quinta-feira, dezembro 28, 2017

Constatação #109

O Natal engana. O Natal ameaça cedo e dessa forma nos ilude fingindo-se imenso. O Natal parece nunca mais acabar até que chega de facto e finda-se, num mesmo sopro. O Natal engana-me. E é por isso que, invariavelmente, concluo que o saboreei de menos....

Está combinado: amanhã atiro-me às azevias, sonhos e rabanadas como se o Natal só voltasse para o ano.

quarta-feira, dezembro 27, 2017

Crónica natalícia

Vi-o chegar com alguma desatenção, de tão cheia que estava de acontecimentos e afazeres. Já não o vivo como antes mas a memória de alguns natais passados espicaçou-me - a prova que há assombrações benditas -  e enchi-me o que pude dele: luzes e a costumeira ronda pela cidade para as contemplar regada a vinho quente ou a ginginha; açúcar e canela em medida boa; o forno a testar variações de biscoitos; embrulhos mais ou menos bem conseguidos; os doces tradicionais, os que sempre se fizeram na família e os de tradições mais recentes, da minha geração, mas que já ninguém dispensa - "vais fazer o teu doce, não vais?"- (de forma inusitada, a receita teve o desplante de me desafiar quatro vezes e só um copo de vinho tragado no momento certo me impediu de a fazer voar pela janela fora). E ainda houve tempo para não deixar escapar o Miró. De mãos dadas, barrete de lã e vontade de não nos darmos por garantidos. Nem a nós, nem a nada. Debaixo da árvore jogou-se à sorte com a promessa de viagens a mares quentes e vista para palmeiras já no primeiro trimestre e a família reuniu-se e uniu-se, os mais velhos a requerer cuidados, os mais novos a encher a sala de risos, os homens e mulheres que agora estão ao leme a unir as duas pontas entre piadas e brindes. A seguir vem o novo ano, a seguir vêm os desejos. Não sei qual a carta que rege o meu signo em 2018 mas confesso que não me interessa. Se houve ensinamento dado pelo ano que agora termina foi o de que o futuro é, decididamente, sobrevalorizado.


quinta-feira, dezembro 21, 2017

Já ias dormir...

Admites em definitivo que "cabra da vírgula" é a alcunha que nasceu para ti quando, respondendo a um interessado nas tuas vendas no OLX, decides empregar os dois pontos numa frase pondo a hipótese que, do lado de lá, possam aprender, assim, a usá-los...

segunda-feira, dezembro 11, 2017

domingo, dezembro 10, 2017

Porque é uma das minhas, a ouvir em loop...




Nada ficou no lugar, eu quero quebrar essas xícaras
Eu vou enganar o diabo, eu quero acordar sua família...
Eu vou escrever no seu muro, e violentar o seu gosto
Eu quero roubar no seu jogo, eu já arranhei os seus discos...

Que é pra ver se você volta,
Que é pra ver se você vem,
Que é pra ver se você olha,
Pra mim...

Nada ficou no lugar ,eu quero entregar suas mentiras
Eu vou invadir sua alma, queria falar sua língua...
Eu vou publicar os seus segredos, eu vou mergulhar sua guia
Eu vou derramar nos seus planos, o resto da minha alegria...

Que é pra ver se você volta,
Que é pra ver se você vem,
Que é pra ver se você olha,
Pra mim... 

Mentiras

Adriana Calcanhoto

Exercitando #3 (em limpezas de arquivo...)

Penso que não houve ninguém que não te tivesse alertado: exageraste, continuavas a exagerar. Consumido pela dor que te trespassava a pele não olhaste a meios para me cobrar o que achavas que te devia: dor igual. Medias as palavras certificando-te que a tua escolha recaía sobre as mais afiadas, as que provocariam maior estrago. Formatavas o modo de maneira a que não me restassem dúvidas: eras agora um muro, qualquer tentativa da minha parte de o escalar e chegar a ti seria draconianamente repelida. Um dia, cansei-me: tu continuaste a exagerar - sozinho.