quinta-feira, maio 07, 2015

Avó C.

























Quase não a conheci, sou a 13ª de 13 netos.  Não sei se as memórias que tenho dela são reais ou fabricadas a partir do que fui ouvindo ao longo da vida. Hoje, esta fotografia tipo-passe, tirada no fotógrafo da sua vila nortenha a determinada altura da sua vida, veio-me parar às mãos.

Dizem que foi uma mulher de fibra.
(Dizem que tinha mau feitio.)
Dizem que era alegre, risonha e provocadora, não poupando as irmãs mais velhas, mais sisudas, às suas graças e gozos.
(Dizem que era sarcástica.)
Dizem que dizia com orgulho: trabalho fora de casa por isso não trabalho dentro - era professora.
(Dizem que depois controlava o que as noras andavam a fazer e exigia perfeição e horas de refeição certas, sendo que se recusava sequer a estrelar um ovo.)
Dizem que tinha um orgulho imenso nos filhos.
(Dizem que achava sempre que nenhuma mulher estava, por isso, suficientemente à altura deles e não se coibia de o (lhes) mostrar sempre que lhe apetecia.)
Dizem que cheirava a verbena e que deixava um rasto leve do seu perfume por onde passava, vaporosa e elegante, de lenços ou estolas.
(Dizem que era arrogante e crítica e exigente.)
Dizem que, apesar de pequena, dominava qualquer espaço onde entrasse com a sua jovialidade, inteligência, graça e presença, mesmo quando já não era nova.
(Dizem que era impossível de aturar.)

...
Dizem que tenho muitos traços dela...

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