sexta-feira, novembro 09, 2012

Infinitivos

A evitar cair na mediocridade. A ter noção de que está nas minhas mãos. A querer mais, mais, mais! e a saber que me cabe mesmo não sabendo exactamente o quê ou como. A não querer um dia olhar para trás e perceber que fiquei áquem de mim mesma. A combater o medo e a insegurança de menina pequena encolhida no chão, abraçada às pernas, como me vi um dia sozinha na sala de brinquedos do infantário, enquanto os outros meninos dormiam a sesta, porque eu era a menina que nunca queria fechar os olhos, que ansiava absorver a vida e o mundo a cada segundo, que não queria perder pitada de nada, que via a noite como um desperdício de tempo e o sono como uma dormência, uma espécie de coma que nos retirava da vida, mas que também era a menina que temia os olhos de vidros dos bonecos tão grandes à sua volta, que pareciam alimentar-se do silêncio daquela sala para se movimentar, e a remetiam a um canto no chão, atenta, de olhos bem abertos mas encolhida abraçada às pernas. A ficar cansada da "mesmice". A sentir uma alma grande demais para este corpo. A querer que ela extravase, derrube os limites, que seja grande, do tamanho que acho que é, que seja mais e melhor, que evolua, que cresça. A acreditar - ainda que por pura fé - que viemos a este mundo para aprender e para nos superarmos e que devemos olhar as adversidades como uma prova, um desafio que o universo nos está a enviar para que percebamos o que temos que mudar em nós. A acreditar também no liberum arbitrium, cada um fará com esse desafio o que quiser, aceita-lo-á ou não, e a querer efectivá-lo em mim e vencê-lo. A sacudir a frustração. A aninhar-me no colo do amor e da amizade para recuperar as forças quando o mundo parece pesar demais nos ombros. A limpar as lágrimas no fim da peça, não por achar que não posso chorar, que não devo chorar, que devo simplesmente seguir, deixando o choro retido para trás, mas justamente porque lhe quero dar a mão, acolher para que me acolha também e me limpe, libertando-o sem condicionantes, no meu canto, sem ter que o sujeitar a dar explicações. A olhar para o espelho, para os olhos tristes que parecem pendurar o peso da alma, e a buscar no fundo deles a centelha que denuncia que o brilho não se foi, aguarda apenas que se lhe destape o véu. A tentar dominar a preguiça mental que se espalha no terreno fértil da rotina. A agarrar com as duas mãos a mordacidade que ainda subsiste para a confinar, subjugar, recusando-me a dar-lhe tempo e espaço que se vejam desprevenidos. A moldar-me devagarinho...

A não querer ser outra, a querer ser a mesma, não a mesma que sou mas a mesma que posso ser.

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