Disse Vergílio Ferreira. E digo eu. Principalmente agora que vejo, como nunca!, como uma alma pode ser anã.
Todos vemos a maldade que há no mundo, todos assistimos a ela, mais de perto, mais de longe, todos os dias. Todos somos envolvidos por ela, todos a partilhamos quanto mais não seja porque é neste planeta que ela mora e nós também. Vejo-a como aqueles dragões de papel japoneses, serpenteando pelo ar entre as pessoas, tocando uns e outros, minando aqui e ali, vemos nas notícias, nos jornais, nas bocas do mundo. Mas, que me lembre, no seu serpenteio, nunca o dragão tinha parado, voltado o focinho e olhado directamente para mim. Nunca, nas suas voltas, me tinha fixado com os seus olhos amarelos como agora. E ali está ele, ainda ao longe, fazendo ruídos ainda meio surdos, velados mas encarando-me como quem diz: és tu agora a minha presa. E aqui estou eu, pela primeira vez a sentir o que é ter a maldade pura frente a frente. E é estranho, muito estranho. Mas, estranhamente também, não tenho medo. Não sei se alguma vez vou conseguir destronar o dragão de papel que serpenteia com os seus olhos amarelos, não sei, mas o que é certo é que não tenho medo. Aqui fico, a encará-lo também, calma, segura, a habituar-me a viver com a sensação de ser alvo de puro veneno, a não tentar arranjar explicações porque isto nada tem de lógico, simplesmente parada também, a fixá-lo. Vem, dragão, vem. Cá te espero.
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