Sempre me perguntei porque nunca me tinham pedido a opinião sobre um qualquer assunto naquelas reportagens de rua que aparecem nos telejornais. Sempre me perguntei porque é que o destino nunca me colocou na mira dos jornalistas em plena Baixa ou Av. da República para ser questionada sobre o que acho do estado da nação ou se vou gastar mais ou menos nas prendas de Natal.
O mais certo é terem pressentido que não iria querer responder. A verdade é que dou por mim a ouvir as respostas dos anónimos apanhados desprevenidos, e a pensar no que diria se fosse eu. Mas logo a seguir tomo consciência da vergonha que sinto ao ouvir algumas considerações desses cidadãos incautos e começo a temer fazer a mesma figurinha... Ora, figuras triste eu já faço sem me condicionarem para tal, não há necessidade de o divulgar para todo o país que ainda alguém se engasga a comer a sopa enquanto me ouve.
Mas hoje... hoje!, pela primeira vez na vida, fui abordada para dar o meu testemunho! É verdade, ia eu muito bem na minha vidinha quando alguém se aproxima a perguntar:
- A senhora trabalha aqui? É que sou da SIC e ando a fazer uma reportagem...
Opá, até brilhei! Já me estava a ver a usufruir em pleno da oportunidade de me pronunciar sobre as mais variadas temáticas e partilhar o meu vasto conhecimento e reconhecido bom senso com todos os portugueses à hora do jantar e, quiçá!, contribuir assim para uma sociedade mais esclarecida ou, pelo menos, para uma sociedade que questiona, que abre a sua mente para ouvir outras perspectivas, que deixa que essas outras perspectivas a façam pensar... senti-me como que numa missão..!
Passada apenas uma pequena fracção de segundos, desci à terra. Sorri educadamente, disse "não, muito obrigado" e segui o meu caminho... e o doente mental que me tinha abordado seguiu o seu que certamente já estava atrasado para tomar os comprimidos.
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