segunda-feira, novembro 08, 2010

Privilégios

Éramos quatro, depois cinco. Cinco almas a gravitar, tão diferentes e, no entanto, tão iguais naquele momento. Em círculo, espalhadas pelo chão e pelos sofás. No meio, o alimento perfeito para os interiores que estão expostos e vulneráveis: chocolate, batata frita, rebuçados, gin, vodka, cigarros.

Houve risos. Houve choro. Houve mãos dadas, carinhos, gargalhadas, estupidez natural e saudável, empatia. Houve histórias más, emoções desenfreadas, corpo a tremer. Houve dores no peito e na alma, houve alívio, tristeza e alegria. Houve amor. As cinco entrelaçadas, cada uma com a sua carga, houve espaço e tempo para cada uma e para todas em conjunto.

É um privilégio, sem dúvida, um enorme privilégio.

A noite seguiu e o carro levou-nos, a gargalhar também, para que seguíssemos o resto das nossas vidas. Houve abraços e sorrisos, mãos quentes à chegada. Houve calma e desespero, noite mal dormida e sonhos, houve o continuar depois de tudo isso. Na mente, as conversas, as palavras, as expressões das cinco almas gravadas na minha memória, o que disseram, o que sentiram, o que calaram. Na minha mente, a certeza de que ainda não acabou para nenhuma, que está só no início para algumas, que para mim ainda há caminho a trilhar. Mas... nós estamos lá, eu sei, nós estamos lá.

Disseram-me antes que é assim "a vida dos adultos". Repetiram "caga nisso" e acrescentaram mais palavras duras e verdadeiras, palavras que tento absorver por mais que me doa, palavras que passo adiante para quem precisa de as receber também.

1 comentário:

Ricardo disse...

Há momentos que devem ser preservados como se de um filme se tratasse para que os possamos ver e rever na nossa memória.
Esses momentos são mais do que passado, mais do que um tempo que passou. São a base que se solidifica e que permite que cresçamos, cada vez mais fortes, cada vez mais alto, cada vez mais longe.