terça-feira, agosto 14, 2012

Às vezes

"Às vezes sentimos que o tempo chegou ao fim, que as portas se estão a fechar por trás de nós, que já nenhum ruído de passos nos segue; e temos medo de nos voltar, de dar de frente com essa sombra que não sabíamos que nos perseguia, como se ela não andasse sempre atrás de nós, e não fosse a nossa mais fiel companheira.

Às vezes, em tudo o que nos rodeia, encontramos essa impressão de que não sabemos onde estamos, como se o caminho para aqui não tivesse sido o mesmo, desde sempre, e tudo devesse ser-nos , pelo menos, familiar. A solução é pegar no fim e metê-lo à boca, como se fosse uma pastilha elástica, derreter o sabor que o envolve, por amargo que seja, e no fim pegar nesse resto que ficou e, tal como se faz à pastilha elástica, deitá-lo fora. Para que queremos nós o nosso próprio fim? Já bastou tê-lo saboreado, derretido na boca, sentido o seu amargo sabor. Então, libertos do nosso fim, veremos que as portas se voltarão a abrir, que a gente continua a andar à nossa volta, que a sombra já não nos mete medo, e que se nos voltarmos teremos pela frente o rosto desejado, o amor, a vida de que o fim nos queria ter privado."

in Fórmulas Para Uma Luz Inexplicável
Nuno Júdice

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