O mote para me sentar à frente do computador: um documentário. Nele Gorbachev dizia sobre Raíssa, a sua mulher de toda a vida, mesmo depois da dela se extinguir "Não falávamos de amor. Nunca fizemos grandes declarações. Fazíamos mais do que isso... agíamos."
Ouvi, corri a anotar no telemóvel e lá ficou. Os dias passaram e ela até então adormecida no seu formato electrónico lá me apareceu ontem à frente. E fez-me pensar. Sou de agir, não de falar no que toca a matérias amorosas. Mesmo quando ajo mal. Talvez devesse falar mais. Talvez se falasse mais agisse menos mal...
O wok faz a sua magia com o resto da lata de atum que serviu para a sandes da praia de ontem. Porque sou esquisita mesmo no que toca a sandes. Porque uma sandes de fiambre é coisa para me pôr doente. Quero lá saber se as fatias são "finíssimas" e vieram da pá. É fiambre. É pão com fiambre e um estraga o outro. O pão merece mais, o fiambre também. Coisa desenxabida, é o que é. Nesse aspecto, certa menina M., caracolinha que, sem saber, vai buscar à tia/madrinha umas manias, é cá das minhas: fiambre é para comer sozinho, à gulosa, o pão quanto muito e nesse caso, é só o recipiente.
Voltando ao wok, lá está ele cheio de alho e coentros como convém. Promete... mas não cumpre. A massa ficou mais ou menos. Portanto, quase boa. Ainda na sexta me aconteceu isso em determinado restaurante. Tinha tudo para ser óptimo: o nome do prato, os ingredientes, o aspecto, o cheiro mas depois... não era. Era quase bom, só quase bom. Se fosse cozinheiro diria que era o pior que me podia acontecer. Acho que preferia que estivesse intragável. Como cozinheiro quereria que os meus pratos provocassem reacções avassaladoras. "Óptimo!", "Excelente", "De fugir!" ou "Até me vomitei!". Nunca um "quase bom". Um "quase bom" não tem corpo suficiente, um "quase bom" nem dá vontade de reclamar. Reclamar de quê? Mas está mau? Não... Então está bom? Não... Então está o quê? Não sei... É como a roupa da loja dos chineses, é quase gira...
E lá estamos nós, eu e o meu estômago, avessos aos "assim-assim", aos morninhos, aos simpáticos, aos poucochinhos, aos "doces da avó" e aos molotovs, origem dos bleeerrgggh que a minha língua atira para fora da boca em tom de desolação e com expressão a condizer...
A verdade é que não me tem apetecido escrever. Há a viagem para contar, as fotografias para escolher, os costumeiros "sinto isto e aquilo" mas não, não me puxa... Talvez porque a viagem tenha servido mais para abstracção do que para análise, organização e conclusão. E talvez assim tenha sido porque não há mais nada para analisar quanto mais para concluir. É o que é, disseram-me um dia já há muito tempo, ouvi eu repetido mais recentemente da boca de outros. É o que é. Só falto eu, ser o que sou. O pior é que isso não me agrada. O pior é que o que sou hoje é "assim-assim", é molotov... e eu não sou moça para me contentar com isso.
Mantenho perguntas, sim. Mas não espero respostas. Ou então já as sei e o que sei já me serve mesmo que elaboradas por mim. O que é certo o que é facto é que a calmaria nocturna se mantém. Talvez já tenha mesmo respondido a tudo.
Mas já não gosto de aqui estar. Não sou eu aqui, não é a minha casa. Ou melhor, é, na papelada e na vertente prática. Mas funciona mais como albergue que me permite não dormir ao relento e que tem lugares certos para as coisas do que como casa, casa a sério, com C grande. Sugeriram no outro dia, tendo por base a conjuntura péssima em que estamos sentados: pinta as paredes, muda as coisas de lugar, transforma numa coisa diferente. Boa ideia... se me apetecesse. Só que penso em tudo isso mas noutro lugar, não aqui. Isto já se transformou em local de passagem há tanto tempo que não é possível voltar atrás. Já só grita "temporário", mais nada. Para quê gastar tinta com o temporário?
Li algures que "a realidade só é má se fugires dela". As porcarias que as pessoas escrevem na net só com esperança que depois as citem em qualquer site de frases famosas ou dizeres profundos. "A realidade só é má se fugires dela", pois sim! A realidade é boa ou má ou o que tiver que ser, estejas perto ou longe, fujas ou não, ó energúmeno cibernáutico! Aliás, porque fugiriam as pessoas se assim fosse? Se fogem é porque é uma trampa, não?! Digo eu porque eu nunca fugi. Não porque não quisesse mas porque o meu cocktail genético tem um raio de uma mania de dar a cara às chapadas que chega a ser doentio, mas enfim... "Ai, mas encaras, olhas de frente, não tens medo". Exacto... olha que bom para mim...!
Ai... estou cansada. O domingo cansa-me. É fim-de-semana mas já quase não é, é dia em que não se faz nada de jeito porque o que adianta se amanhã começa a semana e eu devia mas é aproveitar para fazer limpezas ou coisa que o valha...
Ai, deixa-me mas é ir que a solidão em demasia faz-me pensar em demasia também e já se viu que é coisa para a qual não tenho o mínimo jeito...
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