sábado, outubro 18, 2008

A criança que ainda existe em mim ou o adiantado da hora não me está a fazer nada bem...

Quando era mais nova, ouvia os adultos falar do mundo cão que era o mundo do trabalho. A imagem que se criou então na minha cabeça envolvia colegas de olho matreiro, a espiarem-se uns aos outros, a ouvir telefonemas, a espreitar por cima do ombro, à espera da melhor oportunidade para nos passar a perna. A competição era feroz e tudo valia para cair nas boas graças dos chefes mesmo que, para isso, fosse preciso apunhalar uns quantos menos atentos pelas costas.

Portanto, quando comecei a trabalhar, fui com o pé muito, mas muito atrás. Só que tive sorte. No meu primeiro emprego encontrei gente da minha idade, uns ainda a tirar o curso, que queriam era aproveitar a vida. Faziamos o nosso trabalho e depois era só pensar nas almoçaradas, jantaradas e noites de copos. Uma animação!

Mais tarde, sim, vim a encontrar um ambiente um pouco mais hostil. Mas nada do que imaginava em pequena. A verdade é que lá fui sobrevivendo até hoje sem grandes mossas.

Mas o mundo do trabalho tem, de facto, que se lhe diga. Sim, existem sacanices, sim, há pessoas más e pessoas boas, sim, a competição pode tornar o ser mais inofensivo em algo mais parecido com um leão esfomeado, mas, hoje em dia, não é nenhum desses aspectos que me incomoda. É sim a barreira que nós, todos, por sentirmos que temos que ir preparados para a guerra quando vamos trabalhar, levantamos à nossa volta. Barreira essa que nos impede de ser genuínos e de nos darmos aos outros, de forma verdadeira. Temos sempre uma luz interna e intermitente a avisar para irmos com cuidado, para não nos expormos, para separarmos bem o trabalho do resto e isso, mal ou bem, impede-nos de nos dar a conhecer e conhecer as pessoas que nos rodeiam a maior parte do dia. Com o tempo, a convivência, vamos baixando a guarda com algumas e conseguimos até fazer alguns amigos. Mas não é fácil, nada fácil. E incomoda-me.

Pergunto, por isso, de que temos medo exactamente? Das cusquices, da má lingua? Das segundas intenções? Do que possam pensar de nós? De ficarmos expostos e por isso supostamente vulneráveis? De que temos tanto medo nós, adultos, profissionais, pessoas supostamente crescidas e seguras, que nos impede de gostar dos outros, deixar que gostem de nós e, simplesmente, tal como é natural com os miúdos, arranjar novos amigos com quem brincar?

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