"Pior do que ser infeliz é ser, medianamente feliz. É reconhecer que "as coisas funcionam" sem que, no entanto, nada nos encante. E sentir que "a vida corre" mesmo quando os dias são iguais e tudo neles parece que a engonha. Ser medianamente feliz é ser infeliz, devagarinho.
Ao contrário, ser, abertamente, infeliz amarfanha-nos por dentro e magoa-nos. E engelha a alma e atordoa. Mas, ao menos, é "preto e branco". E reconhecemos o sofrimento e perscrutamos as suas razões. É uma dor com verdade. Já ser-se medianamente feliz é uma forma "copo meio-cheio" de nos reconhecermos como moderadamente infelizes. E é ser-se infeliz "pela positiva". E isso é mau!
"Se não discutimos, é porque as coisas estão bem" deve ser das "fórmulas" que mais nos empurram para sermos infelizes devagarinho. Porque não nos faz sentir traídos mas não nos torna atractivos. Porque não nos empurra para a esperança nem nos mergulha no desespero. Porque não nos torna nem tristes nem alegres. E não nos faz sentir nem sós nem acompanhados. Ser medianamente feliz é ser quase feliz e quase infeliz. Ou nem feliz nem infeliz. E ser "nem-nem" é não saber, sequer, quem se acaba por ser. Porque quem nos devia amar não nos faz descartáveis nem indispensáveis.
Quando não se pode pode ser ou feliz ou infeliz, devia ser proibido ser moderadamente feliz! Porque, assim, isso nos levaria a fazer à vida com outra genica. Em vez ficarmos à espera que ela resolva por nós aquilo que nunca se resolve sem nós.
Não discutir não significa que estamos em sintonia ou em harmonia. É desistirmos de nos emparelhar antes de desistir de se amar. É desistir de viver antes de reconhecer que se que se está a morrer."
Eduardo Sá
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