Um copo de vinho. Às vezes é o suficiente. Na falta de outras "drogas" a saborear outros vícios, um copo de vinho. Tinto. A ansiedade parece diluir-se no líquido e a paz assenta devagarinho. Volto atrás, já não no tempo, apenas na memória dele, memória escrita ou arquivada nas células, e arrepio-me mas só de leve: parece que foi ontem. Tremo sem dar conta mas também sorrio perante a minha capacidade de tornar as palavras o meu espelho: já não me lembrava que a tinha, já não sei se a tenho.
Paz. E memória de um tempo que, por não a ter, a apreciava nas pequeníssimas coisas. Mas aprendi: hoje saboreio-a sem me esquecer que é efémera. Porque tudo o é.
Ontem foram mais copos. E risos. E conversas até às cinco, a fazer lembrar as madrugadas passadas a fazer nada mas que valiam por tudo na terrinha de interior. Parecia que por lá estávamos outra vez.
A garganta secou quando não havia mais como a humedecer; o frio entranhou-se mas não esmorecemos: quando as palavras se soltam sozinhas mais vale deixá-las correr livremente. É uma questão de saúde do espírito, diria eu, e com a saúde não se deve brincar.
Às vezes interrogo-me se algum dia vou conseguir ser outra.
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