Ansiedade, chamo-lhe eu. O coração acelera, incha e entope a garganta. Forço a tosse, viro-me para o outro lado e analiso as razões como me ensinaram a fazer: olhar para elas, cara a cara, para que assumam as devidas proporções. Não as adivinho porque não preciso, sei-as de cor. E, encarando-as, respiro fundo, o mais fundo que consigo, que nunca é muito... o sono há-de vir...
O acto de pôr o pé no chão e entrar no dia revela-se mais custoso do que o costume. Opto por não falar. Entro em modo mecânico rezando para que nada se atravesse no meu caminho porque sei que, o que se atravessar, arrisca-se a ser repelido de forma brusca. Fujo das contrariedades mas elas encostam-se a mim e as palavras disparam como foguetes. Fujo outra vez, trato dos compromissos e decido pôr-me a caminho, a pé. Atiro-me à calçada com determinação: ponho as minhas esperanças no suor e na seratonina, na activação dos músculos, no ar livre, na cidade a mover-se à minha volta. No tempo que terei para os meus botões.
A meio do percurso, um painel luminoso lembra-me a data e eu caio em mim e começo a achar que pode estar tudo relacionado. Que os céus, hoje, se movimentam nervosos, melancólicos, que a energia que emanam é lamacenta, enjoativa, perniciosa.
Ou não, são tudo coincidências parvas, intersecções imaginadas por quem tem sempre necessidade de encontrar uma explicação ainda que da banda esotérica...
Relembro-me de como este dia era bom. Relembro as conversas, os sorrisos, as prendas, o brilho nos olhos. Sorrio e sinto o sorriso inundar-me por dentro. E assim, no que resta do caminho, tomo uma decisão: este dia vai ser bom. Vou dar-lhe a volta, sacudi-lo bem e exigir que assim seja. Este dia vai ser bom. Por ti, vai ser bom. Está decidido.
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