"Não, não, não.." repetia ela, abanando a cabeça, enquanto vagueava de divisão em divisão sem destino, sem propósito, sem pensar. "Não, não, não, não...", continuava às voltas, quase a correr, sem se lembrar por onde tinha passado antes, a abrir portas, a fechar portas, a pegar em coisas sem qualquer nexo, a olhar para fotografias como que a querer que os olhos vissem para além daquilo que o coração simplesmente não aceitava... De repente, deitou-se, sem saber como, sem saber porquê. Voltou para a cama, olhos pregados no tecto, mente em espiral, mil pensamentos em milésimos de segundos. Os olhos pregados no tecto branco. "Não, não, não, não..." dizia já sem som. Quando voltou a olhar para o relógio, tinham passado 45 minutos. Tinham voado 45 minutos. Não deu por eles... O que esteve a fazer durante esse tempo? Não se lembrava. Só lhe vinha à memória o tecto branco e o "não" repetido mil vezes.
Continua a não se lembrar. Continua a repeti-lo, ainda hoje, às vezes. Continua a repeti-lo. Continua a não querer aceitar o que o mundo lhe mostra. O seu novo mundo. Continua a viver esse momento e outros e, lá dentro, continua a dizer "não". Continua a não sentir os minutos passar.
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