São díspares as minhas noções de tempo, olhando para trás. O tempo que ainda escorre pelos dedos, pesado, marcando passo com as suas botas da tropa, fortes e duras, marcando a pele, certificando-se de que o sinto realmente a passar por mim, e o outro tempo, também meu, das coisas que sinto presentes, dos momentos tão meus durante tanto tempo que parece que os consigo ainda cheirar, que parecem estar ao meu alcance, basta estender a mão, como se tivesse sido ontem, como nunca se tivessem ido embora, como se resistissem à passagem dos dias. Resta-me o tempo de quem vê do outro lado, talvez um tempo mais real, mais exacto, e tento ver pelos olhos deles, para me centrar, para assentar bem os pés no chão porque só assim consigo andar.
Recorro ao caderninho e anoto as pedras no caminho, anotando também quando consigo atirar uma para a berma. Talvez o deva usar para fazer a lista dos sonhos e desejos. Mas eu sei exactamente o que quero, eu sei. Sei hoje, talvez como nunca tenha sabido antes, o que pretendo que a vida me dê, o que eu pretendo dar a mim mesma.
E não pergunto "se", pergunto "quando".
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