quinta-feira, dezembro 09, 2021

A contar badaladas...

Não falta tempo, falta espírito. Falta energia ou então falta inspiração. Talvez, por um lado, esteja curta de emoções, talvez as que existem sejam demasiado avassaladoras, demasiado terror à flor da pele, é melhor nem mexer, nem tocar, nem falar alto para não as desassossegar. Talvez. 

O medo tornou-se companheiro de viagem. Mas, lá está, não o menciono. Não interessa, não lhe dou essa importância, não há-de ser maior que eu. Está lá, tem o seu espaço, o seu canto mas tem que perceber que da sua porta para fora o domínio é meu. Tem que ser meu.

Ouço comentários sobre ele e rio-me. Comentários quase certezas mas de quem nunca o sentiu assim, em toda a sua plenitude. Rio-me e aceno, fingindo concordar, fingindo não ver a ingenuidade e a pretensão. Enchem a boca, como se diz, e eu encho também mas de complacência: não sabem melhor.

Sinto raivas e rancores que percebo serem meus, fazer parte de mim como não queria que fizessem mas olho-os nos olhos e faço mea culpa. E, mais uma vez, esforço-me para os remeter para aquela que quero que seja a sua posição, sob o meu controlo. Corroem-me as entranhas, aqui e ali, causam-me azias e imagino cenários onde os exerço, onde os arremesso para meu alívio. Porque alivia gritar, chamar "os bois pelos nomes", mostrar indignação, exigir mais, revoltarmo-nos, exigir que me deem como eu dou. É o mínimo, acho eu, não nos contentarmos, não aceitar o pouco como suficiente quando não é o pouco o que se dá em troca. "Amor com amor se paga", é assim que deve ser. Duvido de mim própria, questiono se a minha razão me acompanha de facto mas respiro no final, e combino que cabe a mim fazer prevalecer a máxima. Retiro-me de cena, deixo correr, espectadora apenas, corto o fluxo até que o equilíbrio seja reposto. Temos pena.

Tenho a felicidade de conhecer a verdadeira felicidade e agradeço. E por ela, por ser a privilegiada que sou, exijo que a honrem e honro-a assim. Que seja ela o prenúncio de cada badalada.

Sem comentários: