sexta-feira, novembro 05, 2010

Intervalo

Já há algum tempo que ando a tentar escrever. Já há algum tempo que penso e elaboro e tento explicar para mim mesma tudo o que me ocorre, tudo o que me assola e percorre o corpo. Cheguei à conclusão que não sei como fazê-lo. Vejo-me como um corredor de uma casa senhorial, escuro, de madeira, ladeado por milhentas portas, escuras, de madeira. Mas cada uma delas está numa posição diferente. Muitas permanecem fechadas, trancadas e não se vê luz pelas frestas. Completamente opacas, invioláveis, encerrando em si a escuridão. De vez em quando vou lá, bato, ao de leve primeiro, com mais força depois e houve vezes que me arremessei de encontro a elas. Outras vezes metem-me medo e nem me aproximo. Deixo-as ali, escuras, de madeira, fechadas hermeticamente e passo-lhes ao lado. Não penso se um dia se vão abrir ou não, medo e expectativa lado a lado, prefiro deixá-las para trás. Mas há outras, muitas outras. Umas começam a abrir-se e a revelar o seu interior, outras fecham-se lentamente, por si, porque chegou a sua hora. Outras ainda estão a meio, paradas, esperando a minha decisão de escancará-las de vez ou encerrá-las para a eternidade, aquela eternidade que o é enquanto durar. E outras que tais estão abertas de par em par. Já lá entrei e vi o que escondem, já não escondem nada.

Mas... todas as portas são minhas, todas ladeiam o corredor de casa senhorial que eu sou. Mesmo as que encerram o escuro, são minhas, minhas e só minhas, e sou eu que tenho que decidir o que lhes fazer. Todas esperam a minha resolução, a minha definição do seu destino. Mas eu não sei.

Tentei explicar a mim mesma cada uma delas. Mas a multiplicidade de condições, abertas, semi-abertas, fechadas, com interior branco ou roxo, herméticas ou medrosas, de estrutura grossa ou assim assim... ultrapassa-me. Ultrapassam-me. Resta-me sentar no chão de madeira escura e recuperar o fôlego. Resta-me esperar que a respiração normalize, que as ideias assentem, que consiga prioritizá-las. Resta-me descansar um bocadinho para depois me levantar e, a pouco e pouco, dar conta delas outras vez.

Sem comentários: