quarta-feira, maio 26, 2010

Em concha

E quando a cabeça cai na almofada e o corpo se espalha como se derretesse no colchão, a armadura desfaz-se e o que está cá dentro, antes confinado, espartilhado, vem à superfície e passa a correr pelo corpo livremente. Nesse momento, encaro, em silêncio para não incomodar, só comigo, e olho, olhos nos olhos, deixo-me levar, manuseio os sentimentos, as emoções, deixo que se sintam. Tenho esperança de assim os conhecer melhor e assim os combater melhor. Tenho esperança que se desfaçam um dia, de tanto serem manuseados. Deixo-os vir, ocupar o seu lugar, por mais que doa e dói, deixo-me cair no meio deles, sinto, deixo que invadam o espaço, deixo que não me deixem criar ilusões. Eles existem, estão lá, não adianta fugir, não quero fugir. Encolho-me, joelhos junto ao queixo, e espero. Espero e sinto. A esperança, nessa altura, esconde-se, as pontinhas de felicidade são abafadas, a noite traz o escuro e escurece-me. Espero e sinto, sinto e espero, até que o sono venha e me desligue.

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