Há que dizê-lo, já não tenho idade para isto. Estou aqui de coração na mão porque ele, coitado, já não aguenta palpitações de maior e precisa de afago no lombo. Ponho-me a rir feita parva, nervoso miudinho que me sai pela boca, mas até me apetecia era mandar uns gritos bem dados de chega-para-lá-vai-de-reto-irra-para-isto! Já não tenho arcaboiço, quero vida mansa, que anda devagar e aprecia a paisagem. Quero sol ao final da tarde na pele e quero silêncio temperado com o assobio do vento. E paz, paz a "rodos", paz de espírito, paz de quem não teme o que daí virá, paz de quem não tem nem se mete em trabalhos (e nisto, no espaço de uma hora apenas, a minha empregada doméstica despede-se sentida comigo, volta a querer empregar-se junto da minha pessoa que afinal não é tão má assim e ainda me oferece troca para dias da semana mais do meu agrado...). Já não tenho idade nem paciência. Recorro ao fundo de mim para ver se ainda lá resta qualquer coisa que se aproveite mas não, saco vazio que é o mesmo que dizer de saco cheio de complicações e complicadinhos, ausência de espinha dorsal e de gente com pouco com que se entreter na vida. E de traumatizados e de consciências pesadas à procura de alívio para as suas almas através da canibalização das almas dos outros (e nisto reparo que, no seguimento de outros sintomas, há determinada droga prescrita a fazer das suas desviando-se da sua missão inicial e, dos vidrinhos a tilintar nos ouvidos, passámos às vertigens e por último ao riso descontrolado.... gosto disto...! E pergunto-me, com vontade de experimentar, o que acontecerá se o álcool se juntar à festa. Festa maior, presumo...). Já não tenho paciência e reparo que também me vai faltando fé, aquela fé que alimenta a vontade de dar mais uma oportunidade, a crença de que ainda pode ser diferente ou possível. Não é por nada, não são lamúrias nem tristezas nem daqui virá mal de maior ao meu mundo, mas já me cansa. E este é daquele tipo de cansaço que se está nas tintas, que encolhe os ombros e vira as costas e parte para outra (e nisto reparo que a hipótese - ainda que incerta e longínqua - de ter que mudar de base me entristece e assusta. Gosto de lá estar, gosto do meu bairro, gosto da minha rua, sinto-me em casa e não me apetece ter que recomeçar, noutro local, a habituar o coração a outras esquinas). Já não tenho idade nem paciência nem vontade nem humor para nada disto. E tão pouco para andar atrás de retorno de quem de mim recebe. O lugar de cada um na minha vida é quase da sua inteira responsabilidade. É simples, é conquistado ou mantido ou perdido. A mim cabe a decisão final mas o resto não me compete. Já me aborrece, é isso, e seria assumir pelos outros a sua missão. E eu mal posso com a minha, convenhamos. Mas deve ser da lua. Tenho-a observado em dias mais frenéticos, aqueles dias em que parece circular uma energia esquisita que afecta tudo e todos, e cada vez mais me convenço que aquela brancura não é sinónimo de inocência. No meu caso, sendo o planeta que me regue, a força para domar marés vem levando de mim o que já não me serve. E a verdade é que sinto esta espécie de ecdise todos os dias mais um bocadinho...
Enfim.
Na tentativa de procurar um final de jeito para este texto que já vai longo (e que se viu grego para cá chegar), e não me ocorrendo mais nada, lembro-me de uma frase que li algures não sei onde e que resolvi guardar:
“Mas quem eu ainda nem sou já me chama, me seduzindo com vislumbres de um outro que não consigo nem pronunciar muito menos decifrar.”
Enfim.
Na tentativa de procurar um final de jeito para este texto que já vai longo (e que se viu grego para cá chegar), e não me ocorrendo mais nada, lembro-me de uma frase que li algures não sei onde e que resolvi guardar:
“Mas quem eu ainda nem sou já me chama, me seduzindo com vislumbres de um outro que não consigo nem pronunciar muito menos decifrar.”
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