segunda-feira, agosto 30, 2010

Diário de bordo #4

A noite não arrefece, o gato do vizinho acompanha-nos da sua janela, da mesa colorida ouve-se o mar mesmo aqui ao lado e sente-se a brisa no nariz. Boa companhia, bom peixe na brasa, a pele de Verão a brilhar ao luar. Para sobremesa, a nova receita de mousse de chocolate com canela, cinnamon para mim porque adoro o som e dose extra da dita na minha taça porque adoro o sabor. Perfeito.

domingo, agosto 29, 2010

Diário de bordo #3

Variedade, é o que se quer e foi o que fui tendo. Explorando novas áreas, respirando o cheiro a pinheiros e eucaliptos, conhecendo gente, diferente e como eu, embrenhando-me noutras conversas para alternar com aquelas que vou tendo comigo própria. Tempo para ouvir, pensar, chorar, esvaziar, concluir, "levar na cabeça", olhar de novo para dentro sob outras perspectivas. E estive lá, como queria, estive lá depois de voltas e voltas para encontrar um local, apenas um local. Estive lá para verificar isso mesmo: é apenas um local. O resto, o mais importante, tu, está comigo, sempre comigo, não está ali. E ainda tempo para receber a chuva de Verão, degustar doces e salgados, festejar noutras festas, nadar, nadar, entrar na água fria do pequeno lago que a cascata criou no meio do verde e das pedras, fotografar, muito, tudo, pequenos pormenores que para mim fazem todo o sentido, talvez mesmo só para mim mas que assim seja, participar num salvamento e trazer um pequeno ser para quem lhe quer bem, mimar e ser mimada, apesar de tudo, apesar de muitas vezes nem dar conta, tê-los comigo, àqueles que nunca se afastaram e fizeram questão de me dizer sempre "estou aqui" mesmo quando eu não estava, chorar mais e rir mais, entrar no mar e deixar que as ondas me fustiguem. A chinela no pé, como planeado, a calma de quem só tem que atravessar a estrada, o medo e, ao mesmo tempo, a vontade de voltar e provar a mim própria tudo o que falta provar. O medo e, ao mesmo tempo, a vontade de continuar o meu caminho. Sabendo sempre, agora com mais certeza ainda, que não é lá que estás, é aqui, comigo, sempre comigo. Falta o carrossel, não me posso ir embora sem andar outra vez de carrossel.

sábado, agosto 28, 2010

Diário de bordo #2

E assim inicio a última semana, a semana da chinela no pé, da preparação para a reentrada na vida real. E a semana em que me deixo abraçar de novo, em que volto a mover-me nos meus meandros de onde estive afastada o tempo que julguei necessário. Dizem que nunca saí verdadeiramente, não para eles, mas sinto que agora sim, é hora. Estou perto mas longe o suficiente, estive longe mas estou de volta, neste final de Verão quente, desejando que comece mais do que só uma outra estação.

quinta-feira, agosto 26, 2010

Diário de bordo

On the road again...

terça-feira, agosto 17, 2010

Perfil

... de alma quase lavada...

segunda-feira, agosto 16, 2010

Avarias

"Pronto! Já fui desempanar a C. ... eerr... salvo seja!"

(O que isto me custou...! Parecem punhais, senhor, parecem punhais!)

Sim, senhore, muinto bem, 'tou rialmente ademirada com tanta cóltura! Não à dúvida que á muinto talento a se perder no Facebook. Jente c'o dom da palavra, jente que escreve bem, com ténica e sabedoria e que vêsse que sabe o que fás! Um dia destes é bem capás de uma editora cualquer descubrir lá o próssimo Saramago, o próssimo Nóbele ou isso! E é assim que do nada surjem porcos... ai, quer dizer, pérolas..!!

sábado, agosto 14, 2010

Poesia no asfalto

Hoje ia sendo abalroada por uma carrinha frigorífica em plena segunda circular. Quando me ultrapassou, vi escrito na porta de trás: "Sentado na morte, tento a sorte".

Ceeerto...

sexta-feira, agosto 13, 2010

Verdades

"Há alguma coisa mais triste do que ser enganado com a mentira? Há, ser enganado com a verdade."
Benavente

Frase do dia

Don't wish too far because it may come true and then you can't help it.

Multi-post ou a preguiça para arranjar mais títulos

O último dia de trabalho antes das férias. Como sempre, tudo organizado, tudo em dia porque não aceito telefonemas fora daqui. Já avisei, se me ligarem, não atendo, pronto! E nada de usarem a V. para me enganar porque, se for preciso, também rejeito a chamada dela e indago antes, via sms, "qual é o tema?" para me certificar (como é bom aprender com os outros...!).

Acredito em marcos. Marcos na vida, a partir dos quais tudo muda. Na maioria das vezes só damos por eles depois, olhando para trás, só quando um dia acordamos e nos sentimos diferentes é que percebemos qual foi a pedra de toque. Mas sou uma "crente", como dizia no outro dia, uma das minhas mais recentes descobertas sobre a minha modesta pessoa, é a fé. Sempre soube que a tinha, nunca pensei que a dita chegasse a roçar a estupidez como já várias vezes pude verificar... Mas enfim, sou uma "crente", é um facto, e acredito em marcos e espero por eles, anseio como pão para a boca pelos pontos de viragem. E até tenho a veleidade de os tentar identificar antes, como quem vai na estrada e conta os passos e sabe que o km X vai aparecer dentro de momentos. Tenho fé neles mas tenho fé sobretudo em mim, vejam só... E com essa fé aqui vou de férias, com essa fé cá dentro, espero, atenta, para não os deixar escapar.

Museu da electricidade. (Mulher para o marido: "Portanto, então aqui era onde se fazia a electricidade, é isso?"). Um ambiente único a pedir para ser explorado por mais tempo. O meu olho a focar os imensos pormenores que dariam óptimas fotos: o compartimento das "brasas", os mecanismos gigantes, as maquetes (como eu adoro maquetes!), as pilhas de cinza, a bola de energia azul... a voltar, sem dúvida, a voltar.

E a calmaria nos telefones, nos emails, na papelada em cima da mesa (que no meu caso nunca é muita, sou muito arrumadinha e adepta de capas, dossiers, etiquetas, prateleiras e demais material de escritório que me permita ter a mesa livre e desimpedida). Calmaria também do outro lado, o lado que nos alimenta o resto da vida. O toque, o telefonema, o "estou aqui", o "penso em ti, minha querida, e estou com saudades tuas". Sei bem que os meus amigos pensam em mim, sei bem que o seu afecto foi uma das tais coisas que resistiu à mudança, forte como sempre, e passou comigo para o lado de cá do vidro. Mas gosto de senti-lo na pele não só de pressenti-lo. Não gosto de fazer férias dele, não...

Há qualquer coisa de místico em viver com cinco pares de orelhas pontiagudas, nem que seja temporariamente. Estou sempre acompanhada, mesmo quando não os vejo, porque eles vêem-me sempre. Omnipresentes.

Alívio. Conto com alívio. Pensamentos aliviados, obrigações aliviadas, alívio dos traços e expressões do rosto (sim, porque o veterinário giraço de ontem tratou-me por "senhora"... estúpido, deve ser míope...), alívio da alma. Alívio do sono.

O vidro. O vidro e as marcas das minhas mãos suadas nele. O vidro e a minha respiração que o embacia. O vidro grosso, inquebrável, como aqueles que guardam peças de museu. O vidro e eu a deslizar por ele abaixo, a encostar a cabeça cansada dos encontrões, a certificar-me que a marca das minhas mãos descreve o caminho até ao chão. O vidro e eu, o vidro que já não é fresco ao toque, que começa a ficar embaciado e sujo, que começa a perder a sua transparência e a engolir o que está do lado de lá.

E sim, ia jurar que me tinhas tapado durante a noite. Talvez por estar ali e ter voltado a sentir-me pequenina. Gostei do que senti, estava em casa outra vez.

quinta-feira, agosto 12, 2010

Porque a ouvi hoje numa altura em que fazia todo o sentido...

Other Side Of The World
KT Tunstall


Over the sea and far away
She's waiting like an iceberg
Waiting to change
But she's cold inside
She wants to be like the water

All the muscles tighten in her face
Buries her soul in one embrace
They're one and the same
Just like water

The fire fades away
Most of everyday
Is full of tired excuses
But it's too hard to say
I wish it were simple
But we give up easily
You're close enough to see that
You're the other side of the world to me

On comes the panic light
Holding on with fingers and feelings alike
But the time has come
To move along

The fire fades away
Most of everyday
Is full of tired excuses
But it's too hard to say
I wish it were simple
But we give up easily
You're close enough to see that
You're the other side of the world

Can you help me
Can you let me go
And can you still love me
When you can't see me anymore

And the fire fades away
Most of everyday
Is full of tired excuses
But it's too hard to say
I wish it were simple
But we give up easily
You're close enough to see that
You're the other side of the world

Oh, the other side of the world
You're the other side of the world to me

Aviões, conjecturas e absoluta necessidade de água fresca!

Rescaldo continuado. Sonhos atribulados de não sei o quê, que cansam e pedem mais sono, mais sono, mais dormência. E a noção de caminho, longo e cheio de precalços e custoso, que parece nunca mais acabar. Mas também a noção de passos dados, mesmo quando não parecia, passos dados no sentido interno, reconstrução da minha matéria, deitando fora o que não interessa, mantendo o que faz sentido e abraçando o que de bom se ganhou.

Há claramente um "antes" e um "depois". Mal comparado, lembro-me de ouvir esta frase quando o fatídico 11 de Setembro se deu. A partir dali, veriamos o mundo antes dele e o mundo depois dele. Mas mesmo assim me comparo, sinto o meu 11 de Setembro, os embates que deitaram abaixo as estruturas e que mataram o que lá vivia, o choque e a estupefacção, a incapacidade de reagir durante muito tempo e depois a reacção, aos poucos, digerindo tudo aquilo, com avanços e recuos, digerindo para conseguir olhar para mim e ver justamente que há um "antes" e um "depois" deste ano, o pior da minha vida, um "antes" de ter perdido quem era, um "depois" com o qual tenho que lidar, o presente de mim mesma, eu, sob nova forma. E, claramente também, distingo o que viveu na outra parte e não resistiu à mudança e que, por isso, ficará lá para sempre; o que se manteve, forte, saudável, sem ter permitido sequer uma beliscadura de tão robusto e verdadeiro que é; o que entrou de novo, ainda fresco, ainda a medo, trazendo novas cores à minha paleta. E por o ver, de forma tão inequívoca, entendo-me um pouco melhor. E por hoje o ver, de forma tão inequívoca, consigo ler em mim a dificuldade em olhar para o lado de lá do vidro, olhar para o que ficou para trás e perceber que, se não veio comigo, era porque não valia a pena, porque não me traz bem nenhum nesta nova fase, porque deixou de fazer sentido. E, por mais que custe, por mais pena que tenha, há que aceitar a súbita leveza da minha bagagem e preparar-me para a encher de novo. Espero saber fazê-lo acertadamente, espero saber fazê-lo com tudo o que aprendi.

E as férias aí à porta! E eu desejando sair, respirar outros ares, encher os meus olhos de outras paisagens, mergulhar na piscina, no rio, no mar (porque vão ser variadas, ah pois vão!) e dormir e ler e descansar e receber beijos e abraços e amizade e carinho e amor e rir, rir muito!, rir de tudo e de nada, pensar e limpar, serenar, acima de tudo, serenar.

Ainda entre duas portas, a do passado e a do futuro. Sei qual deve ser aberta e qual deve ser fechada. Ainda entre duas portas, ainda com uma mão em cada uma das maçanetas, sei que não me conseguirei manter muito mais tempo na diagonal, um pé atrás do outro. Porque uma coluna em torção não deixa viver o presente.

quarta-feira, agosto 11, 2010

Não.

Não. Nunca foi. Não. Já chega. Não. Ilusões, enganos. Não. Ninguém é o que parece, eu não sou o que pareço. Não. Nada justifica. Não. Perda de tempo precioso, desperdício de vida. Não. Já está na altura da roda da fortuna girar. Não. Que os soluços compulsivos libertem. Não. A base. Não. O instinto sobrevalorizado. Não. A força das palavras que arrasa tudo em seu redor como bomba atómica, não deixa pedra sobre pedra, não permite que nada fique intacto. Não. Encaracolando o corpo sobre a dor. Não. Atenta aos espanta-espíritos. Não. A mão nas costas dizendo "estou aqui" e lembrando quem não está. Não. As memórias. Não. A saudade que parece que mata, dizima, desfaz pedaços de ser, aos bocadinhos, pedaços que nunca mais serão os mesmos. Não. A frieza a sublinhar quando se sabe o que se quer. Não. Eu sou eu, eu SOU EU. Não. O calor abrasador. Não. Certeza de que as dúvidas levantadas outrora afinal sempre tiveram razão de ser, certeza de algo cá dentro já o dizia, algo cá dentro, que eu não via, já então me queria abrir os olhos. Não. As mãos que tremem sem controlo, o sorriso amarelo de quem as tenta disfarçar. Não. Chão quente a servir de cama. Não. Não há palavras e nem é preciso. Não. Sorrisos tristes e histórias de planos para acabar com o "mundo". Não. Nada é verdadeiro o bastante, nada, nunca. Não. Vodka black. Não. O que poderá vir aí. Não. O que está nas nossas mãos. Não. Corpo fechado, mente fechada. Não. Doces. Não. O "é" e o "tem que ser". Não. Declarações de amizade e amor. Não. A água fria da torneira que sai morna. Não. Já chega. Não. Não interessa porquê. Não. Ninguém vale.

Não. Não. Não.

Enviada por quem consegue ver para além do absurdo...

Ficar mais perto - Mafalda Veiga

Depois talvez construir
Ou navegar os dias
Pressentir
Percorrer os caminhos que houver
Há sempre uma maneira
De recomeçar
O que se quiser

Deixa-me assim refazer
Ou desfazer os rumos
Descobrir
Entender o destino que vier
Porque há sempre uma maneira
De mudar
O que se não quer

Depois talvez na incerteza
Descobrir o que está certo
E no amor
No desamor
Virar a vida do avesso
Ficar mais fundo e mais perto
Do calor

Deixa-me só seguir o rumo
De outro sentimento
Que acontecer
Nem tudo o que nos ata
Nos pode prender
Porque há sempre uma maneira
De recomeçar
O que se quiser
Há sempre uma maneira
De recomeçar
O que se quiser
Há sempre uma maneira de recomeçar

Depois talvez na incerteza
Descobrir o que está certo
E no amor
No desamor
Virar a vida do avesso
Ficar mais fundo e mais perto
Do calor

Deixa-me só seguir o rumo
De outro sentimento
Que acontecer
Nem tudo o que nos ata
Nos pode prender
Porque há sempre uma maneira
De recomeçar
O que se quiser
Há sempre uma maneira
De mudar o que não se quer
Há sempre uma maneira
De recomeçar

terça-feira, agosto 10, 2010

Quarenta graus

Rolando de um lado para o outro, na cama, e num outro mundo. Rolando, sem parar, mudando de posição cada vez que aquela parte do lençol aquece também... a cabeça sofre com a pressão atmosférica que também contrai os pensamentos e estes, de tão apertados uns contra os outros, parecem poder explodir a qualquer momento. Há conclusões a tirar, lições a aprender, sentimentos a domar.. mas como se nos parece tudo tão absurdo?? Como, se esperamos sempre que haja uma razão, a tal razão que dizem que justifica tudo e que, no final, dizem também, surge como salvadora das almas perdidas mostrando-lhes que estiveram sempre dentro no seu caminho? Como, quando as conclusões e as lições e os sentimentos não são aqueles que esperávamos, não são aqueles que gostariamos de chamar nossos? O "tem que ser" a espetar-se na carne, espinho encravado, o "é assim..." a dar-nos chapadas na cara, continuamente e cada vez com mais força, indiferente às nossas crenças, aos nossos pedidos, indiferente ao nosso sofrimento, como castigo ou punição, querendo entrar em nós à força, como representante da fatalidade que todos nós, queiramos ou não, temos que aceitar, o grande bastião da realidade que mata os sonhos. E nós, os resistentes, os sobreviventes, aqueles que usam a sua pretensa força, que só mascara a estupidez, como bandeira. E nós, os resistentes, os sobreviventes, recusando-nos a aceitar que não somos diferentes, não somos especiais, e a dar a outra face.

Frase do dia


Legalidades

Não haverá nenhuma lei que estabeleça um limite máximo de "derretimento que causa náuseas" quando se está ao telefone com os próprios filhos? E essa lei não terá uma alínea que diga que o não cumprimento dá, automaticamente, direito a terceiros de estrangular o autor do crime? Não?? Devia... é que já é uma questão de saúde pública...

sexta-feira, agosto 06, 2010

"Today i ask for clarity of mind and for my back to stop killing me. Thanks."

Este é o "estado" de hoje da J.M., lá para os lados de Londres.

Nem mais! Clareza de espírito, por favor!

Porque há dias em que não se sabe o que pensar, porque há dias em que sentimentos, palavras, gestos, expressões, muitas vezes contraditórios, arranjam maneira de se entrelaçar de tal forma que é impossível para qualquer cabeça dita normal pôr ordem na casa.

Porque... caramba!, porque já chega, porque quero paz, quero trilhos definidos, quero objectivos concretos e atingíveis, quero domínio das situações, quero calma e serenidade, quero ordem, muita ordem, tudo arrumadinho e encaixado nos seus devidos lugares!

(e consigo agora ouvir o outro lado de mim a buzinar - e umas quantas vozes conhecidas também - "Portanto, queres ser uma chata que não se pode, quadrada que até dói, daquelas que fazem tudo de forma certinha e previsível, sem sair das marcas, com tudo planeado...").

Quero. Quero ser uma seca, sim senhor! É isso mesmo que quero! Quero ser um filme mudo e a preto e branco, que não chateia, não faz barulho, não tem efeitos especiais complicados nem interpretações brilhantes nem cenas fabulosas nem fotografia ou banda sonora de ficar de boca aberta. Não! Quero a boca bem fechada, quero aceitar o que a vida me traz sem fazer mais por isso, quero ser como uma grande parte das pessoas que conheço que adequa as suas metas ao que consegue ter "queria 99 mas só consigo ter 25... ok, ok, não há problema nenhum, a minha meta passa a ser 25, o objectivo é atingido e eu sou uma pessoa feliz!"

Fácil, não? Parece que sim. É isto que quero, pronto, está combinado, não há mais nada a dizer.

Poesia

Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.
O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.


Fernando Pessoa
1931

quinta-feira, agosto 05, 2010

"Obesidade Mental"

Por João César das Neves*

"O professor Andrew Oitke publicou o seu polémico livro «Mental Obesity», que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral. Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna. «Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada.

Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses.» Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada. Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação.»

O problema central está na família e na escola. «Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate. Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma «alimentação intelectual» tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada.»

Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma: «o jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.»

O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante. «Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.»

Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura. «o conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve. Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê. Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto».

As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras. «Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia.

Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo. Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam.

É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental.»


* João César das Neves é economista, professor catedrático na Universidade Católica e Coordenador do Programa de Ética nos Negócios e Responsabilidade Social das Empresas

Nem no Verão dá descanso...

"E ela vira-se para mim e diz:
- Ó Dótora I., temos que organizar isto que assim não pode ser.
E eu concordei porque nem imaginam o tempo que estivemos ali a lember papel, a lember papel para encontrar o que queríamos!"

Let’s just breathe...


terça-feira, agosto 03, 2010

Off!

Amigo, pai de três lindas raparigas, para mim hoje:

- Quando sentires o relógio biológico da maternidade a fazer barulho... desliga-o!
;)

segunda-feira, agosto 02, 2010

T. & A.

"Fabulando"



Um novo recanto preferido, ali para os lados do Bairro Alto...

Hãã? O quê? É comigo?