quinta-feira, janeiro 05, 2012

Assistências e desistências (ou adiamentos, vá...)

Saio furibunda, capaz de atropelar quem se atravessar à minha frente. Na minha mente, o tempo de espera que sei que me espera. Tento respirar fundo enquanto acelero porque quero resolver o problema de uma vez por todas embora reconheça a necessidade de evitar uma síncope cardíaca antes de lá chegar. Talvez não dê muito jeito, digo eu.

Chego finalmente e deparo-me com vinte (VINTE?!?) senhas à minha frente. Com o olhar, fulmino os poucos interlocutores de serviço - talvez a desculpa seja o facto de ser hora de almoço portanto é melhor nem me dar ao trabalho de perguntar onde raio andam os outros todos que deviam estar a trabalhar! - e decido que o melhor é ir arrefecer a cabeça e dar alguma utilidade ao tempo. Vagueio pela loja de moda chinfrim, onde já estive no dia anterior, na esperança de alguma novidade interessante no meio dos brilhos e folhos e, na ausência dela, decido que é uma boa altura para resolver algumas pendências de supermercado. A imagem do pão de centeio tão adorado lá em casa e a minha dependência de creme Nivea (o bom, velho e espesso) sobrepõem-se e lá me encaminho para o abastecimento.

De volta, já só faltam sete. Menos mal. Os "plim-plins" chamam em vão os, entretanto, desistentes, e o meu número aparece redondo no monitor.

Explico, com calma forçada, a minha questão e acrescento "liguei para a linha de apoio antes de vir porque podia ser só azelhice minha e assim resolvia o problema sem ter que me deslocar e sem ter que os vir maçar mas a sua colega do call-center aconselhou-me a procurar a vossa ajuda. Por isso, aqui estou, mas tenho que lhe dizer umas coisinhas: espero que seja azelhice minha porque isso significa que daqui a nada tenho o problema resolvido e me posso ir embora sem qualquer perspectiva de cá voltar tão cedo. Mas, se assim for, significa que a sua colega me deu uma informação errada e eu vou ficar danada e vou querer reclamar por me ter feito perder este tempo todo. Por outro lado, se não for azelhice, fico danada porque significa que os senhores reinstalaram mal o software e me fizeram ter que cá voltar e eu vou querer reclamar por me terem feito perder este tempo todo. É uma lose-lose situation para o vosso lado, não sei se está a perceber...". O sorriso amarelado do meu interlocutor denunciou que sim, estava a perceber muito bem e começava agora a ter algum medo de mim. Confesso que me amoleceu ligeiramente e por isso abstive-me de acrescentar "ouça... o senhor não tem noção mas eu faço pilates avançado! Não calcula a força que actualmente tenho nos membros inferiores e abdominais, estou convencida que sou capaz de deitar abaixo um elefante africano, por isso é melhor tratar-me bem! Ok... talvez não um elefante africano mas, enfim, um bezerro ou bicho semelhante... por isso veja lá o que me vai dizer!".

Um pouco nervoso, pega no aparelho e põe-se a investigar. Dá voltas e voltas e voltas e passado cinco minutos descobre o truque. Todo contente diz-me que nem ele sabia que era daquela forma que se resolvia, que até me agradecia por lhe ter levado um problema que o fez aprender uma coisa nova e que eu tinha em mãos "um aparelho do melhor que se tem feito!". (Olha que sorte a minha de ter tido capacidade financeira para adquirir tal portento que, pelos vistos, só não lava roupa à mão nem faz omoletes por um mero acaso mas que logo no segundo ano se começou a desligar sozinho, apagou informação sem ninguém lhe dar ordens nesse sentido e me levou a assistência técnica três vezes em três dias seguidos. É porque eu mereço, certamente, eu mereço...).

Não obstante, o rapaz fez-me sorrir pela forma inteligente como deu o melhor uso aos seus aparentes conhecimentos em Terapia de Controlo de Raiva em clientes - digo aparentes porque, se calhar, nem sabe que os tem - enquanto me conseguiu resolver o problema que era o que eu queria. Aprecio a inteligência e a inteligência é das poucas coisas capaz de me desarmar... (a par do talento, do altruísmo, da humanidade, da educação, do respeito mas isto ficará para um outro dia...) e como, hoje em dia, começa a ser raro encontrá-la por aí, acabei por vir de lá com mais alguma esperança no ser humano e nos meus concidadãos o que me deixou um pouco mais bem disposta.

Aproveitando a maré de calmaria e serenidade, faço o caminho de volta a par e passo. Chego, preparo o meu chá verde quentinho, sento-me ao computador para me dedicar a outros afazeres e decido aproveitar a pausa de mim mesma... porque sei que não tarda muito lá me hei-de encher de irritação outra vez por ter que repôr "à la pata" toda a informação que o aparelho portento decidir mandar para o espaço sideral!

Mas enfim, lá chegarei... e se calhar não vai ser hoje...

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