quarta-feira, setembro 23, 2009

És tu, sopeira... és tu que vens aí?

Sempre me irritaram as pessoas que, ao perguntar-se-lhes "Então, tudo bem?", respondem, com um ar mais ou menos enfadado e encolher de ombros, "tudo andando" ou "vai-se indo". Porque não dizem sim ou não, tudo bem ou tudo mal? O que quer dizer "andando"? Andando andamos todos nós, certo? Tem que ser, anda-se e pronto. Mas a vida não é só isso, é sempre mais qualquer coisa. Dizer "vai-se indo" é redutor, é mole, é assim assim, sem sabor. Vai-se indo como, senhores?!? É uma expressão tão desinteressante... de gente poucochinha, com uma visão redutora das coisas da vida, de quem não vive as coisas em pleno e se contenta com pouco ou não se contenta com nada, sei lá. De quem não sente nada a 100%, de quem anda a meio gás. É morno... e, ainda por cima, não quer dizer nada de especial. Quem ouve fica a saber exactamente o quê? Nada, absolutamente nada!

Mas... como se costuma dizer (embora não seja fã da expressão acho que para aqui não há outra melhor): quem cospe para o ar, arrisca-se a que lhe caia em cima (a imagem, por si, é do pior... mas ok...). E é isso mesmo que me está a acontecer. Nos dias que correm, quando me perguntam sobre o meu estado de espírito, o que me ocorre é isso mesmo: vou andando. Portanto, ando a levar com cuspidela atrás de cuspidela (aargghh..).

Enfim...

E porquê? Porque digo "vou andando"? Parece complicado mas é mais ou menos simples:

Ando porque tem que ser, essa é a primeira razão. Eu e toda a gente. Na vida anda-se para a frente mesmo que não se queira. O mundo gira, os dias vão passando e nós vamos passando por eles também, sempre em frente. É assim que a coisa funciona.

Por outro lado, não posso dizer que está tudo bem. Não está, seria mentir. Como é óbvio, se for preciso, minto. Se o interlocutor for a vizinha do lado ou a senhora de mercearia, a resposta é, acompanhada de sorriso mais ou menos estonteante, "tudo óptimo!", por razões óbvias. Mas para quem me conhece... Além disso, apesar de todos os cursos e workshops na área, não sou assim tão boa actriz quando se trata da realidade. Essa, infelizmente, e para quem vê para além do óbvio, está espelhada na minha cara, na minha voz, nos meus olhos (as p**** das rugas, portanto...).

Podia dizer: tudo mal. Podia... mas não está tudo mal. Penso sempre que há quem esteja muito pior. Há pessoas a dormir na rua, a sofrer com guerras mesmo na soleira da sua porta, há pessoas com fome. Isso sim, é estar mal. E, comparando, não posso dizer que estou. Além de que... já chateia, francamente! Eu já estou farta de me sentir mal e calculo que os outros, que me ouvem, também devem estar! Deve ser extremamente aborrecido, passado um certo tempo, continuar a ouvir lamúrias e lamentos e a ver olhos de carneiro mal morto! Eu sei que, a mim, já começa a fartar! (E com isto acabei de chegar à conclusão que estou cansada de mim mesma... olha que bonito...).

Bom, posto isto... resta o quê? O "vou andando", nem mais. Que não é coisa nenhuma, que é assim assim, que é uma seca de uma resposta e que critico veementemente! Mas é o que é.

Mais uma vez, e visto que parece que estou em maré de assumpções, há que assumir também isto com frontalidade: nos dias que correm, sou uma pessoa do "vou andando". Sou a D. Amélia, dona de casa reformada, que ocupa os dias a falar com as vizinhas sobre as suas artroses e sobre as discussões que ouve vindas do 3º esquerdo; sou a porteira do prédio cuja ambição maior é comprar um candeeiro de tecto, tamanho XL, todo feito de vidrinhos brilhantes para cair sobre a mesa da casa de jantar que, por sua vez, nunca é usada a não ser quando recebe os primos da Suíça, e aí poder dizer-lhes que aquilo "foi para lá de um dinheirão!"; sou o TóMané cujo maior sonho é instalar um avançado na sua roulotte do parque de campismo da Costa da Caparica para que, no próximo Verão, possa assar sardinhas à sombra enquanto bebe umas valentes "jolas" e mete inveja à restante malta do complexo...

É verdade... sou, actualmente, uma pessoa do "vou andando" e temo que esteja a um passo de começar a ir "andando" de bata e rolos na cabeça ao minimercado da esquina... Meeeeedo! Muito!!

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