sexta-feira, julho 03, 2015

A pouco dias de terminar mais uma década...

A década em que parece que tudo aconteceu, a década em que aprendi e cresci, mais que em qualquer outra. A década em que o chão me fugiu debaixo dos pés e em que eu achei - e até desejei - que me levaria com ele para depois descobrir que os meus limites são bem mais além. A década em que mais me desiludi por mais me ter iludido. A década em que descobri o verdadeiro significado do amor, da amizade, da compaixão, da empatia por, em simultâneo, ter experimentado a sua ausência e as suas existência e afirmação. A década em que me descobri uma pessoa absolutamente privilegiada. A década em que mais sonhei e desisti de sonhar para voltar a sonhar outra vez. A década das luzes e das trevas, das florestas escuras e das descobertas, de um maior conhecimento interior, deste ser humano e dos outros. Dos risos carregados de mágoa porque a vida continua, da força que não sabia que tinha, dos pesos e fardos e das múltiplas mãos que se juntaram às minhas para me ajudar a carregá-los. A década das mortes, de corpos mortos e vivos, e de almas, e de algumas ressurreições. A década da solidão, profunda solidão como não sabia que era possível alguma vez sentir alguém tão rodeada de gente. A década da verdadeira autonomia. A década do amor por mim própria. A década do "tudo é degrau, tudo eleva" e do "quando não sabemos o que fazer, o melhor é não fazer nada" e também do "não". Não, não, não. Foi a década do choro. Rios e rios de choro, com lágrimas, sem lágrimas, com gritos mais ou menos em surdina, com murros na parede e pernas que perdem a força em direcção ao chão. A década das novas viagens. A década da vida como ela é, da realidade, da maturidade, dos olhos que finalmente se abrem e se deixam de filtros infantis. A década do desapego. A década da descoberta dos dois lados da moeda. A década do descontrolo e da sua aceitação e até certa adopção, imagine-se! A década em que me levantei sempre, uma e outra vez, as vezes que foram necessárias, e que caí, uma e outra vez, por não aguentar mais estar de pé. A década dos sonhos e pesadelos. A década da busca incessante por soluções, das experiências nunca vividas, da fé. A década das surpresas, dos desconhecidos que, mesmo desconhecendo-me, me estenderam a mão, e das cartas, búzios, velas, santos e orixás, côcos partidos em encruzilhadas, drogas legais e mezinhas. A década da família numerosa e dos seus laços mais extensos. A década do orgulho nos meus apelidos e genes. A década da "cuidada" que passou a cuidadora. A década das amizades e "irmandades" e dos copos e das drogas leves a fazer-nos rir, como há muito não conseguia, no banco de jardim à beira do Amstel. A década das presenças constantes, das imensas, dilacerantes, às vezes, incapacitantes saudades. Do amor que teima e persiste, da esperança. A década em que mais mudei. A década em que mais me afirmei a mesma. A década em que apreendi a vida e a sua inconstância. A década dos planos e desvios. A década do futuro.

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