segunda-feira, junho 04, 2018

Primeira visita...

























Quero lá saber. E hei-de ir mais, sim, de noite, de dia, com gente, quase vazia, não me interessa. Tenho a conta a zeros (mais propriamente a 2.66€...) - coisa que não me acontecia desde a adolescência e sempre por boas razões (copos, tabaco, saídas à noite, etc...) - mas não quero saber. A Feira sabe-me a mim. 

À Feira, para mim, vai-se de metro. E o agasalho que se leva tem que ser passível de se atar à cintura porque os braços hão-de vir carregados. E começa-se de baixo para cima, do lado esquerdo, voltando-se a descer pelo mesmo passeio para apanhar as barraquinhas mais próximas do jardim central. Só depois se atravessa o parque. E anda-se aos ziguezagues entre barracas. E espreitam-se os livros do dia para bons preços e as laterais das estruturas porque lá há sempre livros diferentes. Perco-me nos livros infantis a admirar o que hoje se faz para chamar os miúdos à leitura. E imagino quantos me daria prazer comprar só porque são bons... E lembro-me de mim a "cheirar" todas as prateleiras para encontrar aquele número daquela colecção ou a decidir que livros levaria para casa, do número reduzido que me era permitido escolher cada vez que lá íamos. Porque não havia, seguramente, dinheiro para todos os que queria. Como hoje continua a não haver... E lembro-me da progenitora embora o leitor mais voraz até fosse o progenitor. Mas não tinha paciência para multidões e grandes caminhadas. Se nos acompanhava, ficava-se com o jornal ou um livro numa qualquer esplanada das redondezas até termos feito a nossa ronda. 

E tem que haver sol q.b. e farturas e autores por lá a autografar e programa das festas anunciado pelos altifalantes. E tem que se parar para café tomado em qualquer banco do jardim e tenho que me perder em contracapas como me acontece quando consulto uma enciclopédia: vou à procura de coisa ou facto e, quando dou por mim, já vou páginas e páginas à frente, tendo pulado de assunto em assunto porque uns remetem para os outros... Tem que cheirar a pipocas.

Nos últimos anos, perco-me mais entre sinopses por isso a visita às barraquinhas do lado direito adia-se para a segunda vez. À terceira ida vai-se pelo passeio. Nessa altura, os bolsos estão mais que esfarrapados e a consciência de que não terei tempo de vida útil para ler tudo o que levei e quero levar calca-se-me na mente de forma mais marcante. E eu aceito e sei que assim é porque o desejo já foi satisfeito. É sempre mais fácil aceitar ordens de dieta de barriga cheia...

Estes são os da primeira visita. Cada um por razão diferente que só a mim interessa. E já estou ansiando a hora de os abrir...

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