quinta-feira, junho 14, 2012

O da coincidência

Vencida a preguiça, recomeça-se o trabalho. O facto de ser metódica tem-se revelado contraproducente ("comecei na sala, agora só passo para outra divisão quando a acabar...") porque depois dos livros e cds seguem-se as louças... que têm que se embrulhar em jornal... e o jornal provoca-me arrepios estranhos quando imprime a sua tinta nas minhas mãos sendo difícil controlar a urgência em lavá-las. Mas enfim, aqui vamos nós. O primeiro caixote enche-se e fecha-se, a meio do segundo e já com dores nas costas e com as mãos arrepiadas até ao âmago, passa-me pela cabeça deixar para amanhã. Mas, decidida, opto por estabelecer um objectivo: continuo até despejar o armário amarelo. Com essa meta em mente, lá me disponho a mais embrulhos e mais embrulhos e mais embrulhos, tentando intercalar o que se pode partir com toalhas e mais toalhas e mais toalhas, da avó, da tia, da mãe.

Quando só falta meia dúzia de objectos, dispostos na última prateleira, da última porta, e num derradeiro fôlego, ao retirá-los, de repente, algo escorrega e cai ao chão. Páro. Um nó na garganta, um nó no estômago. Observo os cacos espalhados, cacos de peças de um conjunto que agora ficou incompleto, um conjunto do qual tinha decidido não me desfazer. Penso por mais uns segundos mas, embora ainda de lábios apertados e coração murcho, decido seguir em frente, sacudo a cabeça e os pensamentos que lá estão dentro, começo a desatar os nós, limpo o chão e continuo, guardando o que restou, talvez ainda sirva para alguma coisa.

Continuando a embrulhar, penso na coincidência. Mais nada se partiu, só aquilo. Peças maiores e mais complicadas, algumas que tenho só por ser suposto dar continuidade ao seu uso familiar mas que raramente utilizo (ou nunca utilizei!), absolutamente intactas... mas aquilo... Bom, talvez não seja coincidência, afinal. Talvez tudo tenha mesmo uma razão de ser...

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