terça-feira, junho 12, 2012

A linha

Onde fica a linha?

Perguntámo-nos, ficámos sem resposta. Continuaremos, por isso, a tentar encontrá-la em nós mesmas, quem sabe não nos esbarramos com ela ao virar de uma qualquer esquina da vida que ainda nos falte dobrar.

Sabemos quem somos, como somos, conhecemos o nosso grau de exigência, a nossa insatisfação. Reconhecemos já também que a vida não se coaduna com grandes expectativas, que nunca nada é a cem por cento, que a realidade é muito mais crua e prática do que gostaríamos que ela fosse, que não está para grandes filosofias nem almeja o óptimo, o "assim-assim" é o que se consegue na maioria das vezes. Não obstante, a nossa natureza impele-nos sempre a procurar mais longe, mesmo que só um bocadinho, mesmo que já muito refreadas pela praticidade dos dias e do que é suposto ser. Mesmo assim, não deixamos de querer que a vida não se reja só pela simples sobrevivência e/ou linear existência, continuamos a acreditar que andamos neste mundo para mais do que isso.

Onde fica a linha então?

Se olharmos em volta, se nos basearmos naquilo que a maioria nos "devolve" da sua vida, percebemos sem equívocos que pertencemos aos "outros". Não nadamos propriamente contra a corrente mas também não nos deixamos simplesmente ir com ela, preferindo percorrer um outro rio, mesmo que um pouco mais arriscado, um pouco diferente do comum. O objectivo é o mesmo de toda a gente: ser feliz. O método difere.

E onde fica a linha?

Às vezes não parece, damos a impressão de estagnar, de não seguir em frente. Quem vê de fora, por vezes assiste a uma aparente passividade que não entende e interroga-se sobre que raio andamos a fazer então? E é, em parte, lógica essa análise e pergunta que se segue. Paramos para não seguir o que está à nossa frente quando, o que está à nossa frente, até podendo ser o caminho percorrido pelas outras pessoas, o lógico, o expectável, o suposto, aquele que etiqueta os nossos passos como evolutivos à luz do entendimento geral, aquele que, em suma, está disponível, não é aquele que queremos seguir. Paramos para não ir por ali, é verdade. E muitas vezes temos que aguardar e pensar numa alternativa, acima de tudo sentir o que poderá ser uma alternativa, desenhá-la, construí-la o mais possível à nossa medida. Paramos. Escolhemos parar para depois mudar de sentido. "Não sei por onde vou, não sei para onde vou. Sei que não vou por aí!" - José Régio

Mas como pau de giz fincando o quadro negro, as dúvidas de quem pára para pensar, de quem pensa porque pára, de quem pensa antes de construir e no decorrer da sua construção, a par e passo.

Mas onde fica a linha?

Compreendemos a necessidade salutar de aprender a aproveitar o que temos, a valorizar o que de bom a vida mantém e nos dá. Mas não podemos deixar de nos interrogar: onde fica a linha? Onde fica a linha que separa o gozo daquilo com que a vida nos presenteia e a acomodação a essa realidade? Como saber quando a estamos a ultrapassar, quando deixámos de apenas abraçar o que temos e passámos a adaptarmo-nos a isso, a conformarmo-nos, desistindo de procurar mais, melhor, mais completo, que corresponda a maior felicidade, desistindo por comodismo e suposta objectividade da construção de nova teia, de novo enquadramento? Estaremos nós perante o típico "quem tudo quer, tudo perde"? Será mesmo suposto não querer mais? E querendo, quando sabemos que é demais ou irrealista? E desistindo de querer, não definharemos, não nos votaremos ao exílio no meio da multidão para com ela seguir os destinos já comprovados?

Onde, em que momento, passamos de aproveitar para nos resignar, de abraçar para nos deixarmos só estar no colo, de viver para ir vivendo?

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