Fui eu quem escreveu este bilhetinho que hoje me regressou às mãos. Bastou lê-lo uma vez para me lembrar exactamente das circunstâncias em que foi escrito: Natal, numa outra vida, prenda do amigo secreto, a pista logo adivinhada por quem a recebeu e que, pelos vistos, a guardou até hoje no fundo do baú. Uma história que comporta em si uma outra, de há bem mais anos atrás, a de duas miúdas com tempo a mais entre aulas; galões e torradas partilhados no café do costume.
Essas miúdas já não existem. Ou melhor, até existem, sim, continuo a acreditar, mas parece-me que se aconchegaram demais no fundo desse mesmo baú. Remetem-se ao silêncio a maior parte do tempo, esquecem-se de si a maior parte do tempo, sob o peso da vida que, entretanto, lhes foi passando por cima, só de vez em quando vêm à tona. Hoje, as miúdas são grandes demais, cheias de adultices, de marcas de vida - algumas até quase fotocópia, por coincidência ou talvez não - das quais parecem, tristemente, não conseguir regressar...
Mas hoje foi dia de "de vez em quando". Uma história encaixada na outra; dois saltos no tempo. Hoje foi dia de "de vez em quando" em dose dupla.
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