Aconteceu. O meu maior medo aconteceu. O que mais me aterrorizava, atormentava é agora a realidade com a qual tenho que lidar. E lido. Nem sei como mas lido. Quase não sinto nada mas sinto mais do que tudo. Quase não choro mas choro mais do que ninguém. E eu sei que tu sabes.
Platão falava de almas gémeas explicando que cada pessoa é apenas metade de um ser, metade essa separada da sua totalidade. E atribuía ao amor a capacidade de restaurar o antigo estado de perfeição, juntando ambos num só.
Eu tive a sorte de conseguir juntar-me a ti desde o início e viver esse estado durante toda a minha ainda curta existência.
Somos almas gémeas, sempre fomos. Ao ler um determinado romance de Laura Esquível há uns anos atrás, dei-me conta disso. Quando acabei, percebi que tinha encontrado a explicação, que nunca tinha procurado por simplesmente não precisar dela, mas ela ali estava, à minha frente, e nada me fez tanto sentido. Porque somos algo que ultrapassa o grau de parentesco. Porque o que nos une, o que nos torna num ser único, é muito mais do que as grandes parecenças físicas ou de personalidade. É algo que não se explica, sente-se. Nós e qualquer pessoa à nossa volta. Entendemo-nos sem falar, completamo-nos sem esforço. É assim que somos e que vamos sempre ser.
Lembro-me da última conversa que tivemos os dois. A última conversa de muitas que só nós conseguiamos ter. Hoje, como nessa altura, fico feliz por ela ter acontecido, por termos tido essa oportunidade. E agora vejo também que não podia ter sido de outra forma, o destino não nos ia deixar separar sem que ela acontecesse. Viviamos uma fase difícil e, no meio do turbilhão, precisámos garantir, um ao outro e para todo o sempre, que o "nós" não era afectado. E não foi. Nunca era, nunca seria, nunca será.
Não sei como vai ser a minha vida a partir de agora. Sinto que não sou a mesma, nunca mais vou ser. Sinto que a minha vida se vai dividir claramente entre o "antes" e o "depois". Sinto que começou um novo ciclo. Mas uma coisa é certa, vamos voltar a encontarmo-nos. Porque as almas gémeas são assim, estão destinadas a encontrar-se. Sempre. Porque partilham a mesma luz, porque são as duas metades de um todo. Não interessa quando, não interessa sob que forma, não interessa em que estado, não interessa em que dimensão. Encontram-se. Uma e outra e outra vez. Sempre.
É mais forte que nós, é assim que tem que ser.
Por isso, eu não te digo adeus. Digo até um dia. Até lá, vamo-nos encontrando no vento que sopra nas árvores.
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