"A Vanda, que trabalhava na cozinha do Hospital, descobriu há dois anos que tinha um cancro. A vida parou. Mas ela decidiu não parar. Pelo contrário, decidiu acelerar. Vou aproveitar a vida ao máximo, dizia. Como se o máximo estivesse naquilo que nós queremos e não naquilo que é uma vida com o máximo sentido. Por isso decidiu deixar o emprego, deixar o marido e os filhos, deixar a vida do dia-a-dia. Sempre que o tempo o permitia, passava-o junto à piscina. Quando vinha a noite, e se esta lho permitisse, passava-a na noite. Juntou-se, e com ela o seu corpo, a outro homem, um médico lá do hospital. Afastou-se dos amigos e não quis saber nem o que eles nem o que o comum dos mortais pudessem pensar ou dizer. Mesmo os filhos. Mesmo o marido.
Há dois meses, porém, a Vanda iniciou uma fase terminal. E o João, que era o marido, sem mas nem meio mas, foi buscá-la para casa, para morrer junto dos que eram verdadeiramente dela e a amavam. Ele e os filhos. A Vanda acabou por falecer nos braços do grande amor que o João lhe tinha. Um amor que não se importou com a sua queda, com o seu pecado, com o seu virar de costas, com a sua escolha. É assim o verdadeiro amor que não olha senão para a pessoa que escolheu amar, que a ama porque isso lhe sai do coração e não porque saia de qualquer interesse ou contrapartida (...)."
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