Liguei-lhe sem saber bem o que esperar. Desde que o diagnóstico foi conhecido, que tento, à medida que a doença galopa, adequar-me ao estado que se vai apresentando, que pode até mudar de um dia para o outro. Às vezes dizem: não vale a pena, amanhã não se vai lembrar: mas cada vez mais me convenço que a memória, a recordação é, decididamente, sobrevalorizada. Insisto: não me interessa. Hoje, enquanto vive, sente, mesmo que depois apague o que sentiu do cérebro, acredito que o mantenha no coração.
Feliz aniversário, disse eu, e do outro lado um gaguejante obrigado representativo da surpresa que lhe estava a causar o facto anunciado, embora tenha a certeza de não ter sido a primeira pessoa a fazê-lo naquele dia. Mas não se desmanchou e, agradada, disse: obrigado, obrigado, pois, não sei se vou jantar fora, pois, acho que já não me lembro bem de quantos anos faço, obrigado.
Despeço-me com um "que continue a ter um dia bom" e ouço: tu também. Aliás, não só hoje! Que tenhas todos, todos, todos os dias muito bons daqui para a frente!
O amor não precisa da cabeça para nada...
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