Há claramente um "antes" e um "depois". Mal comparado, lembro-me de ouvir esta frase quando o fatídico 11 de Setembro se deu. A partir dali, veriamos o mundo antes dele e o mundo depois dele. Mas mesmo assim me comparo, sinto o meu 11 de Setembro, os embates que deitaram abaixo as estruturas e que mataram o que lá vivia, o choque e a estupefacção, a incapacidade de reagir durante muito tempo e depois a reacção, aos poucos, digerindo tudo aquilo, com avanços e recuos, digerindo para conseguir olhar para mim e ver justamente que há um "antes" e um "depois" deste ano, o pior da minha vida, um "antes" de ter perdido quem era, um "depois" com o qual tenho que lidar, o presente de mim mesma, eu, sob nova forma. E, claramente também, distingo o que viveu na outra parte e não resistiu à mudança e que, por isso, ficará lá para sempre; o que se manteve, forte, saudável, sem ter permitido sequer uma beliscadura de tão robusto e verdadeiro que é; o que entrou de novo, ainda fresco, ainda a medo, trazendo novas cores à minha paleta. E por o ver, de forma tão inequívoca, entendo-me um pouco melhor. E por hoje o ver, de forma tão inequívoca, consigo ler em mim a dificuldade em olhar para o lado de lá do vidro, olhar para o que ficou para trás e perceber que, se não veio comigo, era porque não valia a pena, porque não me traz bem nenhum nesta nova fase, porque deixou de fazer sentido. E, por mais que custe, por mais pena que tenha, há que aceitar a súbita leveza da minha bagagem e preparar-me para a encher de novo. Espero saber fazê-lo acertadamente, espero saber fazê-lo com tudo o que aprendi.
E as férias aí à porta! E eu desejando sair, respirar outros ares, encher os meus olhos de outras paisagens, mergulhar na piscina, no rio, no mar (porque vão ser variadas, ah pois vão!) e dormir e ler e descansar e receber beijos e abraços e amizade e carinho e amor e rir, rir muito!, rir de tudo e de nada, pensar e limpar, serenar, acima de tudo, serenar.
Ainda entre duas portas, a do passado e a do futuro. Sei qual deve ser aberta e qual deve ser fechada. Ainda entre duas portas, ainda com uma mão em cada uma das maçanetas, sei que não me conseguirei manter muito mais tempo na diagonal, um pé atrás do outro. Porque uma coluna em torção não deixa viver o presente.
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