quinta-feira, março 31, 2011

O vestido

A querida E. no provador, a experimentar um vestido. Preto e rosa. Algo de preto, muito de rosa. Decotado. Curto. Justo. Daqueles que têm escrito em todas as pregas e dobras "sexy móda foca" ou, para quem não é muito dado às línguas estrangeiras, "boazona como o c*****!". Curto, bastante curto, justo, bastante justo, rosa, bastante rosa... e pergunta-me:

- Diz-me lá, eu posso levar isto para o trabalho, não posso? Assim com uns sapatos rasos, simples, um casaco de malha preto, pronto, para ficar tudo mais discreto, não achas?

Por momentos hesitei. Por segundos. E depois, porque alguém tinha que o fazer, respondi:

- Querida, esse vestido não é discreto nem nunca vai ser em toda a sua existência. Por isso, mentaliza-te, ultrapassa essa parte e compra-o por aquilo que ele é!
- (risos) Tens razão... que se lixe, vou comprá-lo! Eu até tenho coisas bem piores! ;)

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Just another day in paradise...

Copiando descaradamente.... mas quem diz a verdade não merece castigo, não é..?

"Não posso dizer que seja a primeira vez que o escreva mas nem por isso deixa de ser menos verdadeiro: gosto de regressos.

Este é apenas mais um, em que me passeio por palavras que aqui ficaram ao pó do que já fomos e escrevemos. E no entanto, tão familiares, tão à nossa espera. Foi a ideia do regressar que me convenceu a ocupar esta casa.

Na nossa vida há demasiadas partidas e despedidas e uma falta gritante de regressos. O amor, por exemplo, é sempre uma viagem que se inicia, que, por mais doce que seja, é assustadora. Ficamos sem rumo, não sabemos o que pode acontecer, que imensos icebergues podem estar emboscados e prontos a afundar o Titanic afectivo que tanto trabalho nos deu a construir. E às vezes acontece o naufrágio, e podem ser derivas até ao próximo resgate. Até ao próximo regresso a essa mesma partida que pouco antes juráramos nunca mais fazer.

Nunca compreendi bem o aforismo que diz que nunca devemos regressar aos lugares que nos fizeram felizes. Eu acho que sim, desde que se tenha o cuidado de não ambicionar vivê-los como antes. Esse é um regresso que pressupõe a coragem de lidarmos com o que fomos e com o que somos, mas nem por um minuto mata a felicidade que terá existido. Ela já é parte do nosso património tal como a dor que por vezes se pode seguir. Regressar devolve-nos sempre ao que somos, aqui e agora – nunca ao passado.

Depois, temos a sorte de muitos terem deixado pistas belíssimas, verdadeiras auto-ajudas que nos indicam caminhos e sugerem escolhas. Assim de repente, nesta escrita meia apressada, lembro-me da parábola do Filho Pródigo, que sugere o mais belo dos regressos – o regresso a Deus. Lembro-me de um livro que há tanto tempo me atravessou o coração: Para Sempre, de Vergílio Ferreira, constrói-se a partir de um regresso doloroso mas necessário. Outro célebre regresso foi provocado por uma trincadela num bolo. Resultado: A La Recherche Du Temps Perdu. Também é verdade que muitas vezes, «home is so sad», como garantiu Larkin. Mas é preciso regressar para compreender e voltar a partir.

Regresso ao que disse: não existem suficientes regressos na nossa vida. E sabemos que todos nós – todos – somos Ulisses, Penélope e Ítaca de nós mesmos, em simultâneo- Queremos sempre partir, queremos sempre esperar com zelo e amor, queremos ser o lugar mítico onde alguém irá regressar um dia. Eu continuo à espera, enquanto preparo a nova partida para um novo regresso."

"O regresso" publicado por Nuno Miguel Guedes in http://sinusitecronica.blogs.sapo.pt/74686.html

Frase do dia

"Uma grande quantidade de talento é desperdiçada pela falta de um pouco de coragem. Cada dia envia para os seus túmulos homens obscuros, cuja timidez os impediu de fazer uma primeira tentativa."

Sydney Smith

Sono... muito sono..!

Hoje só lá vou a litradas de chá verde...

quarta-feira, março 30, 2011

Ping pong

Entendo, cada vez entendo mais. As suas razões não me demovem mas diria que o defeito é capaz de ser meu... e entendo.

Fazer valer os nossos direitos dá trabalho. Não devia dar, os direitos de todos nós deveriam ser pontos assentes, inequívocos, parte de nós, subjacentes e implícitos à nossa condição de cidadãos. Não são. E dá trabalho lutar por eles, pois dá, porque, tristemente, e na maioria dos casos, implica de facto luta! Esforço, horas ao telefone, emails, cartas registadas, paciência, tempo, disponibilidade, capacidade para altercações mais ou menos civilizadas, espera, espera, espera, repetição do que já se disse um milhão de vezes, no fundo, nervos de aço, luvas de boxe e, acima de tudo, cabeça dura, muito dura!

Entendo que a maioria das pessoas desista. Entendo que a maioria das pessoas considere que o trabalho que dá reclamar não compense o que se ganha e por isso preferem pagar ou vender ou desistir e comprar novo. Entendo porque estamos cansados, porque já basta o que temos que aturar, o que nos é imposto, não vamos criar mais um problema com as nossas próprias mãos! Por isso, que se lixe, pague-se, venda-se, desista-se...

Entendo mas só em parte. Dá trabalho, dá. Custa explicar e explicar outra vez, custa que a nossa exposição, tão cuidadosamente preparada e fundamentada, muitas vezes nem seja lida com consideração merecendo logo o carimbo do "não é connosco", custa ser enviada de entidade em entidade, cada uma sacundindo a água do capote e, mais grave ainda, nenhuma sequer sabendo informar a que porta podemos, de facto, bater. Pode ser desesperante...! É desesperante!

Mas há um outro lado. E esse lado nada tem a ver com o gosto por causas perdidas ou com alguma tendência socialista, como já ouvi, nem com uma certa ingenuidade, de quem ainda não conseguiu convencer-se que a máxima "e foram felizes para sempre" fica bem é nos livros infantis e não deve sair de lá.

Perdoem-me a eventual pretensão mas esse é um dos lados da natureza de quem faz andar o mundo. É dessa massa que se compõem quem não se resigna, quem questiona, quem tem sentido crítico e quem faz alguma coisa com ele para além de se ouvir.

terça-feira, março 29, 2011

De... terror?!?

E quando dei conta, o estranho de meia idade estava posicionado de forma a ter por cima da sua cabeça... as minhas cuecas fio dental!!!!

Aaaarghh!! A minha vida é um filme!

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Já chorei, já ri, já dei biqueiros na parede, já disse palavrões, já chamei nomes. Já me acalmei, já esfriei a cabeça, já agi, já pus os pensamentos e sentimentos de lado para fazer o que tem que ser feito. Já relaxei e já me sobressaltei. Já mimei e fui mimada, já perdi a paciência, já a recuperei. Já falhei e já cumpri. Já trabalhei, já pus o trabalho de lado, já desabafei, já ouvi, já escrevi, escrevi, escrevi. Já me ausentei, já me perdi, já me encontrei, já estou aqui.

segunda-feira, março 28, 2011

Porque cada vez gosto mais desta senhora!

Rolling In The Deep
Adele

There's a fire starting in my heart,
Reaching a fever pitch and it's bring me out the dark,
Finally, I can see you crystal clear,
Go ahead and sell me out and I'll lay your shit bare,
See how I'll leave with every piece of you,
Don't underestimate the things that I will do,

There's a fire starting in my heart,
Reaching a fever pitch and it's bring me out the dark,
The scars of your love remind me of us,
They keep me thinking that we almost had it all,
The scars of your love, they leave me breathless,
I can't help feeling,

We could have had it all,
(You're gonna wish you never had met me),
Rolling in the deep,
(Tears are gonna fall, rolling in the deep),
You had my heart inside of your hands,
(You're gonna wish you never had met me),
And you played it to the beat,
(Tears are gonna fall, rolling in the deep),

Baby, I have no story to be told,
But I've heard one on you and I'm gonna make your head burn,
Think of me in the depths of your despair,
Make a home down there as mine sure won't be shared,

The scars of your love remind me of us,
(You're gonna wish you never had met me),
They keep me thinking that we almost had it all,
(Tears are gonna fall, rolling in the deep),
The scars of your love, they leave me breathless,
(You're gonna wish you never had met me),
I can't help feeling,
(Tears are gonna fall, rolling in the deep),

We could have had it all,
(You're gonna wish you never had met me),
Rolling in the deep,
(Tears are gonna fall, rolling in the deep),
You had my heart inside of your hands,
(You're gonna wish you never had met me),
And you played it to the beat,
(Tears are gonna fall, rolling in the deep),

Could have had it all,
Rolling in the deep,
You had my heart inside of your hands,
But you played it with a beating,

Throw your soul through every open door,
Count your blessings to find what you look for,
Turn my sorrow into treasured gold,
You'll pay me back in kind and reap just what you've sown,
(You're gonna wish you never had met me),

We could have had it all,
(Tears are gonna fall, rolling in the deep),
We could have had it all,
(You're gonna wish you never had met me),
It all, it all, it all,
(Tears are gonna fall, rolling in the deep),

We could have had it all,
(You're gonna wish you never had met me),
Rolling in the deep,
(Tears are gonna fall, rolling in the deep),
You had my heart inside of your hands,
(You're gonna wish you never had met me),
And you played it to the beat,
(Tears are gonna fall, rolling in the deep),

Could have had it all,
(You're gonna wish you never had met me),
Rolling in the deep,
(Tears are gonna fall, rolling in the deep),
You had my heart inside of your hands,
But you played it, You played it, You played it,
You played it to the beat

sexta-feira, março 25, 2011

(Des) necessidades

Às vezes sinto-me sem palavras. Perante situações perfeitamente absurdas e reveladoras de um raciocínio torpe e descabido, de desfragmentação e deturpação das mais básicas noções de bom senso, de comportamento quase esquizofrénico e doente, fico sem palavras. Nos primeiros segundos. A verdade mais absolutamente verdadeira é que fico sem palavras apenas até o meu cérebro reconhecer a crassa estupidez humana com que está a lidar e "ir buscar" ao arquivo a resposta adequada. Uma questão de um certo delay, portanto. A partir daí, as palavras jorram em cascata, encadeadas, cada uma trilhando caminho para a seguinte, cada "abertura de gaveta" activando em cadeia a abertura de todas as outras e dos seus raciocínios subjacentes. Até que o tal arquivo esteja totalmente à superfície, perfeitamente organizado, activo, pronto para ser usado a meu bel-prazer.

Podia aqui expôr com todas as letras o que penso e como penso. Podia "chamar os bois pelo nome", podia "pôr o dedo nas feridas", podia, como tão bem sei fazer, ir directa ao ponto e, certeiramente, atingir o alvo bem no seu âmago, sem deixar margem para dúvidas sobre a minha pretensão. Sem usar metáforas, linguagem mais ou menos velada ou elaborada, podia falar um português corrente, simples, cru, até básico, um português politicamente incorrecto mas altamente eficiente quando se trata de passar a mensagem certa. Podia, sim, sem qualquer subtileza nem remorso pela sua ausência. Podia insultar, deitar abaixo, pisar, escarnecer, ironizar e fazê-lo com a graça rude de quem não tem "papas na língua". Podia, sim. E confesso que até me daria um certo gozo. Mas não o vou fazer. E porquê? Porque... não é preciso.

Astro... lábia

Hoje: "O amor será o tema principal desta semana, apesar de muita demanda no seu trabalho. A sua forma de amar e os romances estão beneficiados."

Esta semana? Mas... é 6ª feira... de que semana estamos a falar exactamente??

Enjôo matinal

Sento-me aqui, preparada para enfrentar com optimismo o dia da semana de que mais gosto, e ouço uma colega ao telefone:

- Ai coitadinha, nem imaginas! O bebé era grande e rasgou-a toda, toda, toda! Coitada, que horror!

Juro! A sorte destas gajas é que eu sou impressionável... não fosse o vómito incontrolável e eu tinha dado dois gritos bem dados! Irra!

quarta-feira, março 23, 2011

Balancé

Me, myself and I

Às vezes dou-me uma irritação..!

Atitude


E à noite a mãe liga...

- Mãe, olá, então, tudo bem?
- Sim, olha, estou a ligar para te dizer o seguinte: ligou-me agora a tia F. e vê lá tu que me disse... blá, blá, blá... mas eu até achei estranho porque... blá, blá blá... e já da outra vez a A. e o J. agiram desta forma! e eu disse... blá, blá, blá... ora não se admite que tendo em conta que... blá, blá, blá... eu acho inacreditável e disse-o com todas as letras... blá, blá, blá... porque é preciso descaramento... blá, blá, blá... já da outra vez foi o que foi e a tia L. também concordou que... blá, blá, blá... é, de facto, impressionante como as pessoas conseguem não ter o mínimo de decência... blá, blá, blá... e eu ainda acrescentei que... blá, blá, blá... ficaram todos admirados porque... blá, blá, blá... mas realmente desta gente não se pode esperar outra coisa... blá, blá, blá... tenho pena é que não me tenham dito directamente que aí haviam de ver!, essa agora... blá, blá, blá... de facto, isto anda tudo ao contrário... blá, blá, blá... as pessoas são uma coisa que não se entende... blá, blá, blá... eu fico furiosa com estas coisas.... blá, blá, blá... não achas que tenho razão??
- Pois, eu ach...
- Ai, pronto, falamos depois. Tenho que desligar que está a recomeçar a novela. Adeus!
(Click, tuuu... tuuu... tuuu... tuuu...)

terça-feira, março 22, 2011

Geração à Rasca — Mia Couto

Um dia, isto tinha de acon­te­cer.
Existe uma gera­ção à rasca?
Existe mais do que uma! Cer­ta­mente!
Está à rasca a gera­ção dos pais que edu­ca­ram os seus meni­nos numa abas­tança capri­chosa, protegendo-os de difi­cul­da­des e escondendo-lhes as agru­ras da vida.
Está à rasca a gera­ção dos filhos que nunca foram ensi­na­dos a lidar com frus­tra­ções.
A iro­nia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e tam­bém estão) à rasca são os que mais tive­ram tudo.
Nunca nenhuma gera­ção foi, como esta, tão pri­vi­le­gi­ada na sua infân­cia e na sua ado­les­cên­cia. E nunca a soci­e­dade exi­giu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exi­gido nos últi­mos anos.

Des­lum­bra­das com a melho­ria sig­ni­fi­ca­tiva das con­di­ções de vida, a minha gera­ção e as seguin­tes (actu­al­mente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das difi­cul­da­des em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e qui­se­ram dar aos seus filhos o melhor.
Ansi­o­sos por subli­mar as suas pró­prias frustrações, os pais inves­ti­ram nos seus des­cen­den­tes: proporcionaram-lhes os estu­dos que fazem deles a gera­ção mais qua­li­fi­cada de sem­pre (já lá vamos…) mas tam­bém lhes deram uma vida desa­fo­gada, mimos e mor­do­mias, entra­das nos locais de diver­são, car­tas de con­du­ção e 1º automóvel, depó­si­tos de com­bus­tí­vel cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes fal­tasse. Mesmo quando as expec­ta­ti­vas de pri­meiro emprego saí­ram gora­das, a famí­lia con­ti­nuou pre­sente, a garan­tir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acre­di­ta­ram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia che­gando para com­prar (quase) tudo, quan­tas vezes em subs­ti­tui­ção de prin­cí­pios e de uma edu­ca­ção para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o tra­ba­lho, garante do orde­nado com que se com­pra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.

Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desem­prego… A vaqui­nha ema­gre­ceu, fene­ceu, secou.

Foi então que os pais fica­ram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um con­certo mas os seus reben­tos enchem Pavi­lhões Atlân­ti­cos e fes­ti­vais de música e bares e dis­co­te­cas onde não se entra à borla nem se con­some fiado.
Os pais à rasca dei­xa­ram de ir ao restaurante para pode­rem con­ti­nuar a pagar res­tau­rante aos filhos, num país onde uma festa de ani­ver­sá­rio de ado­les­cente que se preza é no res­tau­rante e vedada a pais.
São pais que con­tam os cên­ti­mos para pagar à rasca as con­tas da água e da luz e do resto e que abdi­cam dos seus peque­nos pra­ze­res para que os filhos não pres­cin­dam da inter­net de banda larga a alta velocidade, nem dos qual­quer­coi­sapho­nes ou pads, sem­pre de última geração.

São estes pais mesmo à rasca que já não aguen­tam, que come­çam a ter de dizer “não”. É um “não” que nunca ensi­na­ram os filhos a ouvir e que por isso eles não supor­tam nem com­pre­en­dem, por­que eles têm direi­tos, por­que eles têm neces­si­da­des, por­que eles têm expec­ta­ti­vas, por­que lhes dis­se­ram que eles são muito bons e eles que­rem, e que­rem, que­rem o que já nin­guém lhes pode dar!

A soci­e­dade colhe assim hoje os fru­tos do que semeou durante pelo menos duas décadas.

Eis agora uma gera­ção de pais impo­ten­tes e frus­tra­dos.
Eis agora uma gera­ção jovem alta­mente qua­li­fi­cada que andou muito por esco­las e uni­ver­si­da­des mas que estu­dou pouco e que apren­deu e sabe na pro­por­ção do que estu­dou. Uma gera­ção que colec­ci­ona diplo­mas com que o país lhes ali­menta o ego insu­flado mas que são uma ilu­são, pois cor­res­pon­dem a pouco conhe­ci­mento teó­rico e a duvi­dosa capa­ci­dade ope­ra­ci­o­nal.
Eis uma gera­ção que vai a toda a parte mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma gera­ção que tem acesso a infor­ma­ção sem que isso sig­ni­fi­que que é infor­mada; uma gera­ção dotada de trô­pe­gas com­pe­tên­cias de lei­tura e inter­pre­ta­ção da rea­li­dade em que se insere.
Eis uma gera­ção habi­tu­ada a comu­ni­car por abre­vi­a­tu­ras e frus­trada por não poder abre­viar do mesmo modo o cami­nho para o sucesso. Uma gera­ção que deseja sal­tar as eta­pas da ascen­são social à mesma velo­ci­dade que quei­mou eta­pas de cres­ci­mento. Uma gera­ção que dis­tin­gue mal a dife­rença entre emprego e tra­ba­lho, ambi­ci­o­nando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abun­dam.
Eis uma gera­ção que, de repente, se aper­ce­beu que não manda no mundo como man­dou nos pais e que agora quer ditar regras à soci­e­dade como as foi ditando à escola, alar­ve­mente e sem manei­ras.
Eis uma gera­ção tão habi­tu­ada ao muito e ao supér­fluo que o pouco não lhe chega e o aces­só­rio se lhe tor­nou indis­pen­sá­vel.
Eis uma gera­ção con­su­mista, insa­ciá­vel e com­ple­ta­mente deso­ri­en­tada.
Eis uma gera­ção pre­pa­ra­di­nha para ser arras­tada, para ser­vir de mon­tada a quem é exí­mio na arte de caval­gar dema­go­gi­ca­mente sobre o deses­pero alheio.

Há talento e cul­tura e capa­ci­dade e com­pe­tên­cia e soli­da­ri­e­dade e inte­li­gên­cia nesta gera­ção?
Claro que há. Conheço uns bons e valen­tes punha­dos de exem­plos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encai­xam no retrato colec­tivo, pouco se iden­ti­fi­cam com os seus con­tem­po­râ­neos e nem são esses que se quei­xam assim (embora este­jam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impres­são de que, se alguns jovens mais infla­ma­dos pudes­sem, ati­ra­riam ao tapete os seus con­tem­po­râ­neos que tra­ba­lham bem, os que são empre­en­de­do­res, os que con­se­guem bons resul­ta­dos aca­dé­mi­cos, por­que, que inveja!, que cha­tice!, são beti­nhos, cro­mos que só estor­vam os outros (como se viu no último Prós e Con­tras) e, oh, injus­tiça!, já estão a ser capa­zes de abar­ba­tar bons orde­na­dos e a subir na vida.

E nós, os mais velhos, esta­re­mos em vias de ser caça­dos à entrada dos nos­sos locais de tra­ba­lho, para dei­xar­mos livres os inve­ja­dos luga­res a que alguns acham ter direito e que pelos vis­tos — e a acre­di­tar no que ulti­ma­mente ouvi­mos de algu­mas almas - ocu­pa­mos injusta, ime­re­cida e indevidamente?!!!

Novos e velhos, todos esta­mos à rasca.
Ape­sar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena des­tes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve ape­nas para demons­trar a minha firme con­vic­ção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa que não sou­be­mos for­mar nem edu­car, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre sol­teira por­que é de todos, e a soci­e­dade não con­se­gue, não quer, não pode assumi-la.
Curi­o­sa­mente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam. Haverá mais triste prova do nosso falhanço?
Pode ser que tudo isto não passe de alar­mismo, de um exa­gero meu, de uma gene­ra­li­za­ção injusta.
Pode ser que nada/ninguém seja assim.

Mia Couto

Constatação #36

O Francisco Assis é o gémeo perdido do "Newman", a mim já não restam dúvidas!

O senhor que me desculpe, não se ofenda por estar assim a expôr um segredo de família mas olhe, mais tarde ou mais cedo, alguém havia de reparar, certo? Portanto, assuma-o de vez e mande cumprimentos ao maninho, dizendo-lhe da minha parte que eu acho que "ele vai muito bem", que "gosto muito de o ver trabalhar"...!

Frase do dia

‎"A verdadeira viagem da descoberta consiste não em buscar novas paisagens, mas em ter olhos novos."
Marcel Proust

"Sim, é minha... em todos os aspectos!"

Renovação. Mais renovação. Aqui o "burgo" foi ao cabeleireiro...

segunda-feira, março 21, 2011

Equinócio

Renovação. E a estação chega em grande, brindando-nos com um fim-de-semana a saber a bonança. A brisa cheira a mel de flores e entranha-se no meu cabelo moldando-o em ondas doces e irregulares, talvez para ficarmos a combinar ainda mais. Prazer, puro prazer. Vivido, saboreado, não importa o dia que se segue. Antecipação de sorrisos e os sorrisos que não me deixam ficar mal, a lua brilhante e redonda, não sei se maior mas sem dúvida nenhuma, brilhante e redonda, perfeita na sua redondez, que se observa com sortido de bombons belgas a derreter na mão e na boca. O calor que apetece despir, as conversas que se quer ainda mais conversadas mesmo que não se digam todas as sílabas. Não interessa, não interessa mesmo nada. A sombra das árvores perfumadas de verde, os dias que sabem a pouco. E o sono que se entranha, sono bom, recheado de doçura colorida e que embala a serenidade. O cheiro. O cheiro a flores e a flores em mim.

sábado, março 19, 2011

sexta-feira, março 18, 2011

Diz e diz e vai dizendo

Diz que amanhã a lua é imensa, diz que a Primavera está aí à porta. Diz que vou ter o privilégio de receber muitos mimos em forma de "menina", diz também que já me dói não ter que ir à procura de prenda... Diz que o Sol veio para ficar, pelo menos por uns dias, diz que vêm aí chocolates e jantaradas, mais ou menos concorridas. Diz muita coisa, este fim de semana, muita coisa...

quinta-feira, março 17, 2011

Paradoxos

Há coisas que dão vontade de rir! Rir muito, rir alto, rir, sim, mas para não chorar de tão incrivelmente estúpidas que são! Há coisas que dão imensa vontade de rir mas pelos piores motivos. Rir de incredulidade, de pena, de desilusão, do descaramento, das cócegas que ele nos faz nos cantos da boca, que às vezes até se podem confundir com esgares nervosos de quem está prestes a perder as estribeiras. E regra geral, está mesmo mas opta por rir, que faz melhor à saúde. Há coisas que dão mesmo muita vontade de rir. A falta de noção, de bom senso, de sensibilidade até se podem desculpar, coitadinhos não foram dotados de tais características, a culpa é dos genes que vieram dos paizinhos. Mas quando estas "faltas" são mascaradas de carantonha de quem acha que sabe tudo e sente mais ainda, é ver-nos a contorcer a espinha com as risotas a pedir para saltar boca fora! Risotas para não serem chapadas, a verdade é essa. Risotas de quem pensa: não vale a pena mais do que isto.

Há coisas que dão mesmo vontade de rir. Mas depois, o que fica, não é a sensação de liberdade, de alívio que nos deixa sempre uma boa gargalhada ou o rasto da energia que o riso faz percorrer pelo corpo, alegrando todos os seus terminais e dando brilho aos olhos. Não, a sensação que depois permanece é a de amargo desconsolo, de baça descrença, de buraco negro que engole a alegria. Porque nada é mais lamentável do que rir do que é triste.

Que é como quem diz... siga!

Move on, move on, embrace your life, enjoy the love that surrounds you, enjoy the sun, enjoy yourself. Move on, move on, don't look back, what's gone is gone, it has moved on too, the past never turns its head. Move on, move on. Hold on to you. Hold on to those who are near and present, to those who choose to be near and present, to those you choose you. Move on, move on, save what's worth to save, let go of what no longer suits you, move on, move on, to the light, to the new walls, to the new smiles. Move on, move on, it's not that hard, the world does it every day.

quarta-feira, março 16, 2011

Moving on

E não é que esta tem potencial..? Hhuummm...

A propósito dos males

Irra, que é demais!!

Hello
??! Hello aí em cima!? Que tal fazermos um trégua, hein?? Que tal carregarem no pause em relação a mim e à minha "rede" e, sei lá, desviarem as atenções para outro lado só para variar um bocadinho, que tal?!? É que começo mesmo a ficar danada com esta trampa!!

Irra! Calma com o andor!! Mas é preciso que desate à chapada, é??!? Irra!!

Porque é daquelas que me faz cantar aos berros no carro!

Love Song
Sara Bareilles

Head under water
And they tell me to breathe easy for a while
The breathing gets harder, even I know that
You made room for me, but it's too soon to see
If I'm happy in your hands
I'm unusually hard to hold on to
Blank stares at blank pages
No easy way to say this
You mean well, but you make this hard on me

I'm not gonna write you a love song
'Cause you asked for it
'Cause you need one, you see
I'm not gonna write you a love song
'Cause you tell me it's make or breaking this
If you're on your way
I'm not gonna write you to stay
If all you have is leaving
I'mma need a better reason to write you a love song today
Today

I learned the hard way
That they all say things you want to hear
My heavy heart sinks deep down under you
And your twisted words, your help just hurts
You are not what I thought you were
Hello to high and dry
Convinced me to please you
Made me think that I need this too
I'm trying to let you hear me as I am

I'm not gonna write you a love song
'Cause you asked for it
'Cause you need one, you see
I'm not gonna write you a love song
'Cause you tell me it's make or breaking this
If you're on your way,
I'm not gonna write you to stay
If all you have is leaving
I'mma need a better reason to write you a love song today

Promise me you'll leave the light on
To help me see with daylight, my guide, gone
'Cause I believe there's a way you can love me because I say
I won't write you a love song
'Cause you asked for it
'Cause you need one, you see
I'm not gonna write you a love song
'Cause you tell me it's make or breaking this
Is that why you wanted a love song

'Cause you asked for it?
'Cause you need one, you see
I'm not gonna write you a love song
'Cause you tell me it's make or breaking this
If you're on your way
I'm not gonna write you to stay
If your heart is nowhere in it
I don't want it for a minute
Babe, I'll walk the seven seas when I believe that there's a reason to
Write you a love song today
Today

Frase do dia

"Nunca implore por aquilo que tem o poder de obter."
Miguel de Cervantes

"Olha...! É a cara de um touro!"

terça-feira, março 15, 2011

Limpezas

Conhecem alguém que aproveite o facto de estar a tomar banho para, de esfregão e detergente em punho, limpar a parte de dentro da cabine de duche?

Eeeerrr... eu também não..!

As "caracolinhas"...

... vão passar o dia juntas, ah pois vão!

Mal sabe a "caracolinha" mais pequena que a "caracolinha" maior engendrou tudo isto, não numa de boa samaritana, mas sim para ter desculpa para comprar uma embalagem familiar de Cerelac lá para casa!! Porque... convenhamos... a "caracolinha" pequena pode querer, claro, há que estar preparada ..! ;)

segunda-feira, março 14, 2011

LinFATicamente falando, como diz a outra

Ela é migas de espargos, ela é batatinha assada, ela é bolinho caseiro, ela é vegetariano (que não, querida E., não é necessariamente dietético!), ela é empadas de galinha feitas de propósito para ela pela amiga cozinheira, ela é sobremesas várias... valham-me o chá verde e as mãozinhas da D. a drenar-me a linfa!!

Meia mais meia laranja

A propósito de constatações, de aceitações, de realidades e factos e evidências... desiste! És feita de duas metades, iguais em tamanho, força e personalidade. E por mais que te tentes chegar mais a uma que a outra, existe sempre a noite, existe sempre a linguagem dos sonhos... Por isso, olha... sorri! Ao menos, enquanto sorris enfeitas o mundo...

sábado, março 12, 2011

Os entretantos dos cancelamentos

Sono, muito sono, de quem dormiu muito aquém do que queria e, afinal, até podia! Porque a interromper estas palavras, surge o telefonema, pois que já não vêm, desmarcaram à última...

E a noite recheada, de pesadelos daqueles que dão medo, como criança a lidar com monstros imaginários. E esta casa era o centro do mal, era aqui que tudo acontecia, era daqui que tinha que sair com urgência.

No meio do nada, uma caixa de recordações onde, perdido e entrelaçado em inúmeros pedaços de papel rabiscados com mensagens várias trocadas de mão em mão nas aulas do liceu, um mais pequeno me chama a atenção. Letra de criança, a criança que eu fui, letra que se esforça para desenhar o A e o B de acordo com o manual da primária, de língua de fora, pressionando com força a caneta no papel para não sair da linha e curvar o C e o G na perfeição. Sem grande sucesso, diga-se de passagem, até hoje consigo ouvir a professora: até escreves bem mas tens uma letra tão feia, credo, é uma pena...!

Mas esse papelinho velho, de letra feia mas esforçada, oferece-me uma cantilena:
Gosto de ti porque gosto
Gosto de ti porque sim
Gosto de ti e aposto
Que tu também gostas de mim.

Tavez a tenha escrito por ser a única que conhecia para praticar a caligrafia, talvez a tenha escrito para a oferecer a algum menino especial certamente pensando que depois receberia em troca um "tens razão, também gosto de ti". Se assim foi, terei arrepiado caminho algures, provavelmente com medo de fazer figuras tristes, criança que eu era já dona de grande sentido crítico, e a cantilena nunca chegou a sair de mim acabando por encontrar acomodação no meio de todas as outras mensagens, essas sim, que passaram de mão em mão.

Gosto de ti porque gosto
Gosto de ti porque sim
Gosto de ti e aposto
Que tu também gostas de mim.

Nada mais sincero, nada mais humano. "Porque sim..", pois claro, que outra razão poderia haver...? Nada mais bonito, simplesmente bonito, para se entregar a alguém.

sexta-feira, março 11, 2011

Porque me toca de uma maneira especial que só eu sei qual é...

David Fonseca

I've walked through dangers,
I've talked to strangers, but they didn't understand
And when the world seems senseless
It's me and you against them
And I love you because you know who I am

All you dreamers keep dreaming
And let those dreams rise into the light
Go find someone who loves you, to live those dreams through
Don't you go and get swallowed by the night

I've walked the stages
I've read the pages and never, I've never reached the end
All the world seems senseless
You're here with me against them
And I love you because you know who I am

Deep inside every soul
There's a sadness on the verge of climbing through
Now don't you try and fix it, why would you do that?
How beautiful when sadness turns to songs

And I'll walk through dangers
I'll dance with strangers, but they'll never understand
We'll never be defenseless
We'll win this war against them
Don't you doubt this, yeah I'm sure we can
And who cares if they don't ever understand
And I love you because you know who I am

Roubada descaradamente

Porque se "colou" a mim de forma tão perfeita que não valia a pena inventar mais nada.

"Prece
Dear mind,
Could you please shut off until further notice so that my body, soul and sanity can get some rest?
I'll let you know when you're needed again.
Sincerely yours,
(...)"

quinta-feira, março 10, 2011

Frase do dia

‎"Quando paramos de lutar contra a realidade, a acção torna-se simples, fluida e sem medo."
Byron Katie

quarta-feira, março 09, 2011

O "S" que se transformou em "M", ou qualquer coisa a caminho disso, e o que veio a seguir

Na loja, pedi para trocar a peça de roupa que já andava na mala do carro há uma semana à espera da sua sorte. Na caixa responderam-me que não era possível porque a peça já tinha sido usada uma vez. Dei as minhas explicações, tentei fazê-lo entender que só me dei conta que afinal não devia ter trazido aquele tamanho ao usar porque nessa altura é que vi que o tecido alargava deixando de corresponder ao que eu pretendia. Respondeu que entendia mas que não podia ser, que não podem trocar peças que já foram usadas e que era óbvio que aquele material cedia... Resignei-me e disse: com certeza, entendo, deixa estar então, para a próxima tento ser mais atenta. E quando já estava mesmo a virar as costas, o rapaz disse: ok, vou abrir uma excepção. Repare, nós não podemos fazer isto mas pronto, desta vez passa...

Fiquei espantada, não era propriamente uma pessoa de trato fácil, até se podia dizer um pouco antipática e, mais do que isso, tinha a razão do seu lado. Sorri meio incrédula, tentando perceber se não tinha ouvido mal e lá entreguei a etiqueta do produto que tinha tirado entretanto da mala.

Enquanto a operação do regista e não regista e do troca e não troca decorria, dei por mim a pensar: caramba, não estamos a falar de algo fundamental. Eu não morria se não trocasse a peça, o meu mundo não acabava, não ficava nem mais pobre nem mais rica. Ele, o fulano da caixa, por seu turno, também não ganhava nem perdia. Não era um assunto de vida ou morte, de muito milhões, de nada importante. Mas... ele foi amável. Podia não ter sido, tinha legitimidade para não o ser e ninguém lhe podia apontar o dedo. Estava a fazer o seu trabalho, a cumprir as regras, e bem. Mas... DECIDIU ser amável. Simplesmente isso.

Não posso deixar de escrever sobre o assunto. Não posso porque me dei conta que a amabilidade, pura e simples, é cada vez mais rara. Não posso porque é bom perceber que ainda existem pessoas assim, é bom destacá-las, é bom reconhecer-lhes o mérito. Não posso porque há muito tempo que ninguém era tão amável assim comigo, simplesmente amável, sem ganhar nada com isso, sem pensar muito, sem... mais nada.


P.S: Para aqueles que estão, neste momento, a pensar "pois, és mulher, o rapaz derreteu-se e fez-te o jeito", acho que posso afirmar com quase, quase, quase! cem por cento de certeza que não me parece que faça o "género" dele ;).

Mascarados

Durante estes dias, olhei várias vezes para aqui. Apeteceu-me escrever mas, ao mesmo tempo, a ideia de me deparar com a caixa de texto em branco causava-me uma espécie de repulsa. Não soube como ultrapassar esta sensação, por isso fiz descansar a "pena".

Senti muitas coisas, lutei com todas elas, desgastei-me, recompus-me, desgastei-me mais um bocado, sacudi a cabeça na ilusão de fazer saltar para fora de mim as nuvens negras, pensei, pensei, pensei, cansei-me de pensar. Voltei atrás, andei para a frente, tomei decisões, desfiz as decisões que tomei, pensei mais, tentei chegar a conclusões para logo a seguir as esquecer e logo a seguir também voltar a elas como tábua de salvação. Senti. Senti muito, senti tudo.

Estou cansada, muito cansada. Talvez seja porque este ano me fartei de pular ao Carnaval...

sábado, março 05, 2011

O jantar fora que se transformou em jantar dentro

E. e E., a dupla maravilha, uns copos de vinho tinto a banhar a salada XL, depressões e piadas da treta mas, acima de tudo, a certeza de que ali é seguro cair.

sexta-feira, março 04, 2011

Interiores

Percorri os corredores, as divisões, fiz contas de cabeça, mimei o gato laranja que se roçava nas minhas pernas. Já cá fora, a profissional do ramo, que não parou de tagarelar sobre as maravilhas do que me apresentava, pergunta: E então, gostou? Tem alguma dúvida?

Fiquei-me pela resposta politicamente correcta do "sim, sim, obrigado, não tenho dúvida nenhuma, depois digo alguma coisa".

Mas o que me apetecia mesmo dizer era: gostei de umas coisas, odiei outras, a sua voz já me começava a dar nos nervos e, convenhamos, para a próxima avise a dona que deixar um soutien azul rendado, qualquer número, copa C, exposto logo à entrada do quarto, é estar a dar informação a mais, que eu não quero ter, e que não, não vai vender a casa mais rápido só por se conseguir adivinhar que até tem um belo par de mamas!

"Falta o click!"

Dizia a V...., e eu disse: faltam dois clicks, não um.

Mas isso sou eu, que tenho a mania...

As costuras

O que se faz com as saudades? O que se faz com essa matéria imaterial que somos obrigados a embrulhar em papel pardo, a atar com fio e a guardar algures em nós sendo que não há lugar onde elas se encaixem verdadeiramente? O que se faz quando o pacote é estranho em qualquer lugar onde se coloque e por isso, tal qual costura de meia a roçar e a entrelaçar-se nos dedos, sente-se sempre, incómodo, arestas mal limadas, alienígena? Perguntei e ouvi a resposta: nada. Podemos tentar ajeitar, ao longo do caminho, e com o tempo habituarmo-nos à sua presença porque o corpo e a mente a tudo se habituam. Mas não podemos fazer nada. Podemos contar com que murche com a passagem dos dias, perca dimensão, diminua o estorvo mas nada. Não podemos fazer mais nada. Porque as saudades, aquelas que fazem jus ao nome, são muito mais do que letras ou expressão bonita utilizada em canções. São donas de uma profundidade inalcansável, compostas por sentimentos sem norte, aos quais cortaram a raiz, impossíveis de fazer reviver. São donas do insondável, do "nunca mais", do "para sempre", da invisibilidade, da parede de vidro à prova de bala. São matéria do esquecimento, da perda, da vida que virou as costas, de quem se foi embora e nos deixou para trás. Não têm qualquer remédio. Só podemos esperar que murche.

Viagem na maionese

Ir almoçar a casa da mãe tem muitas vantagens. Uma delas é que a mãe em causa já faz comida a contar com o jantar da filha... Bom, muito bom, iguarias já preparadas, é só aquecer, caseirinhas, de boa qualidade...

Mas há mais! Tenho ultimamente reparado que, para além dos benefícios acima enumerados, um tupperware bem recheado pode-nos proporcionar toda uma experiência sensorial... vá... diferente! E ontem pude vivê-la em pleno...!

Nada como ter uma caixinha de arroz à valenciana a aguardar por nós dentro do carro, já há umas horas e com algum calor.... A caminho de casa, percorrendo estas estradas da vida, senti que o meu veículo já não era um qualquer citadino de 5 portas, não...!! Como que por magia, fui transportada para um outro universo, de cheiros e cores... por uns quilómetros senti-me uma outra pessoa, numa outra história de vida... por uns quilómetros, envolvida por aquela aroma, eu pude jurar que afinal era, nem mais nem menos do que uma condutora de roulotte de cachorros e couratos em início de jogo!

E não é que foi um gosto?! É o que vos digo, um gosto...

quinta-feira, março 03, 2011

Banho de rio

Perfil

Desistência e inteligência... será só por acaso que rimam?

Nãããã...! Este Sol não me engana!!

Sim, mantenho o pijama de flanela e as meias polares. Porque se a gata A. continua a optar por dormir debaixo do edredon isso significa que, lá em casa, ainda é Inverno rigoroso! O posto de "galo metereológico" é dela, ela é que sabe e eu nem discuto!

quarta-feira, março 02, 2011

Frase do dia

‎"A primeira e pior de todas as fraudes é enganar-se a si mesmo. Depois disto, todo o pecado é fácil."
J. Bailey

terça-feira, março 01, 2011

As dores, a luz, as várias línguas e a crescente falta de pachorra!

A mente humana é, de facto, estranha. Bom, pelo menos a mente desta humana em particular é...

Ouvimos só de vez em quando mesmo que ouçamos muito mais vezes. Podemos ser bombardeados durante meses e só haver um dia em que a informação, as opiniões, as constatações nos tocam de alguma forma. A minha única resposta para esta surdez selectiva é o coração e as suas razões ou a cabeça e as suas razões. Sinceramente, não sei bem se no fundo não são um só... E o facto é que "ouvir" dói antes de libertar. E quem quer que doa quando é óbvio que não vai passar disso, não vai ser mais nada que dor pura, sem tratamento, dor que só dói? Fechamos assim todas as portas, as auditivas, as sensitivas, e de dedo apontado mandamos a mensagem embora. A sua simples presença já fez estragos suficientes, não convém ter que lidar com ela muito mais. Sabemos, claro, o que ela tem para nos dizer, mas dói. Só dói.

Mas a realidade tem esta coisa chata de não desaparecer, de ser persistente... e, volta e meia, lá se coloca à nossa frente. Mais uma vez tenta, de mansinho ou à bruta, "chapar-se" na nossa cara. A cara é virada muitas vezes, continua a doer, continua a doer, mas há células em nós que começam lentamente a ceder. Porque há células em nós que se foram revestindo de capa protectora e conseguem já olhar de lado, conseguem que o medo já não as domine completamente. A realidade identifica-as imediatamente e não hesita em tocá-las, em tentar comunicar com elas. E vai plantando as suas sementes na parte de nós que se abre ao sol.

Não acredito no dia em que se acorda e se vê a luz. Acredito, sim, que vamos deixando a luz entrar aos poucos e que um dia percebemos que ela penetrou em nós em quantidade suficiente para nos podermos dizer mais iluminados. Nessa altura, a realidade, a mensagem que ela traz encontra acolhimento e pode enfim fazer-se evoluir para a outra fase, a fase em que nos acrescenta algo que não só sofrimento, a fase em que nos mostra o que o seu peso esconde, em que nos auxilia a libertarmo-nos dele, a ver para além dele.

Mas a mente humana é estranha... e embora tentando saborear a nova leveza, tem medo, continua com medo, luta entre embuir-se do espírito e prevenir-se para o que ainda pode vir. Porque a esmola parece demais, porque já não é a primeira vez que tudo volta a descambar quando já não se previa, porque "se calhar eu não tenho jeito para isto, o mais provável é fazer m****...". De repente, é mais fácil voltar à dor conhecida do que abraçar o que está para vir...

É uma luta. Cansativa, esgotante. Faz-me ficar farta de mim, deste ser estranho, cada vez mais estranho e inconsistente. É uma luta quase entre o bem e o mal, como nos filmes, em que num momento sou o "velho do Restelo" e no outro a "Alice no Pais das Maravilhas", em que de manhã digo "força, aproveita a vida e o que há de bom nela" e à tarde me encolho a dizer "cuidado, muito cuidado, it's not over yet...".

Convenhamos... estranha, louca, com múltipla personalidade e com raciocínios poliglotas... já não há quem aguente!