sexta-feira, julho 23, 2010

Re... arquitectando

"A gente quer ter voz ativa,
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá (...)"
Chico Buarque


Como é que se começa de novo? Como é que, depois da "roda viva" ter passado por cima dos nossos planos, ter deitado por terra grande parte deles, seguimos em frente? De onde partimos?

Vendo a vida como uma construção, arquitectada em papel com régua e esquadro, com medidas e anotação da escolha de materiais, assim vamos nós decidindo onde ficam as janelas, quantas paredes terá e assentando os tijolos de acordo com o nosso desenho. Essa planta, que julgo que criamos sem sequer dar conta, acompanha-nos desde que nascemos e vai evoluindo connosco, crescendo, sendo melhorada para se adaptar melhor às ventanias que a vida nos vai trazendo e ao nosso consequente movimento interno de mudança. Quando nos sentimos perdidos, paramos, voltamos à base, consultamos o plano, relembramos aos nossos objectivos e continuamos a caminhar.

Mas... e quando deixamos de ter planta à qual recorrer? Quando a reviravolta é tão grande que arrasa estrutura, divisões, medidas, metas? E quando temos que desenhar tudo de novo partindo do zero? Não... na verdade será do "menos um"... porque a bagagem que carregamos às costas, que trazemos de trás, a bagagem de quem é arrasada, sem apelo nem agravo, é dolorosa, por vezes até cruel, e tem o condão de matar os sonhos e sentimentos de criança onde assentava a primeira construção. Portanto, sim, partimos do "menos um", partimos de um local interno sem luz, subterrâneo, que nos enegrece a esperança e a expectativa, que nos faz ter medo, que não nos ilumina o suficiente para que possamos pôr a vida em perspectiva.

Por onde começamos, sem planta e sem luz para a desenhar?

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