terça-feira, março 01, 2011

As dores, a luz, as várias línguas e a crescente falta de pachorra!

A mente humana é, de facto, estranha. Bom, pelo menos a mente desta humana em particular é...

Ouvimos só de vez em quando mesmo que ouçamos muito mais vezes. Podemos ser bombardeados durante meses e só haver um dia em que a informação, as opiniões, as constatações nos tocam de alguma forma. A minha única resposta para esta surdez selectiva é o coração e as suas razões ou a cabeça e as suas razões. Sinceramente, não sei bem se no fundo não são um só... E o facto é que "ouvir" dói antes de libertar. E quem quer que doa quando é óbvio que não vai passar disso, não vai ser mais nada que dor pura, sem tratamento, dor que só dói? Fechamos assim todas as portas, as auditivas, as sensitivas, e de dedo apontado mandamos a mensagem embora. A sua simples presença já fez estragos suficientes, não convém ter que lidar com ela muito mais. Sabemos, claro, o que ela tem para nos dizer, mas dói. Só dói.

Mas a realidade tem esta coisa chata de não desaparecer, de ser persistente... e, volta e meia, lá se coloca à nossa frente. Mais uma vez tenta, de mansinho ou à bruta, "chapar-se" na nossa cara. A cara é virada muitas vezes, continua a doer, continua a doer, mas há células em nós que começam lentamente a ceder. Porque há células em nós que se foram revestindo de capa protectora e conseguem já olhar de lado, conseguem que o medo já não as domine completamente. A realidade identifica-as imediatamente e não hesita em tocá-las, em tentar comunicar com elas. E vai plantando as suas sementes na parte de nós que se abre ao sol.

Não acredito no dia em que se acorda e se vê a luz. Acredito, sim, que vamos deixando a luz entrar aos poucos e que um dia percebemos que ela penetrou em nós em quantidade suficiente para nos podermos dizer mais iluminados. Nessa altura, a realidade, a mensagem que ela traz encontra acolhimento e pode enfim fazer-se evoluir para a outra fase, a fase em que nos acrescenta algo que não só sofrimento, a fase em que nos mostra o que o seu peso esconde, em que nos auxilia a libertarmo-nos dele, a ver para além dele.

Mas a mente humana é estranha... e embora tentando saborear a nova leveza, tem medo, continua com medo, luta entre embuir-se do espírito e prevenir-se para o que ainda pode vir. Porque a esmola parece demais, porque já não é a primeira vez que tudo volta a descambar quando já não se previa, porque "se calhar eu não tenho jeito para isto, o mais provável é fazer m****...". De repente, é mais fácil voltar à dor conhecida do que abraçar o que está para vir...

É uma luta. Cansativa, esgotante. Faz-me ficar farta de mim, deste ser estranho, cada vez mais estranho e inconsistente. É uma luta quase entre o bem e o mal, como nos filmes, em que num momento sou o "velho do Restelo" e no outro a "Alice no Pais das Maravilhas", em que de manhã digo "força, aproveita a vida e o que há de bom nela" e à tarde me encolho a dizer "cuidado, muito cuidado, it's not over yet...".

Convenhamos... estranha, louca, com múltipla personalidade e com raciocínios poliglotas... já não há quem aguente!

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