Quem diria... quem diria que estaria hoje a ajudar a apanhar estes pedaços do chão, do mesmo chão onde os meus já se espalharam, detritos em tudo similares, quase que me reflectem. Quem diria que hoje teria capacidade para me rever, mas agora do lado de fora, no meu próprio interior quando este não existia sem ser afundado em si mesmo. Ouço as palavras, e mais que adivinhar, sei de cor o que as origina. Conheço-as. Conheço-os. Observo os olhares e reconheço o que os lança, o frenesim, o desespero, imaginamos - sim, é só imaginação - a nossa vida, a vida que queríamos ter, a escorrer-nos por entre os dedos, a ânsia de correr atrás dela e a frustração de não poder. Já os vivi. Quem diria que os conseguiria reviver em nome de outrem sem ser arrastada de volta. Como se estivesse apenas a lembrar um filme que vi: conheço as cenas, sei de onde vêm e para onde vão. Assisto de perto mas entre nós está a tela. Assisto mas com as emoções agarradas pelo pescoço, dominadas, observo-as analiticamente mas não permito que se manifestem. São só objecto de estudo agora. E não faço qualquer esforço.
E assim se descobre a razão das nossas descidas aos infernos: vir a ser a mão calma que guia e apanha o que vai ficando pelo caminho de quem tem que lá ir...
Sem comentários:
Enviar um comentário