quinta-feira, fevereiro 02, 2012

O barulho do silêncio

Não te apetece, não sabes porquê. Aceitas a falta de impulso, não o forçando, aceitas não ter nada mais para dizer. Limitas-te a sentir o velho e o novo, a olhar pela janela, a seguir pelo dia tão igual aos outros todos e resignas-te com quem és. Não te apetece e perguntas-te o que quererá isso dizer, perguntas-te mesmo sabendo a resposta que o cansaço e a desistência te devolvem sem palavras. Emudeces ao mesmo tempo que disfarças a respiração deixando que ela corra solta só quando mais ninguém te vê, quase só quando tu não te vês também. Não falas e sorris mesmo que o peito doa tão somente porque a dor já faz parte da casa, da tua natureza. Nada de novo, porque não sorrir? Admiras-te com a capacidade adquirida de fazer e sentir e pensar tantas disparidades ao mesmo tempo, em paralelo ou entrelaçadas umas nas outras. É certo, desististe de tentar perceber, colocas-te debaixo da chuva e molhas-te e a roupa ensopada já nem frio te provoca, atérmica, já se cola a ti. Nem por um segundo o teu vaivém pára mas já nem esse turbilhão te causa vertigens, já nem os sentimentos em rodopio e em equilíbrio instável sobre a tua cabeça, como detritos arrancados do chão por um tufão, te assustam. E já nem te apetece "driblá-los", esperas somente pelo choque de um deles contra ti , se e quando vier, sabendo que depois, é inevitável, lá te irás levantar outra vez. Viras a cara e não respondes às questões que se vão formulando, a repetição drena-te as energias e tu precisas delas para te dedicares ao que deve ser. Sorris mas já não emites qualquer opinião quando percebes, aqui e ali, a corrente em vigência, que parece ser agora a mais consensual no que respeita ao que nos deve reger, a nós habitantes deste mundo que não pára, de que o que importa é seguir em frente, sempre em frente, o que interessa é andar, andar sempre, porque sabes que desafiarás a tendência e teimarás em afirmar que, para ti, o que é mesmo importante é saber para onde, antes de tudo o resto. Ouves mas não te manifestas e só quando deitas a cabeça na almofada, lhe pedes paz e a sua mão no teu ombro ou a passar pelos teus cabelos, e pedes que te diga só que vai ficar tudo bem.

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