domingo, novembro 21, 2010

E... é domingo

E o tempo começa, finalmente, a tomar velocidade. Já desliza por mim, em parte, e só eu sei a importância dessa leveza. Continua a emperrar, sim, quando assim tem que ser, mas já não pesa como dantes, já não é um fardo, desliza pelas horas amaciando-as.

E o passeio no parque que tento não dispensar. Vou sentir falta dele quando me for embora, vou sentir falta de me perder na sua amplitude, de me tornar apenas mais uma árvore ou uma folha caída no chão quando lhe ofereço os meus passos. Vou sentir falta do cheiro e da brisa, dos bocadinhos de sol e sombra aqui e ali. Mas ele fica, no mesmo lugar de verde e castanho, cabe a mim a responsabilidade de nos voltarmos a encontrar.

E as pequenas árvores que também pela minha mão encontraram terra para crescer, a energia minha e de outros, tantos outros, que tiveram vontade de sair de suas casas e dedicar-se ao resto do mundo.

E o dia que é de chuva e de sol e eu hesito entre abrir o chapéu ou colocar os óculos escuros. E escolho os dois não me importando com o ridículo da situação porque o dia assim o merece e porque de chapéu bem aberto e óculos escuros por baixo é que se vê bem o arco-íris.

E as outras esferas que roçam o meu perímetro. Umas deixo que se liguem a mim nos seus elos e penetro eu também nelas para me dar a quem as habita. Outras afasto com mão, suavente as empurro, tal qual bolha de sabão, para fora de mim. Porque não são minhas, de todo, não são minhas, em nada se ligam a mim e qualquer intersecção será contra-natura.

E a velhota gorducha com a sua cadela velhota e gorducha... dizem que os cães assumem a personalidade dos donos. Pois, ora cá está. Acho, assim, que não devo ter um cão...

E o tempo que começa a deslizar, a adocicar algumas horas.

E a certeza de que perdi muito, não ganhei outro tanto mas alguma coisa, e que há pedaços que se viram engolidos pela vida onde foram criados e que lá ficaram para sempre. Mas há outros, que julgava perdidos, mas que agora vejo que continuam a pairar à minha volta apenas aguardando a hora de que eu lhes deite a mão e os volte a incorporar em mim.

E a vida que consegue pregar tantas rasteiras e nós que a vivemos vamos ter que ir aprendendo a cair e levantar, a equilibrarmo-nos em cima do muro, a decidir se e quando nos devemos deixar levar por ela ou devemos domá-la para que não nos ultrapasse e não nos afunde, mais e mais, nos seus calabouços.

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