Sou um pequeno comboio de mercadorias (Um comboio, vês? Um comboio...).
Ali vou eu, no meu caminho, na minha linha, a fazer o meu percurso, calmamente, dentro do horário. De repente, um choque frontal com uma composição bem maior. Sem aviso, sem fuga possível. Saio dos carris com violência, a mercadoria no vagão é projectada para todos os lados. E eu vou, empurrado pelo impacto, parar algures, uns quilómetros, muitos quilómetros!, afastado da minha linha.
Durante um tempo ali fico. Sem andar, danificado, sem qualquer capacidade de voltar aos carris sozinho.
Mas os dias vão passando, os estragos são analisados e os arranjos vão-se fazendo. Peças velhas são recuperadas, outras só servem para deitar fora. A pintura tem que ser refeita e há muitos ferros amolgados, a precisar ser endireitados. Aos poucos, a pequena composição vai tomando forma de novo. Não a forma inicial mas alguma forma, a forma possível.
O chefe de estação agita-se, o comboiozinho tem que se fazer à vida! Há que voltar à linha, recomeçar a andar, fazer o seu percurso. Há outras estações, mais adiante, à sua espera. Há horários a cumprir e há mercadoria nova à espera no cais.
Mas ainda não é possível. O novo mecanismo ainda não está oleado a 100%, a máquina antiga ainda não o reconhece. E a velha mercadoria, antes arrumada e organizada dentro do vagão, jaz agora sem qualquer nexo. Caixas por cima de caixas. Objectos espalhados por todo o lado. É necessário tempo para pôr tudo em ordem de novo. Há que recolher o que caiu, ver o que se aproveita e o que se dispensa, encaixotar, catalogar, organizar nos seus devidos lugares. Só assim a mercadoria nova pode entrar. Só assim há espaço para ela.
Enquanto isso, enquanto arrumo e não arrumo, aguardo na estação, a ver os outros comboios passar. E espero. Até que a bandeirola dê outra vez o meu sinal de partida.
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