Às vezes sinto que o tempo não passou. Como se os minutos, as horas, os dias tivessem congelado num determinado momento e como se fosse possível voltar a ele bastando para isso assim o decidir. Como se tivesse sido apenas ontem, como se nada tivesse mudado. Como se tudo permanecesse igual, intacto, simplesmente à minha espera, à espera que me resolva passar a fazer parte desse cenário outra vez. Ou como se o tempo se processasse numa rotação mais lenta fazendo com que 5 horas sejam apenas 30 minutos, 7 dias pareçam só 1 e meio. Olho para trás, noto que o calendário virou as páginas, sei que o maço de folhas dos meses que se acumula no chão vai engrossando mas não o sinto. Não o sinto. Há dias até que podia jurar, quase juro, que vou acordar, que nada disto é real, que afinal houve um engano, que aquilo que tenho vivido entretanto não passa de um delírio de febre de alguém que perdeu o rumo temporariamente e se viu a vaguear numa outra dimensão mas que pode e vai voltar à terra.
O maço das folhas dos meses está lá. Acumula-se no chão mas está lá. O maço de folhas, de todas aquelas folhas, é o meu presente. Continuo a vivê-las, uma a uma, hoje como ontem. São parte dos meus dias, juntas mas misturadas, não interessando a sua ordem, qual delas vem primeiro, qual delas é a mais antiga. Para mim são todas hoje.
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