... e se me perguntarem porquê, não saberei dizer.
A afirmação de que há anos que nos fazem perguntas e outros anos há que nos dão respostas ciranda há meses na minha mente, devagar mas de forma constante, serpenteando pelos pensamentos como fita grossa e sedosa de embrulho - que neste caso é azul mas não sei a razão - e, não o encaixando na esquadria de calendário civil, o ano que passou e continua a passar tem sido abundante em respostas, sem dúvida, mesmo a perguntas que nunca foram feitas. E talvez seja essa proliferação de conclusões a culpada de tão parca comunicação. Há muito para arrumar: caixotes poeirentos de tempo passado, casos arquivados sem resolução aos quais agora já se pode atribuir carimbo de conclusão, novas realidades e jeitos de olhar, para mim, para os outros, para o mundo, que necessitam ser devidamente registados e organizados porque passaram a fazer parte do engenho e a circular por mim com naturalidade...
É quase instintivo para os demais concluir que este terá sido o período mais difícil até então mas estão errados: na época já sabia que nunca mais sofreria daquela forma e assim foi. Na época, a minha alma foi sugada, arremessada contra ao chão e rasgada aos pedaços. Na época, morri. Neste período, pelo contrário: renasci em vida e recusei-me a viver de menos. Vivi com ganas, com sede. Este período não me sugou a alma; se algo, desvendou-lhe e acrescentou-lhe força, uma força que me veio sem esforço, uma resistência para não me deixar quebrar que nem sabia que tinha e que se manifestou por instinto. E se a alma não se curva, as costas endireitam-se e o corpo aguenta.
Não falo em fim, esta é uma das minhas novas facetas. Aprender a aceitar a falta de domínio e o que me transcende é uma lição dura mas necessária para a minha sobrevivência. Não me dou a ilusões - o que em mim já não é novo - mas acrescento-lhe a aprendizagem, todos os dias mais um bocadinho, de que não posso dar por terminada a tarefa. E que tenho que viver com a indefinição.
Penso em mim, faço balanços, sinto-me. E vou-me certificando, cada vez com maior consciência dessa necessidade, que o tempo que dispenso me acrescenta e não me subtrai. Pessoas, circunstâncias, momentos, palavras são agora medidos por essa bitola. As guerras que aceito e as das quais deserto, os perdões que dou ou que peço, o que dou e o que considero ser-me devido, as lágrimas que deixo que escorram, as conversas. Viro as costas ao que não se encaixa, ao que peca por superficialidade, falta de conteúdo, falta de noção; abraço com força e emoção o que vai mais além e me faz mais feliz. Escolho com critério o que posso escolher que ocupe lugar em mim e no meu tempo. Não faço favores. Não aceito meias medidas. Não me contento.
Se formos a ver, não, não mudei muito neste tempo. Apenas apurei.
Se formos a ver, não, não mudei muito neste tempo. Apenas apurei.
Sem comentários:
Enviar um comentário