terça-feira, novembro 30, 2010

A batata, o sovaco, D. Sebastião e eu metida no meio disto tudo!

Já era noite e chovia a potes. O limpa pára-brisas a funcionar só de um lado e o vidro, para além de sofrer do normal embaciamento invernoso, ainda se conseguia revestir de uma película gordurosa qualquer que não sei se onde veio. Conclusão: não via um boi! Mas precisava ir, precisava andar, e lá fui eu, cidade afora, a conduzir como podia. Cada vez que parava num sinal limpava, limpava, limpava, ora com toalhetes, ora com lenços de papel, ora com um paninho, ora com a manga do casaco que o desespero já era grande! E só pensava: meu caro, a nossa relação está mesmo a chegar ao fim da linha...

Nisto, páro no último sinal antes de chegar ao meu destino e ouço uma buzinadela ao lado. Olho e o condutor faz sinal para que abra a janela. Desconfiada, lá me disponho a ouvir o que ele me tem a dizer:

- (com sotaque do Norte) Batata! Cum batata!
- Desculpe??
- Batata! Esfregue cum batata que resolbe!
- Errr... com batata? No vidro??
- Sim, esfregue batata (enquanto gesticulava em círculos) que isso sai tudo! Ou então com um cigarro, tombém dá...

O sinal abriu sem me dar tempo de abusar da simpatia do colega condutor do Norte e perguntar mais umas coisitas sobre os conselhos que me dava: mas... batata cozida? Crua? Frita? Se for frita vou já ali ao MacDonalds e esfrego um pacote no vidro! E essa coisa do cigarro... utiliza-se o fumo, é isso? Ou o cigarro propriamente dito? Deduzo que aceso... mas limpa-se a gordura com a brasa??? Porque isto é importante! É que aplicar a sabedoria popular à optimização da performance de peças automóveis não é para qualquer um, é coisa de profissional e eu precisava saber concretamente o que fazer! Mas pronto, não deu tempo e lá nos despedimos com um "obrigadinho, boa noite para si também!" Continuei e só me vinha à cabeça há quanto tempo aquela alma devia vir atrás de mim a ver-me conduzir toda torta e a atirar-me ao vidro feita louca a cada paragem forçada (ou nem por isso) para sentir necessidade de me aconselhar...

Mas enfim. A noite seguiu, com aromas orientais temperados de... sovac... cof, cof, cof... não, quer dizer... café!... (combinamos que aquele odor seria do café, alguma moagem especial, pronto...) enquanto a conversa boa fluia como sempre. Sissas são sempre sissas...

De novo no carro, as duas marrecas a tentar ver a estrada à nossa frente através dos únicos pedaços de vidro minimamente limpos, mesmo juntinho ao tablier... Mas já éramos duas, a tarefa estava facilitada...

Volto a casa através do nevoeiro (e o que eu gosto de nevoeiro!), tal qual D. Sebastião dos tempos modernos (faltava-me o colarinho em harmónio, é certo...), a piorar a visibilidade mas que se lixe, é bonito que se farta, adoro andar lá pelo meio!... e assim me brinda a meia-noite.

Paralelamente, o Universo a dar tréguas. Pode não parecer, amiga, mas é, acho que é essa a intenção d'Ele.

Paralelamente, a noção estranha que forças ocultas podem mesmo existir. Talvez por serem ocultas nunca lhes dei grande crédito mas sei lá, já não sei nada...

Paralelamente, a vida a correr. Muitas vezes embaciada também.

segunda-feira, novembro 29, 2010

Perfil

Outra vez capaz de devolver bofetadas na cara ou até mesmo de as dar por iniciativa própria... em vez de só levar.

(Este "até mesmo" caiu bem, não caiu? A dar a ideia de que só avanço quando não há outro remédio... suckers!!! ;))

Frase do dia

‎"Dreams are illustrations... from the book your soul is writing about you."
Marsha Norman


A minha alma anda muito ocupada, então... e deve estar a escrever um calhamaço!

Hot!

Quando as meias polares não resolvem o problema de pés congelados, o que é que há a fazer?!? Só me resta enfiá-los numa caldeira!

sábado, novembro 27, 2010

Carta V

Tenho hesitado muito em escrever-te. Tenho hesitado porque estou numa fase em que me falha a capacidade de verbalização... estranho, não é? Logo eu, que tenho sempre algo a dizer e digo... Mas desta vez é diferente. Tenho o que contar, o que explorar, o que dissecar mas... não sei como. E como se escreve sobre algo quando não se sabe como o verbalizar?

As coisas mudaram desde a última carta, como é suposto, como seria de esperar. O tempo foi passando, como é seu hábito, através de mim, comigo ou levando-me, foi passando e eu passei com ele como pude. E fomos mudando os dois, muitas vezes não a par e passo, mas lá fomos seguindo o nosso trajecto. E se o tempo por si só não muda nada, é um precioso auxiliar quando queremos ou temos que mudar e tomamos essa decisão. Tempera, favorece, acolhe a mudança e mima-a, fazendo-a crescer.

Mas, o tempo e eu, levámos-me a um determinado patamar que não consigo definir. Houve escuridão absoluta, fundo de buraco, floresta tenebrosa e densa, e eu lá estava "etiquetada" dessa forma. Mas agora não sei bem onde estou...

Por isso, hesitei em escrever-te. Porque queria dizer qualquer coisa como "agora estou assim e assado e fiz isto e aquilo e penso e sinto desta e daquela maneira" e não um "não sei...". Porque ninguém escreve a ninguém para dizer "não sei".

Mas confio. Confio que não precises das minhas cartas ou da minha verbalização para me entender. Confio até que estejas mais à frente do que eu e já saibas bem o que tudo isto significa. Por isso, e partindo desse pressuposto, aqui vamos então...

Estou a andar e não andando. Talvez seja essa a grande diferença. Estou a andar de cabeça mais direita, de passada mais convicta, estou a andar para a frente. Ainda não sei onde vou mas sei hoje, com toda a certeza, que não quero mais ficar às voltas no meio do buraco e que é fundamental que de lá saia. Às vezes pergunto-me o que achas de tudo isto... será que sentes desilusão? Será que me consideravas mais forte? Será que esperavas o retomar de um caminho mais cedo? Será.. que te desiludi..?

Vou fazendo o que posso, como posso. Há dias difíceis mas já aprendi a aceitá-los e a esperar com mais fé por dias melhores. Mas já há dias em que me revejo como eu sou, partes de mim só minhas que não se deixaram levar pela enxurrada. Acho que hoje voltei a ser mais quem tu conheceste. Mas diferente, apesar de tudo, mas até melhor, gosto eu de pensar. E só uma coisa me entristece nesta melhoria... é o facto de não ta poder mostrar.

A nossa pessoa em comum tem também os seus dias. E os "seus" dias não são fáceis de ir levando... porque, como sabes tão bem, os "seus" dias transbordam de si e escorrem num largo perímetro, molhando quem esteja mais próximo. E eu sou que lá está. Estou a ver o teu sorriso agora, dizendo-me "eu sei, conheço a "peça" há 40 anos, sei muito bem como é!" Estou a ver o teu sorriso e a sorrir contigo.

Nem imaginas a quantidade de vezes que sorrio contigo, nem imaginas. Tudo, qualquer coisinha de nada, me faz pensar no que dirias, farias, pensarias... e quase sempre sei bem o que seria. E sorrio por te conhecer tão bem, sorrio por sentir assim a tua presença como se nada tivesse mudado. Nem imaginas a quantidade de vezes que me esqueço que tudo mudou...

Estou a andar, é o que posso dizer, estou a andar. Peço desculpa pela indefinição mas é o que tenho para dar de momento. Estou a andar e, por incrível que pareça, sinto sempre que, enfiada num buraco, a dar passadas largas ou a recuar, a estancar no espaço e no tempo, seja o que for, tu o fazes comigo. É o meu grande segredo, acho eu. É o meu grande truque, é o meu grande privilégio.

sexta-feira, novembro 26, 2010

"Prostibrutas"

Recebo um email com uma proposta. Digo que "não, obrigado, os valores não me agradam, fica para a próxima". Em menos de 5 minutos, é-me devolvido e já falam a mesma língua que eu... Tão simples como isto. Será a crise? Talvez. As empresas e as pessoas estão-se a vender ao desbarato! Já não vamos "a quem dá mais", já vamos "a quem dá alguma coisinha" porque já é uma sorte ter quem queira alguma coisa connosco. Anda tudo feito barata tonta, aos ziguezagues, para chegar a todo o lado, para apanhar o que resta, para apanhar mais que os outros porque não chega para todos, não havendo qualquer preocupação com o facto de se comprometer a qualidade, a coerência, os valores, a dignidade, a postura. Não interessa nada, o que interessa é chegar ao fim do mês. Entendo, por um lado, mas irrita-me. Irrita-me ver-me no meio da pilha de roupa na feira, de marca falsificada e qualidade duvidosa. Irrita-me que o país SEJA a feira e as pessoas as suas barracas.

quinta-feira, novembro 25, 2010

Ranger, é o que sou, uma power ranger!!

Sou uma "rangedora de dentes", diz ele. E continua: "deve fazê-lo durante a noite, sem dar conta." Ahahah! Não amigo, é durante o dia mesmo! Dá jeito, apertar os maxilares um contra o outro altera a minha fisionomia de forma a que não haja dúvidas sobre o que estou a pensar. Isso em complemento com o olhar "não te estou a achar piadinha nenhuma e daqui a nada sai-me uma daquelas pela boca fora" fazem milagres sem ser preciso cansar-me a dar dois murros na mesa.

-"Pois é, isto vai prejudicá-la com o tempo... desgasta... talvez um molde de borracha para dormir...". (Certo.. e dia, como faço? Molde de borracha de dia?? Havia de ser bonito...)
- Mas ok, então, ó dótôre, diga lá quanto... (money, graveto, pilim, pasta, carcanhol, cappicce?)
- Então... isso é coisa para andar aí à volta de... unsdoisnumerosemuitoszeros euros....
- Ahahahahahahahahah! Caramba, dótôre, você é um piadista de primeira, pá! Olhe que não fazia ideia! Ahahahaah! Que coisa, até estou a chorar de tanto rir! Aaaiiiiii... ok... já acalmei... pare lá de reinar comigo e diga lá a sério...
- ................................................
- Eerrr... ceerrttoo... eerrr... só uma perguntinha... e uma tábua? Não faria o mesmo efeito? É que assim dava para travar a mordedura e, nas horas vagas, dava com ela na cabeça para aprender!!! Hein, o que acha, dótôre?!?!?

quarta-feira, novembro 24, 2010

Num abrir e fechar de olhos

É incrível como certos hábitos se gravam em nós e voltam sem que demos conta. Hábitos de anos mas que foram deixados cair já há algum tempo e que, de repente, surgem do nada e guiam as minhas mãos. Porque naquela gaveta era onde ia buscar "aquilo"... mas "aquilo" já não está lá, eu própria o mudei, já faz tanto tempo também... E o mesmo se aplica às outras gavetas, aquelas que não são físicas, que só funcionam sobre calhas invisíveis, aplicadas aos diversos cantinhos do nosso cérebro. É incrível a nitidez com que determinados pensamentos surgem, pensamentos antigos, distantes, que assumem lugar na minha realidade de agora, à qual já não pertencem, como se nunca se tivessem retirado. É incrível e estranho porque as fracções de segundo que medeiam entre o gesto mental irreflectido e a sua consciencialização mostram-me todo um filme, de lá para cá, à velocidade da luz, com cenas e contra-cenas onde eu me vejo como era e como sou. E é estranho ver como não sou a mesma.

terça-feira, novembro 23, 2010

WTF....!?!

Televisão pifada, vidro do carro rachado, consulta de vet. com análises e mais não sei o quê, nova ração xpto, IMI, certificado energético... não se arranja pr'aí outro subsídiozinho de Natal, não...??

Perfil

De volta aos pequenos entusiasmos...

O tomate e a cenoura

"Elas" sabem do que falo... ;)

segunda-feira, novembro 22, 2010

Os dias em que o mundo dá voltas depressa demais

Não sei, juro que não sei. Avancei porque o meu íntimo dizia que era importante que o fizesse, avancei de alma e coração e vontade de fazer diferença, alguma diferença. Mas não sei. Espero que sim mas não sei. Ponho-me a pensar tão somente: quem és tu? Quem és tu se tu própria não sabes que rota deves seguir? Quem és tu para sugerir caminhos, alternativas, soluções, tentativas? Quem és tu para ter a veleidade de alcançar a verdadeira dimensão das coisas, conseguir prever as suas consequências, conseguir acompanhar o ritmo alucinado da vida que se complica e desmorona? Não sei, juro que não sei. Mas não almejo mais do que tentar.

domingo, novembro 21, 2010

E... é domingo

E o tempo começa, finalmente, a tomar velocidade. Já desliza por mim, em parte, e só eu sei a importância dessa leveza. Continua a emperrar, sim, quando assim tem que ser, mas já não pesa como dantes, já não é um fardo, desliza pelas horas amaciando-as.

E o passeio no parque que tento não dispensar. Vou sentir falta dele quando me for embora, vou sentir falta de me perder na sua amplitude, de me tornar apenas mais uma árvore ou uma folha caída no chão quando lhe ofereço os meus passos. Vou sentir falta do cheiro e da brisa, dos bocadinhos de sol e sombra aqui e ali. Mas ele fica, no mesmo lugar de verde e castanho, cabe a mim a responsabilidade de nos voltarmos a encontrar.

E as pequenas árvores que também pela minha mão encontraram terra para crescer, a energia minha e de outros, tantos outros, que tiveram vontade de sair de suas casas e dedicar-se ao resto do mundo.

E o dia que é de chuva e de sol e eu hesito entre abrir o chapéu ou colocar os óculos escuros. E escolho os dois não me importando com o ridículo da situação porque o dia assim o merece e porque de chapéu bem aberto e óculos escuros por baixo é que se vê bem o arco-íris.

E as outras esferas que roçam o meu perímetro. Umas deixo que se liguem a mim nos seus elos e penetro eu também nelas para me dar a quem as habita. Outras afasto com mão, suavente as empurro, tal qual bolha de sabão, para fora de mim. Porque não são minhas, de todo, não são minhas, em nada se ligam a mim e qualquer intersecção será contra-natura.

E a velhota gorducha com a sua cadela velhota e gorducha... dizem que os cães assumem a personalidade dos donos. Pois, ora cá está. Acho, assim, que não devo ter um cão...

E o tempo que começa a deslizar, a adocicar algumas horas.

E a certeza de que perdi muito, não ganhei outro tanto mas alguma coisa, e que há pedaços que se viram engolidos pela vida onde foram criados e que lá ficaram para sempre. Mas há outros, que julgava perdidos, mas que agora vejo que continuam a pairar à minha volta apenas aguardando a hora de que eu lhes deite a mão e os volte a incorporar em mim.

E a vida que consegue pregar tantas rasteiras e nós que a vivemos vamos ter que ir aprendendo a cair e levantar, a equilibrarmo-nos em cima do muro, a decidir se e quando nos devemos deixar levar por ela ou devemos domá-la para que não nos ultrapasse e não nos afunde, mais e mais, nos seus calabouços.

sábado, novembro 20, 2010

Perfil

Viciada... em vícios vários.

quinta-feira, novembro 18, 2010

Frase do dia

"All changes, even the most longed for, have their melancholy; for what we leave behind us is a part of ourselves; we must die to one's life before we can enter another."
Anatole France

Orando... que também quer dizer "rezando"!

Quem me conhece sabe que eu ODEIO falar em público! Quem me conhece sabe que fico nervosa três dias antes, que perco o apetite, que desenvolvo autênticos enxames no estômago, que tenho pesadelos! Porque imagino sempre que me vou engasgar, tropeçar e cair redonda no chão, perder o raciocínio, bloquear, não saber responder a alguma questão que me coloquem, em suma, passar a vergonha da vida! Eu sou assim...

Agora, vamos imaginar esta situação meramente hipotética: ter que dar formação a três grupos diferentes quase de seguida, sem ter tido grande tempo para me preparar por razões várias e... de garganta inflamada... bom, não é?

Melhor ainda só mesmo... isto não ter nada de hipotético!

quarta-feira, novembro 17, 2010

Constatação #27

O barulho de um comboio a passar ao longe é igual ao bater do coração.

(Talvez por isto gostasses tanto deles, talvez já soubesses e apenas esperasses que eu, um dia, o descobrisse também... )

Rabiscos


segunda-feira, novembro 15, 2010

Mais uma, daquelas...




Bad day, looking for a way home,looking for the great escape.
Gets in his car and drives away,
far from all the things that we are.
Puts on a smile and breathes it in
and breathes it out, he says,
bye bye bye to all of the noise.
Oh, he says, bye bye bye to all of the noise.

Doo doo doo doo doo noo noo
Doo doo doo doo doo noo noo noo noo
Doo doo doo doo doo doo doo
Doo doo doo doo doo doo noo noo noo

Hey child, things are looking down.
That’s okay, you don’t need to win anyways.
Don’t be afraid, just eat up all the gray
and it will fade all away.
Don’t let yourself fall down.

Doo doo doo doo doo noo noo
Doo doo doo doo doo noo noo noo noo
Doo doo doo doo doo doo doo
Doo doo doo doo doo doo noo noo noo

Bad day, looking for the great escape.
He says, bad day, looking for the great escape.
On a bad day, looking for the great escape,
the great escape.

Para onde...?

Amor é...

... adormecer de mão dada com a gata A.

domingo, novembro 14, 2010

É trê cem, é trê cem...!!!

Mais uma edição da FLAG. Troca por troca, "dou-te este casaco e levo o teu vestido". Muito bom! E assim se vê que, no que toca a trapos, estas cinco estão preparadíssimas para enfrentar a crise!

Sem palavras ou com algumas...

Comovente, humano, sincero, com interpretações daquelas que me enchem a alma e uma das cenas mais bonitas que vi na vida, ao som do "Lago dos Cisnes" e sem qualquer diálogo porque simplesmente não era preciso. As lágrimas caíram-me de emoção...

Des Hommes et des Dieux

sábado, novembro 13, 2010

Salta da cama, arruma, corre, recebe, visita, voa...!

Isto de ser uma "porca capitalista" é muito cansativo!

sexta-feira, novembro 12, 2010

Frase do dia

"Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente."
Clarice Lispector

Porque é que não te deixas ficar quieta!?!

Fui analisar a minha conta bancária. Fiquei deprimida. Merda.

Triturando

Cansaço, puro cansaço. Sem me dar conta, adormeci no regresso. Sem me dar conta, a tensão acumulou-se e, ao libertar-se, deixou-me sem forças. Mas a jornada tinha um propósito e esse foi cumprido. Fui e estive como queria estar. Fiz o que achava que devia, senti-me bem ao fazê-lo. E paralelamente, acabei por trazer comigo mais de mim de que não estava à espera.

Trouxe a certeza de que, apesar de tudo, sou uma pessoa bem resolvida. Senti na nuca os olhares e a energia negativa que emanavam e deixei-me estar não deixando que me afectassem. Ali fiquei, no meu espaço, meu por direito, meu porque eu quero, assumi-o sem que qualquer intimidação me tocasse. Fui eu, estive eu e o resto é conversa.

Ouvi um suspiro entre lágrimas que me disse: nunca mais foi o mesmo. E, pela primeira vez na vida, senti empatia com aquele ser que conheci tão pouco... nunca mais fomos os mesmos, pela mesma razão, pela mesma pessoa.

E, por último, aquele quase estranho foi-me sendo apresentado através de outros, através das suas palavras e olhares, através da sua dor. Em poucas horas, passou a ser um quase conhecido. E, em poucas horas, compreendi um pouco mais de quem era afinal e, acima de tudo, vislumbrei o que tu sempre conheceste. Sou mais rica cá dentro por isso.

De resto... bom, o resto aqui continua, sendo amassado e amassado de novo, devagar, devagarinho, ao meu ritmo, caminhando para que se desfaça. Uns dias consegue enublar-me os olhos, outros, é o sol que irradia em mim. E nestes últimos, volto a ser aquela que consegue entusiasmar-se com as pequenas coisas. E isso é bom.

quarta-feira, novembro 10, 2010

Sem remédio

Novamente, a maldade pura a olhar para mim, tal qual dragão chinês que, interrompendo o seu serpenteio, me fixa com os seus olhos enormes.

Pergunto-me: se nem a morte o trava, quem o pode fazer...?

Constatação #26

Uns segundos são o bastante para a vida mudar de forma irreversível.

terça-feira, novembro 09, 2010

Carta preta

Acho que também eu só vou dizer isto uma vez na vida: ainda bem que não estás cá.

Mães...

Mãe: Não percebo, estás agastada comigo porquê??? Essa agora!
Filha: Mas... eu não estou agastada...
Mãe: Estás, estás que eu bem te conheço!
Filha: Mas... mas...
Mãe: Só que também te digo, sou tua mãe desde o dia em que nasceste até ao dia em que uma de nós morrer por isso digo o que tenho a dizer e pronto! Era o que mais me faltava!
Filha: Eu não estou agastada!!!! Pronto, agora já estou...! Mas não estava!
Mãe: Vês?!?!

(Respira, conta até dez, respira... 1... 2... 3...)

Megafones

Estou cansada só de ouvir esta gente!!!

Lá atrás #5

Lembro-me dos cheiros, principalmente dos cheiros. Doces, frutados, intensos. Lembro-me da brisa morna que até se podia julgar fria em comparação com o calor com que fui recebida. Lembro-me dos sorrisos afáveis e compreensivos, da calma e à vontade em que me deixaram, como se fosse normal eu estar ali, como se fosse normal eu estar ali daquela forma. Deixaram-me sossegada, deram-me o meu espaço e o seu para eu utilizar como entendesse. Sem pressões, sem julgamentos, sem pena. Olharam-me de coração aberto e deixaram que eu entrasse quando quisesse. Olharam-me e viram-me para lá da tristeza que inundava os meus olhos, para lá da escuridão que eu emanava, não as desprezando mas conseguindo que elas não ditassem as regras. Não me conheciam e conheceram-me assim. Aceitaram-me assim. Ofereceram-me o que tinham assim. Há pessoas realmente fantásticas.

segunda-feira, novembro 08, 2010

Perfil

Bombeira. E com muito gosto!

Privilégios

Éramos quatro, depois cinco. Cinco almas a gravitar, tão diferentes e, no entanto, tão iguais naquele momento. Em círculo, espalhadas pelo chão e pelos sofás. No meio, o alimento perfeito para os interiores que estão expostos e vulneráveis: chocolate, batata frita, rebuçados, gin, vodka, cigarros.

Houve risos. Houve choro. Houve mãos dadas, carinhos, gargalhadas, estupidez natural e saudável, empatia. Houve histórias más, emoções desenfreadas, corpo a tremer. Houve dores no peito e na alma, houve alívio, tristeza e alegria. Houve amor. As cinco entrelaçadas, cada uma com a sua carga, houve espaço e tempo para cada uma e para todas em conjunto.

É um privilégio, sem dúvida, um enorme privilégio.

A noite seguiu e o carro levou-nos, a gargalhar também, para que seguíssemos o resto das nossas vidas. Houve abraços e sorrisos, mãos quentes à chegada. Houve calma e desespero, noite mal dormida e sonhos, houve o continuar depois de tudo isso. Na mente, as conversas, as palavras, as expressões das cinco almas gravadas na minha memória, o que disseram, o que sentiram, o que calaram. Na minha mente, a certeza de que ainda não acabou para nenhuma, que está só no início para algumas, que para mim ainda há caminho a trilhar. Mas... nós estamos lá, eu sei, nós estamos lá.

Disseram-me antes que é assim "a vida dos adultos". Repetiram "caga nisso" e acrescentaram mais palavras duras e verdadeiras, palavras que tento absorver por mais que me doa, palavras que passo adiante para quem precisa de as receber também.

sexta-feira, novembro 05, 2010

O J.(inho) descrito pela tia...

"Tem pata, mão e perna grande. De resto, é igual a todos os outros bebés. Não são bonitos...!"

:))

Intervalo

Já há algum tempo que ando a tentar escrever. Já há algum tempo que penso e elaboro e tento explicar para mim mesma tudo o que me ocorre, tudo o que me assola e percorre o corpo. Cheguei à conclusão que não sei como fazê-lo. Vejo-me como um corredor de uma casa senhorial, escuro, de madeira, ladeado por milhentas portas, escuras, de madeira. Mas cada uma delas está numa posição diferente. Muitas permanecem fechadas, trancadas e não se vê luz pelas frestas. Completamente opacas, invioláveis, encerrando em si a escuridão. De vez em quando vou lá, bato, ao de leve primeiro, com mais força depois e houve vezes que me arremessei de encontro a elas. Outras vezes metem-me medo e nem me aproximo. Deixo-as ali, escuras, de madeira, fechadas hermeticamente e passo-lhes ao lado. Não penso se um dia se vão abrir ou não, medo e expectativa lado a lado, prefiro deixá-las para trás. Mas há outras, muitas outras. Umas começam a abrir-se e a revelar o seu interior, outras fecham-se lentamente, por si, porque chegou a sua hora. Outras ainda estão a meio, paradas, esperando a minha decisão de escancará-las de vez ou encerrá-las para a eternidade, aquela eternidade que o é enquanto durar. E outras que tais estão abertas de par em par. Já lá entrei e vi o que escondem, já não escondem nada.

Mas... todas as portas são minhas, todas ladeiam o corredor de casa senhorial que eu sou. Mesmo as que encerram o escuro, são minhas, minhas e só minhas, e sou eu que tenho que decidir o que lhes fazer. Todas esperam a minha resolução, a minha definição do seu destino. Mas eu não sei.

Tentei explicar a mim mesma cada uma delas. Mas a multiplicidade de condições, abertas, semi-abertas, fechadas, com interior branco ou roxo, herméticas ou medrosas, de estrutura grossa ou assim assim... ultrapassa-me. Ultrapassam-me. Resta-me sentar no chão de madeira escura e recuperar o fôlego. Resta-me esperar que a respiração normalize, que as ideias assentem, que consiga prioritizá-las. Resta-me descansar um bocadinho para depois me levantar e, a pouco e pouco, dar conta delas outras vez.

quinta-feira, novembro 04, 2010

Piadinha do dia

"O que é que diz o tubarão para a tubaroa?
...
Tubaralhas-me!"

J. (inho)

Hoje vai ser um dia especial... :)

quarta-feira, novembro 03, 2010

Poeiras

Diferentes emoções percorrem o meu corpo. Pára! Assim não consegues perceber nada.

Sonhos "pesadelados", preocupações, nervoso miudinho e, por outros lados, descobertas, pequenas descobertas que me atiram para anos antes, que me fazem sentir tão pequenina, saudades, orgulho, alma cheia, lágrimas como palavras das emoções. Pontadas. Pontadas de algo nas profundezas que tento calar ou, pelo menos, apaziguar mas que, de vez em quando, ainda dá sinal da sua existência. Que seja, já foi pior e sobrevivi. Nada me diz que não consiga continuar com a cabeça erguida. Mas é frustrante, tão frustrante... porque me dou conta que passamos a maior parte do nosso tempo a tentar manter-nos à tona, apenas e só. Demasiado cansados para nadar seja em que sentido, a levar com as ondas "de chapa", a lutar, apenas e só, para não afundar de vez. À volta, só água, e a bússola não diz para onde está a terra. Eu e outros à tona e à deriva...

Pára! Pára. Assim não consegues perceber nada. Pára, deixa assentar.

terça-feira, novembro 02, 2010

Peeping Tom

Anda alguém a espreitar pelo buraco da fechadura... e eu não sei se gosto...