sexta-feira, dezembro 05, 2008

"Pode passar pra lavar, faz favor"

A relação que tenho com a minha cabeleireira dura já há alguns anos. Era a cabeleireira da minha mãe e um dia eu precisei de alguém que me desse conta, com jeito, da realíssima trunfa que me caía pelas costas. Era adolescente, queria contrariar a minha progenitora que nunca gostou de cabelos compridos e que nunca se coibiu, apesar dos meus lamentos, de fazer de conta que não me ouvia e pedir para cortar como bem lhe apetecia. A desculpa era sempre a mesma: "é para fortalecer". Um belo dia, já senhora do meu nariz, disse "não! basta!" e decidi não o cortar por um bom tempo. Resultado: comecei a ser abordada na rua para integrar bandas de heavy metal... ok, não foi bem assim mas podia ter sido porque o dito já metia respeito. Só que, claro, tudo tem um fim e vai daí, após 2 anos de teima, lá me decidi a dar-lhe um jeito.

E é aqui que entra a P., moça na casa dos 30 na altura, toda despachada e moderna. Desde então, e sendo que ela até atinou com um corte decente para a moldura da cara "meia-encaracolada-meia-lisa-tem-dias-assim-assim" que é a minha, lá tenho frequentado o seu salão.

Hoje, passados estes anos, começo-me a fartar um bocado. Não que ela não seja boa moça e que não corte bem mas parece que não tem evoluído muito no que diz respeito às cabeleiras. Lá vai fazendo o básico mas é aquilo e não sai muito dali. Eu tenho vontade de experimentar algo diferente mas cada vez que lhe proponho ela diz "não, este cabelo é muito difícil, tem jeitos, não é qualquer coisa que lhe fica bem" e pronto, voltamos ao mesmo. Portanto, por ali não consigo nada logo só me resta tentar outra pessoa.

Só que há um pequeno problema... ela não lida bem com as infidelidades... já aconteceu, por motivos logísticos, ir cortar o cabelo a outro lado e, quando lá voltei, comentei que não tinha gostado e ela respondeu: quem lhe manda ir mijar fora do penico?!? (é que foi mesmo assim...) Riu-se mas eu percebi que era um riso despeitado, quase cínico até... tive algum medo, confesso, até porque ela tinha uma tesoura na mão... Em conversa com duas amigas, contei-lhes o problema e elas concluiram e bem: sou "prisioneira" da P., a cabeleireira profissional!

O que fazer então? Cortar com ela radicalmente? Acabar de vez com o domínio que ela exerce em mim e aventurar-me noutras mãos? E depois, se não correr bem? Como voltar? Aceitará ela o meu perdão? Dar-me-á novamente a possibilidade de me sentar na sua cadeira de napa (daquelas que sobe e desce, sempre a mesma) e hidratar-me as pontas secas com a mesma dedicação de sempre?

Ontem, pensei nisso o tempo todo enquanto o secador voava à roda da minha cabeça. No fim, olho-me ao espelho, observo o meu penteado, e verifico, como sempre, que a artista, sem grande dificuldade, consegue-me por a parecer ter 50 e picos. Saio, trato de "acachapar" o dito para o tornar minimamente normal e sigo para casa a pensar que, se calhar, ainda não é desta que a dispenso...

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