minimizar essa tristeza, tive a atenção de muita gente que não se esqueceu de mim. Telefonemas, visitas pessoais, abraços, beijos e prendas, com direito a papel de embrulho colorido e fitas e tudo!, de quem me quis animar nem que fosse só um bocadinho. De quem não quis deixar de o festejar, de quem não quis deixar que eu o esquecesse, que eu ME esquecesse. E tenho que confessar: hoje, olhando para trás e apesar de tudo, o que recebi nesse dia foram as melhores prendas do mundo.

Inconveniência

Amiga vai, pela 1ª vez a um determinado local, para fazer a depilação. Começa a preparar-se e eis senão quando...

Esteticista/depiladora: Ah..! Está de bebé?
Amiga: Errr... não... isto é mesmo assim...
Esteticista/depiladora: Ah...
Amiga (de si para consigo): Há-des ter hemorróidas, porca...!


O resto da sessão decorreu em pleno silêncio...

Quááá!

Sim, o Patrick Swayze morreu. Sim, todos temos pena, era um homem ainda muito novo, dançava que se fartava e parecia pessoa do bem o que faz sempre falta neste mundo. Mas... o colega de sala escusa de se pôr a cantalorar o "(I've had) The time of my life" em homenagem! O moço, que os deuses o tenham, lá onde estiver, deve estar a arrepiar-se e nós, os vivos, nem se fala! Tenha piedade, guarde a veia de pato canoro lá para casa...

segunda-feira, setembro 14, 2009

Back to basics

Para terminar em beleza uma noite de neura nada como umas quantas bolachas Maria embebidas em leite morno...

A verdade nua e crua

Nada como envolver alguns grandes e bons amigos para levar a cabo um pequeno exercício de autoconhecimento. A coisa era simples: cada um deles deveria nomear três características minhas. Teriam quer ser características marcantes, daquelas que não deixam dúvidas quando se fala de mim, que são "a minha cara", que me definem enquanto pessoa.

Antes dos resultados, apenas algumas notas importantes:

1. Todos, sem excepção, responderam.
2. As respostas variaram na sua apresentação de forma muito curiosa: houve quem nomeasse tipo lista de supermercado (arroz, farinha, teimosa, inteligente...), quem fizesse comparações (és assim e eu vejo isso porque eu sou mais assado ou sou igualzinha e como tal...), quem explicasse cada uma (digo isto porque aquilo e está, de certa forma, também relacionado com aquela outra que também faz sentido...) e quem dividisse entre o que sou verdadeiramente e o que mostro aos outros (para quem não te conhece pareces assim mas depois vai-se a ver...).
3. Ninguém, e repito, NINGUÉM nomeou só três! (Não sei se este tipo de exercício "puxa pela língua" ou se sou eu que sou muito complicadinha...)
4. Houve muito poucas características repetidas. (Mais uma vez... complicadinha...?)
5. Por último, não houve nada que me tivesse surpreendido. Houve menções das quais gostei mais, outras menos mas nenhuma me surpreendeu. O que me leva a nomear mais uma característica que ninguém apresentou mas apresento eu: a grandessíssima capacidade de autocrítica da minha modesta pessoa, ah pois é!

E posto isto, aqui vai a listinha maravilha organizada por ordem alfabética e sem rodeios! Aos que participaram o meu agradecimento.

O que sou:
Amiga - Antipática - Boa ouvinte - Brutinha - (Com) Carácter - Carinhosa - Controladora/Controlada - Convicta das suas ideias - Culpabilizada - Egocêntrica - Desconfiada - Determinada - Directa - Disponível - Divertida/Com sentido de humor - Doce - Espirituosa - Forte - Gentil - Insegura - Justa - Lúcida - Meiga - Perfeccionista - Perseverante - Recta - Responsável - Simpática - Teimosa

O que pareço:
Insensível - Fria - Sisuda - Snob


P.S.1: não houve uma alminha que fosse que seguisse as minhas sugestões... linda, inteligente que até dói, etc... não percebo porquê...

P.S.2: nope... ainda não foi desta que consegui a droga... aparentemente houve elogios a mais. Se tivesse sido uma lista profundamente negativa, aí sim, era droga, era camisa de forças, era internamento, era lobotomia até! Mas assim não deu...

Uma espécie de cookies... ou assim...

A ideia de fazer biscoitos ficou-me na cabeça. E o blog do costume não ajudou. Por isso, lá me enchi de coragem e resolvi experimentar esta receita. Parecia uma ideia engraçada, original e, acima de tudo, boa o suficiente para matar de vez o bicho guloso que me andava aqui a infernizar. Posto isto, aqui vamos nós! Saca do kit bolos, da batedeira e mãos à obra!

Uma coisa que me caracteriza é que, em princípio, sigo as receitas à risca. Mas não deixo que me espartilhem. Sou perfeitamente capaz de adaptá-las um pouco (há quem lhe chame inventar) se, por exemplo, não tiver algum ingrediente ou se antes dos 20 minutos de forno indicados o prato já me parecer em condições. Digamos que a vou moldando à minha medida, ao meu gosto, às minhas condições na cozinha se for preciso. E foi: por exemplo, tinha tudo menos os chips de chocolate. Ora, não faz mal, coloca-se outra coisa. Gosto de nozes, biscoitos com nozes é sempre bom. Aliás... bom, bom eram avelãs... e uma pitada de caramelo... boa! E se tostar as avelãs antes ainda melhor... isso! É mesmo assim que vai ser.

E lá começam os trabalhos. Ok, a massa está um bocado líquida, deixa cá ler melhor... grunf! diz na receita que tem que ir ao congelador umas 8 horas antes! Mas eu queria comer agora! Por isso, que se lixe, isto tem bom ar, sabe bem, é massa de biscoitos, certamente que dá para pôr já no forno. Portanto, toca de fazer os montinhos no tabuleiro. Pronto... os montinhos estão a desfazer-se um bocadinho, é certo, mas de certeza que, com o calor, assumem forma de... vá lá, bolachas ou assim. O que também é bom. E portanto, forno com eles (ou elas)!

Aguarda-se então um bocado, vai-se espreitando a ver como vai... ok, o facto de, no momento, os montinhos estarem-se a juntar e a formar um monobolo mole não estava propriamente planeado. Mas não há-de ser nada, uma vez cá fora, cortam-se e pronto. E quanto à consistência, diz na receita para tirar do forno mesmo assim e deixar arrefecer. Cá está! Depois de arrefecer ficam, de certeza, com consistência de bolacha (monobolacha, no caso)! E cheiram bem que se farta... hhumm....

Tirados do forno, resta esperar então...

O resultado foi este:



Lindos, não são?

Pronto... nunca ficaram crocantes ou estaladiços ou whatever que os biscoitos ou bolachas devem ser. Ficaram mais a atirar para a panqueca do que outra coisa, a bem da verdade. Mas isso não interessa nada! O que interessa é que os fiz e me lambuzei!

(Como não sou totalmente louca, guardei um restinho de massa e essa, sim, pus no congelador. Quem sabe, da próxima, a coisa já sai mais ou menos como deve ser.)

sexta-feira, setembro 11, 2009

Amargo de boca

Não sou pessoa do amargo. Sou pessoa do doce, do salgado, do picante, do ácido mas do amargo não. O amargo é corrosivo, não mata mas mói. É companhia desagradável que vai ficando, ficando, e mesmo que subtilmente, acaba por estragar o ambiente. Parece que já nada é bem o mesmo depois de o amargo se instalar.

Ultimamente, quase tudo me sabe a amargo. Ou melhor, o sabor que perdura é amargo. Café, cigarros, bife com ovo a cavalo, mousse de chocolate, tudo. Diria que o dente em processo de desvitalização não deve ajudar mas este é só mais um "penetra" que se veio juntar à festa. Porque é coisa que vem de dentro, existe para além das fronteiras gustativas, é o amargo instalado no geral.

Mente amarga que gera pensamentos amargos, conclusões amargas, visão amarga das coisas. O amargo que assume a forma de palavras, olhares, trejeitos. Que condiciona a postura da alma, a maneira como se enfrenta a vida. E o amargo que dobra as costas, que tenciona os ombros e o pescoço. Que faz aparecer borbulhas de adolescente já fora do prazo e que afunda as olheiras e as rugas. O amargo que tira o gosto pela cor, pelo espelho, pelas pequenas coisas que pintalgam a vida. O amargo que se manifesta na forma de desinteresse generalizado.

Não é bom e quase que nos leva ao engano de dizer que não é mau. Porque não é violento, agressivo, contundente, barulhento. Não faz chorar, não desespera, não dói. É simplesmente... amargo. Mas é mesquinho, manhoso e infiltra-se. Envolve como névoa, daquelas bem espessas e negras, e faz-nos deixar de sentir. Coloca-nos num estado de dormência tal que nos torna imunes a qualquer tipo de sentimento ou emoção. Do bem ou do mal.

Não sou pessoa do amargo. And yet... abri-lhe a porta sem dar conta. Agora só me resta fazer-lhe sala até ele se decidir por outras paragens.