domingo, abril 21, 2013

Soltas numa noite de insónia

Hoje a lua está a meia haste. Eu sei porquê. Hoje ele enterrou a sua "menina". Ele tem noventa e quatro anos, ela tinha oitenta, e ele chorou como nunca nenhum homem parece ter chorado. "Perdi a minha menina", disse ele entre soluços de ferir qualquer coração, "devia ter sido eu, eu devia ter ido antes...". Mas não foi... mas creio que só por agora. Era ela que o agarrava à vida, era a ligação de profundo amor e amizade que tinham um pelo outro que o mantinha vivo, ao "meu Manuel de Oliveira", como ela costumava dizer. Hoje a lua está a meia haste porque ela morreu e ele começou a morrer. Porque o amor sempre se encontra e ele, a partir de hoje, começou a contagem decrescente para o dia em que se juntará a ela de novo. Porque a vida, seja em que mundo for, só lhe faz sentido assim.

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Fechou-se um pequeno ciclo, eu acho, com a adição do elo que faltava: porque elas também são "minhas" e era por isso mais do que justo - e, mesmo sem eu o ter consigo totalmente realizar de antemão, importante - que se juntassem a mim em pleno. No final do jantar que primou, como sempre, pelas confissões mais ou menos sérias acompanhadas de boas gargalhadas, a profunda certeza de que tenho a imensa sorte de estar rodeada, a toda a volta, por quem não desiste de mim, por quem sente para além do que decido mostrar, por quem acredita em mim, em quem sou, mesmo sem ver... e até vendo...

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Noite morna e confortável, de aniversário que se mostrou leve como não acontecia há algum tempo. Faltavas tu mas estavas lá, guiando as minhas palavras, os meus gestos, as minhas intenções, as minhas expressões, garantindo que, como sempre, mediarias o encontro. E não começaste só hoje, ando a sentir a tua mão sobre o meu ombro há vários dias, ando a ouvir a tua voz sussurrando-me as soluções. Resultou, eu acho. Para ambas.

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Às vezes esqueço-me de como é bom dormir abraçada pelo amor dos seres que povoam as minhas noites.

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O meu ano novo está quase aí...

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