Há pouco tempo alguém me dizia que estou a chegar àquela idade em que o trigo e o joio se separam com maior clareza e facilidade. Percebo. Assumo. Se até aqui, os meus sentimentos tendiam a fechar os olhos à realidade, em nome de um histórico de relação ou dos bons velhos, sempre encontrando desculpas para situações ou atitudes com as quais não concordava e que até me magoavam, a minha visão, agora, parece menos turva.
Julgo que se prende com o grau de exigência. A idade traz-nos um grau de exigência superior em relação ao que e a quem nos rodeia. Já não estamos cá para m*****, já não nos preocupamos com o que possam pensar de nós, já não aceitamos menos do que... Porque não queremos nem precisamos.
A verdade é que a amizade, às vezes, obriga-nos a sacrifícios. Facto.
Eu estou disposta a fazê-los e faço-os. Facto.
Não posso nem quero esperar menos de quem se diz meu amigo. Outro facto.
Se é certo que, num primeiro momento, assumir a desilusão cá dentro dói e não é pouco - até parece que morreu alguém, e morreu mesmo, pelo menos um bocadinho da ideia que tínhamos como certa desse alguém - no momento seguinte, a serenidade de perceber que já só aceitamos o amor e a amizade que também damos, e não menos, instala-se. E acomoda-se. E estica-se no nosso sofá, de pés descalços, a usufruir da fresca numa noite de Verão que vem da janela escancarada para a rua.
Amo os meus amigos. Amo as pessoas que fazem parte da minha vida que, aliás, só têm o privilégio de deter esse lugar porque fizeram por merecê-lo e merecer o meu amor. Amo-as verdadeiramente. Só que agora amo-as ao ponto de não aceitar que sejam menos do que podem ser, menos do que me fez amá-las.
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