Às vezes sinto-me sem palavras. Perante situações perfeitamente absurdas e reveladoras de um raciocínio torpe e descabido, de desfragmentação e deturpação das mais básicas noções de bom senso, de comportamento quase esquizofrénico e doente, fico sem palavras. Nos primeiros segundos. A verdade mais absolutamente verdadeira é que fico sem palavras apenas até o meu cérebro reconhecer a crassa estupidez humana com que está a lidar e "ir buscar" ao arquivo a resposta adequada. Uma questão de um certo delay, portanto. A partir daí, as palavras jorram em cascata, encadeadas, cada uma trilhando caminho para a seguinte, cada "abertura de gaveta" activando em cadeia a abertura de todas as outras e dos seus raciocínios subjacentes. Até que o tal arquivo esteja totalmente à superfície, perfeitamente organizado, activo, pronto para ser usado a meu bel-prazer.
Podia aqui expôr com todas as letras o que penso e como penso. Podia "chamar os bois pelo nome", podia "pôr o dedo nas feridas", podia, como tão bem sei fazer, ir directa ao ponto e, certeiramente, atingir o alvo bem no seu âmago, sem deixar margem para dúvidas sobre a minha pretensão. Sem usar metáforas, linguagem mais ou menos velada ou elaborada, podia falar um português corrente, simples, cru, até básico, um português politicamente incorrecto mas altamente eficiente quando se trata de passar a mensagem certa. Podia, sim, sem qualquer subtileza nem remorso pela sua ausência. Podia insultar, deitar abaixo, pisar, escarnecer, ironizar e fazê-lo com a graça rude de quem não tem "papas na língua". Podia, sim. E confesso que até me daria um certo gozo. Mas não o vou fazer. E porquê? Porque... não é preciso.
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