quarta-feira, abril 19, 2017

De mãos dadas

Foi há pouco tempo. Não sei que pernas me tinham levado ali nem tão pouco onde estava. Como é apanágio dos sonhos, há explicações que não dadas, deixam-se à dedução ou votam-se ao conformismo. Mas senti, sem dúvida, a tua mão no meu ombro. Era uma mão apaziguadora, quente, a tua mão como me lembro dela, a tua mão dona do dedo mindinho que eu agarrava com força quando a minha era pequena demais para mais. A tua mão que sem palavras me disse: não faz mal, não há problema, vai, avança. Estou contigo, sempre.

Quando acordei e me sentei na cama como sempre faço a dar tempo para que os sonhos se retirem, recordei a tua mão com nitidez como se a voltasse a sentir. E confirmei-lhe a mensagem. Sem equívocos. Percebi, então, que tinha estado à espera dessa resposta, da resposta a uma pergunta que não tinha tido nunca coragem de fazer mas que me gritava de dúvida havia muito. Percebi e fiquei em paz, finalmente. 

Não há processos de paz rápidos, eu acho. Como os que se encetam entre pessoas ou organizações ou estados, também os processos de paz internos, de nós para connosco, requerem tempo e negociação. Há que macerar as ideias, tirar-lhes o sumo para que se fundam melhor em nós. Há que aceitar os retrocessos, os passos atrás. Há que pesar as consequências, as práticas e as que nos pesam na alma. Há que nos habituarmos a uma nova ordem das coisas. Há que descobrir os pontos-chave que interessa manipular para que se proceda à abertura das portas que nunca pensámos transpor mas contra as quais andamos a embater de frente...

O meu processo já tinha começado antes. Vem sendo levado adiante, com paciência comigo mesma, com amor pela minha dor. A tua mão no meu ombro, como mão na minha mão, levou-me em paz um passo à frente. O passo que faltava dar.

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